São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS

Ruy Barquete, ligado à chamada "república de Ribeirão", é diretor da Diebold Procomp, que tem contrato de R$ 213 mi com a Caixa

Fornecedora da CEF emprega irmão de lobista

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mais desconhecido dos integrantes da chamada república de Ribeirão Preto, o engenheiro Ruy Barquete Santos, trabalha numa empresa de informática que venceu uma das maiores concorrências da história da Caixa Econômica Federal. Ruy é diretor da Diebold Procomp, que, em consórcio com o Bradesco, fornece os 25 mil terminais que estão sendo instalados em 9.000 lotéricas no país. A Caixa pagará R$ 212,9 milhões pelo arrendamento das novas máquinas por 48 meses.
Ruy é irmão de Ralf Barquete Santos, secretário da Fazenda de Ribeirão Preto quando Antonio Palocci estava à frente da prefeitura pela segunda vez (2001-2002) e assessor da presidência da Caixa até junho de 2004, quando morreu de câncer.
Ralf foi o assessor designado por Palocci para receber a mesada mensal de R$ 50 mil que a empreiteira Leão Leão pagava ao PT, segundo o advogado Rogério Buratti. O ministro negou com veemência que tenha recebido a propina. Foi Ralf também que alugou a casa em Brasília usada pelo grupo de Ribeirão Preto para fazer negócios e festas.

Freqüentador assíduo
O papel de Ruy na república de Ribeirão ganhou um novo contorno depois do depoimento do motorista Francisco das Chagas Santos, que prestava serviços para o grupo. Segundo o motorista, ele era um dos freqüentadores mais assíduos da casa que o grupo alugou em Brasília.
Uma conversa telefônica entre Buratti e o economista Vladimir Poleto, gravada pela polícia com autorização judicial, sugere que Ruy e o ministro Palocci podem ter se encontrado. No dia 29 de junho de 2004, Poleto diz que Ruy tem um encontro com o "chefão". Chefe e chefão eram os codinomes usados pelo grupo para designar Palocci.
Um empresário desse grupo contou à Folha, sob a condição de que seu nome não fosse revelado, que Ruy fazia lobby para a Diebold Procomp junto a bancos federais, como o Banco do Brasil, e para órgãos do governo.
A Diebold Procomp tem uma forte inserção no mercado privado (detém cerca de 60% do segmento de automação bancária, segundo a própria empresa) e tem negócios importantes com o governo. Ela fornece equipamentos para o Banco do Brasil e a Caixa e fabrica as urnas eletrônicas usadas nas eleições.
A CPI dos Bingos reuniu indícios de que a Diebold Procomp teve algum papel no processo de renovação do contrato de R$ 650 milhões da Caixa com a Gtech, ainda não esclarecido. Entre fevereiro de 2002 e fevereiro de 2003, o presidente da Diebold Procomp, João Abud Júnior, e Ralf trocaram 161 telefonemas, segundo dados da comissão. Em depoimento à PF, em novembro de 2005, Abud Júnior disse que não teve relação com o contrato da GTech.
Os terminais do consórcio Diebold Procomp/Bradesco vão substituir a rede montada em lotéricas pela GTech, empresa investigada pela CPI dos Bingos sob a suspeita de ter pago propina para renovar um contrato de R$ 650 milhões com a Caixa, em 2003.
Ralf também indicou Buratti, segundo ele próprio, para negociar com a GTech quando notou que a empresa mantinha negociações com Waldomiro Diniz, ex-assessor do então ministro José Dirceu, da Casa Civil.
Na interpretação de Buratti, Ralf não suportou a idéia de presenciar, como assessor da presidência da Caixa, as abordagens que o grupo de José Dirceu fazia para que a GTech conseguisse renovar um contrato de R$ 650 milhões. Dirceu integrava um grupo de oposição a Palocci até ser afastado da Casa Civil do governo Lula, em junho do ano passado.
Palocci, de acordo com Buratti, vetou interferências do seu protegido nas negociações.
Numa guerra de versões, a GTech diz que Buratti tentou extorquir R$ 6 milhões da empresa, enquanto o advogado afirma que a empresa americana ofereceu de R$ 500 mil a R$ 16 milhões pela renovação do contrato.
A Caixa queria desmembrar os serviços que a GTech presta (terminais para as lotéricas, sistema de transmissão de dados e manutenção, entre outros).
Só em setembro de 2004, com uma vitória no STJ (Superior Tribunal de Justiça), o governo conseguiu remover os empecilhos que impediam a divisão da concorrência.


Colaborou ROGÉRIO PAGNAN,
da Folha Ribeirão


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