São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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OPOSIÇÃO PRAGMÁTICA

Derrotado na prévia, atual governador gaúcho deve ter seu final de gestão ainda mais esvaziado

Tarso bate Olívio no Sul e se projeta no PT

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, derrotou numa disputa apertada o governador do Estado, Olívio Dutra, na prévia mais polarizada do PT. A vitória de Tarso o projeta como nova virtual liderança nacional do partido, a ser confirmada nas eleições, e esvazia o já fragilizado governo de Olívio Dutra, abalado por denúncias de conivência com o jogo do bicho.
Os resultados oficiais da prévia gaúcha saíram no final da tarde de ontem: Tarso teve 1.058 votos de vantagem. O prefeito recebeu 18.164 (51,4%) votos, contra 17.106 (48,6%) de Olívio.
Com o resultado, Tarso dá um enorme passo para integrar o rol dos presidenciáveis petistas para eleições futuras. É visto na cúpula partidária como articulado, moderado e negociador, o que o coloca em condições de substituir Luiz Inácio Lula da Silva, caso este não se eleja agora.
Tudo, no entanto, passa pela vitória do prefeito na eleição de outubro. Se Tarso perder, será responsabilizado pessoalmente pela derrota do projeto petista no Rio Grande do Sul. Ele também terá de mostrar habilidade na campanha para defender um projeto de governo -o de Olívio Dutra- que acaba de derrotar.
Na direção nacional do partido, avalia-se que Olívio cometeu erros primários durante seu mandato, que elevaram sua taxa de rejeição e o fizeram perder a prévia dentro do partido. Não soube construir a unidade do partido, alienou possíveis aliados na Assembléia Legislativa e foi inábil ao negociar com empresários.

Unidade
Os discursos de Tarso e de Olívio, depois das prévias, foram pela ""unidade" -palavra utilizada diversas vezes pelos dois.
Tarso e Olívio têm divergências antigas sobre a forma de governar e representam grupos diferentes no PT. No atual governo, a tendência hegemônica, a DS (Democracia Socialista), foi acusada de centralizar "excessivamente" o poder, sem dar espaço para as outras correntes do partido. Representantes da Democracia Socialista negam a acusação.
Representantes das correntes que apoiaram os dois pré-candidatos também disseram para a Agência Folha ver em Tarso a possibilidade de unir o partido, o que não ocorreria tão facilmente caso fosse Olívio o candidato à reeleição. ""É a culminância de um processo rico, que instigou o partido e nos faz refletir sobre o nosso governo para preparar o segundo mandato", disse Olívio.
""Eu nunca havia participado de um debate tão qualificado. O projeto que representamos sai profundamente fortalecido. Não há dirigentes "a", "b" ou "c". Todos são companheiros de partido", afirmou Tarso.
O presidente estadual do PT, David Stival, afirmou que Tarso era mais indicado do que Olívio para essa missão, pois terá de compor com a tendência majoritária no atual governo, a DS. Se Olívio fosse o candidato, era provável que a divisão de forças internas ficasse inalterada.
Stival integra a tendência Articulação de Esquerda, que apoiou Olívio nas prévias. Durante todo o período, porém, manteve o discurso segundo o qual o melhor candidato seria o que tivesse mais chances. Esse ponto de vista foi decisivo na votação de anteontem: os militantes independentes levaram em consideração o provável índice de rejeição de Olívio.
Tarso confirmou para a Agência Folha que há uma reaproximação entre ele e o governador.


Colaborou a Reportagem Local



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