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Fazendeiros acampam para vigiar sem-terra
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Proprietários rurais gaúchos
das regiões da Fronteira Oeste e
da Campanha instalaram uma espécie de acampamento rotativo
com o objetivo único de vigiar os
sem-terra alojados no assentamento Nossa Senhora da Conceição, em Santana do Livramento
-cidade localizada a 488 km de
Porto Alegre, que faz divisa com a
uruguaia Rivera.
Dizendo-se desarmados, os ruralistas se revezam (a cada dia, representantes de uma cidade) e
permanecem em uma barraca laranja com a bandeira do Brasil.
A barraca ruralista foi instalada
a 1,5 km do acampamento sem-terra -e os dois estão a cerca de
38 km do centro de Santana do Livramento.
As cidades que participam do
acampamento são Bagé, Santana
do Livramento, Dom Pedrito, Rosário do Sul, Alegrete, Quaraí e
São Gabriel. Ontem, o acampamento foi de Dom Pedrito. Hoje,
de Bagé. Amanhã, será de Livramento. Há cerca de 30 pessoas em
torno da barraca, incluindo crianças e mulheres.
A Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha) monitora a situação
à distância, com 12 policiais.
O comandante Lauro Binsfeld
define o trabalho como preventivo, pois não acredita que ocorra
algum conflito entre ruralistas e
sem-terra.
Novas vistorias a serem realizadas pelo Incra (Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária), que já foram anunciadas pelo
ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), podem, porém, promover a retomada de milícias formadas por proprietários
rurais no Estado.
"Caso se reiniciem as vistorias,
tentaremos coibi-las", disse Gedeão Pereira, presidente da Comissão Fundiária da Farsul (Federação da Agricultura do Rio
Grande do Sul).
Durante o governo do atual ministro das Cidades, Olívio Dutra
(PT), no Estado, a Farsul acusou
as forças públicas de conivência
com os sem-terra. As invasões, segundo a Farsul, eram toleradas. O
vice-governador, na época, era o
próprio Rossetto, integrante da
DS (Democracia Socialista), a tendência mais representativa dos
radicais do PT.
No último final de semana, ruralistas da fronteira com o Uruguai se reuniram para discutir a
ameaça das vistorias e de novas
invasões, após o encerramento da
trégua que teria havido entre o
governo e o MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra). Os encontros ocorreram
no sábado e no domingo.
"O novo Código Civil manteve o
direito de o produtor defender
sua propriedade, e não vamos engolir sapos. Mas acho que o governo atual [do peemedebista Germano Rigotto] colocará a Brigada Militar para nos defender",
afirmou o presidente do Sindicato
Rural de Dom Pedrito, José Roberto Weber.
A disputa agrária e as invasões
de prédios e propriedades rurais
se agudizaram de tal maneira no
Estado que, em 2001, cerca de 400
grandes proprietários montaram
uma milícia armada própria, para
trabalhar à margem da polícia.
A milícia chegou a impedir que
o Incra vistoriasse algumas fazendas. Em São Gabriel, os ruralistas
bloquearam com 200 carros a entrada de uma propriedade. Os
dois carros do Incra tiveram pneus furados.
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