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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Fazendeiros acampam para vigiar sem-terra

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Proprietários rurais gaúchos das regiões da Fronteira Oeste e da Campanha instalaram uma espécie de acampamento rotativo com o objetivo único de vigiar os sem-terra alojados no assentamento Nossa Senhora da Conceição, em Santana do Livramento -cidade localizada a 488 km de Porto Alegre, que faz divisa com a uruguaia Rivera.
Dizendo-se desarmados, os ruralistas se revezam (a cada dia, representantes de uma cidade) e permanecem em uma barraca laranja com a bandeira do Brasil.
A barraca ruralista foi instalada a 1,5 km do acampamento sem-terra -e os dois estão a cerca de 38 km do centro de Santana do Livramento.
As cidades que participam do acampamento são Bagé, Santana do Livramento, Dom Pedrito, Rosário do Sul, Alegrete, Quaraí e São Gabriel. Ontem, o acampamento foi de Dom Pedrito. Hoje, de Bagé. Amanhã, será de Livramento. Há cerca de 30 pessoas em torno da barraca, incluindo crianças e mulheres.
A Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha) monitora a situação à distância, com 12 policiais.
O comandante Lauro Binsfeld define o trabalho como preventivo, pois não acredita que ocorra algum conflito entre ruralistas e sem-terra.
Novas vistorias a serem realizadas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que já foram anunciadas pelo ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), podem, porém, promover a retomada de milícias formadas por proprietários rurais no Estado.
"Caso se reiniciem as vistorias, tentaremos coibi-las", disse Gedeão Pereira, presidente da Comissão Fundiária da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul).
Durante o governo do atual ministro das Cidades, Olívio Dutra (PT), no Estado, a Farsul acusou as forças públicas de conivência com os sem-terra. As invasões, segundo a Farsul, eram toleradas. O vice-governador, na época, era o próprio Rossetto, integrante da DS (Democracia Socialista), a tendência mais representativa dos radicais do PT.
No último final de semana, ruralistas da fronteira com o Uruguai se reuniram para discutir a ameaça das vistorias e de novas invasões, após o encerramento da trégua que teria havido entre o governo e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Os encontros ocorreram no sábado e no domingo.
"O novo Código Civil manteve o direito de o produtor defender sua propriedade, e não vamos engolir sapos. Mas acho que o governo atual [do peemedebista Germano Rigotto] colocará a Brigada Militar para nos defender", afirmou o presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito, José Roberto Weber.
A disputa agrária e as invasões de prédios e propriedades rurais se agudizaram de tal maneira no Estado que, em 2001, cerca de 400 grandes proprietários montaram uma milícia armada própria, para trabalhar à margem da polícia.
A milícia chegou a impedir que o Incra vistoriasse algumas fazendas. Em São Gabriel, os ruralistas bloquearam com 200 carros a entrada de uma propriedade. Os dois carros do Incra tiveram pneus furados.


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