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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS
Ruy Barquete, ligado à chamada "república de Ribeirão", é diretor da Diebold Procomp, que tem contrato de R$ 213 mi com a Caixa
Fornecedora da CEF emprega irmão de lobista
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O mais desconhecido dos integrantes da chamada república de
Ribeirão Preto, o engenheiro Ruy
Barquete Santos, trabalha numa
empresa de informática que venceu uma das maiores concorrências da história da Caixa Econômica Federal. Ruy é diretor da
Diebold Procomp, que, em consórcio com o Bradesco, fornece os
25 mil terminais que estão sendo
instalados em 9.000 lotéricas no
país. A Caixa pagará R$ 212,9 milhões pelo arrendamento das novas máquinas por 48 meses.
Ruy é irmão de Ralf Barquete
Santos, secretário da Fazenda de
Ribeirão Preto quando Antonio
Palocci estava à frente da prefeitura pela segunda vez (2001-2002) e
assessor da presidência da Caixa
até junho de 2004, quando morreu de câncer.
Ralf foi o assessor designado
por Palocci para receber a mesada
mensal de R$ 50 mil que a empreiteira Leão Leão pagava ao PT, segundo o advogado Rogério Buratti. O ministro negou com veemência que tenha recebido a propina. Foi Ralf também que alugou
a casa em Brasília usada pelo grupo de Ribeirão Preto para fazer
negócios e festas.
Freqüentador assíduo
O papel de Ruy na república de
Ribeirão ganhou um novo contorno depois do depoimento do
motorista Francisco das Chagas
Santos, que prestava serviços para
o grupo. Segundo o motorista, ele
era um dos freqüentadores mais
assíduos da casa que o grupo alugou em Brasília.
Uma conversa telefônica entre
Buratti e o economista Vladimir
Poleto, gravada pela polícia com
autorização judicial, sugere que
Ruy e o ministro Palocci podem
ter se encontrado. No dia 29 de junho de 2004, Poleto diz que Ruy
tem um encontro com o "chefão".
Chefe e chefão eram os codinomes usados pelo grupo para designar Palocci.
Um empresário desse grupo
contou à Folha, sob a condição de
que seu nome não fosse revelado,
que Ruy fazia lobby para a Diebold Procomp junto a bancos federais, como o Banco do Brasil, e
para órgãos do governo.
A Diebold Procomp tem uma
forte inserção no mercado privado (detém cerca de 60% do segmento de automação bancária,
segundo a própria empresa) e tem
negócios importantes com o governo. Ela fornece equipamentos
para o Banco do Brasil e a Caixa e
fabrica as urnas eletrônicas usadas nas eleições.
A CPI dos Bingos reuniu indícios de que a Diebold Procomp teve algum papel no processo de renovação do contrato de R$ 650
milhões da Caixa com a Gtech,
ainda não esclarecido. Entre fevereiro de 2002 e fevereiro de 2003, o
presidente da Diebold Procomp,
João Abud Júnior, e Ralf trocaram
161 telefonemas, segundo dados
da comissão. Em depoimento à
PF, em novembro de 2005, Abud
Júnior disse que não teve relação
com o contrato da GTech.
Os terminais do consórcio Diebold Procomp/Bradesco vão
substituir a rede montada em lotéricas pela GTech, empresa investigada pela CPI dos Bingos sob
a suspeita de ter pago propina para renovar um contrato de R$ 650
milhões com a Caixa, em 2003.
Ralf também indicou Buratti,
segundo ele próprio, para negociar com a GTech quando notou
que a empresa mantinha negociações com Waldomiro Diniz, ex-assessor do então ministro José
Dirceu, da Casa Civil.
Na interpretação de Buratti,
Ralf não suportou a idéia de presenciar, como assessor da presidência da Caixa, as abordagens
que o grupo de José Dirceu fazia
para que a GTech conseguisse renovar um contrato de R$ 650 milhões. Dirceu integrava um grupo
de oposição a Palocci até ser afastado da Casa Civil do governo Lula, em junho do ano passado.
Palocci, de acordo com Buratti,
vetou interferências do seu protegido nas negociações.
Numa guerra de versões, a
GTech diz que Buratti tentou extorquir R$ 6 milhões da empresa,
enquanto o advogado afirma que
a empresa americana ofereceu de
R$ 500 mil a R$ 16 milhões pela
renovação do contrato.
A Caixa queria desmembrar os
serviços que a GTech presta (terminais para as lotéricas, sistema
de transmissão de dados e manutenção, entre outros).
Só em setembro de 2004, com
uma vitória no STJ (Superior Tribunal de Justiça), o governo conseguiu remover os empecilhos
que impediam a divisão da concorrência.
Colaborou ROGÉRIO PAGNAN,
da Folha Ribeirão
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