São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Senado "descobre" ter mais de 2 diretores para cada senador

Nos últimos oito anos, número de cargos de direção na Casa saltou de 32 para 181

Congressistas se disseram surpresos, mas criação de diretorias, algumas com só uma pessoa, foi aprovada por votação em plenário

ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tentativa da direção do Senado de estancar as denúncias contra a Casa acabou revelando que a instituição tem 181 diretores, 45 a mais do que havia informado um dia antes. Há diretorias para os mais diversos assuntos e até mesmo ocupadas por apenas uma pessoa.
O número inicial, de 136, já havia causado constrangimentos. "É um absurdo, ninguém sabia disso", afirmou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), até janeiro segundo-vice-presidente da Casa. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também disse que não sabia.
Apesar do "espanto" de vários senadores, eles próprios aprovaram em plenário a criação das diretorias. Para que sejam criadas é preciso votar projeto de resolução.
A Casa tem 81 senadores, o que significa mais de dois diretores para cada congressista. A assessoria do Senado não informou a razão da mudança no número informado inicialmente.
Há diretoria para tudo. Uma delas, de Administração de Residências, é mais conhecida como "diretoria de garagem" -por funcionar no subsolo de um prédio de apartamentos funcionais- e é responsável pela manutenção dos imóveis.
Há ainda a Diretoria de Coordenação de Apoio Aeroportuário, chamada informalmente de "diretoria de check in" porque tem como função auxiliar os senadores no embarque e desembarque no aeroporto de Brasília. Ou a Diretoria de Autógrafos, responsável por encaminhar a outros poderes documentos aprovados em plenário.
Há casos de diretores que não coordenam nenhuma equipe, são diretores de si mesmos. Um exemplo é Pedro Luiz Rodrigues, que se tornou diretor da secretaria de Relações Institucionais por um ato de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado em 2005. Por ser diretor, ele ganha adicional de salário, além do status.
E também as diretorias de Redação da Ordem do Dia, que prepara votações, e da Coordenação de Rádios em Ondas Curtas, que faz programa de rádio voltado às regiões rurais.
Nos últimos oito, saltou de 32 para 181 o número de cargos de direção. Até 2001 eram só 32, mas uma decisão do então presidente da Casa e atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), aliado de Sarney, abriu caminho para a criação de mais 149 diretorias.
Lobão comandou o Senado por apenas um mês em 2001, com a renúncia de Jader Barbalho (PMDB-PA), até a eleição de Ramez Tebet. Um de seus primeiros atos foi transformar a subsecretaria de recursos humanos em secretaria, o que deu status de diretor a João Carlos Zoghibi. O servidor deixou o cargo na semana passada após denúncia de que cedeu apartamento do Senado para seu filho, depois de 15 anos.
A partir dessa decisão, outros subsecretários também conseguiram transformar seus cargos em secretaria e virar diretor. Até mesmo funcionários não concursados têm cargo de diretor. A Folha encontrou 29 na lista divulgada pelo Senado.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Planalto intervém em crise no Senado, que anuncia reforma
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.