São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 2005

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HISTÓRIA

Médico disse ter alterado laudo sobre a doença do presidente eleito em 1985

Aécio critica nova versão sobre morte de Tancredo

MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO

Governador de Minas Gerais e neto de Tancredo Neves, Aécio Neves (PSDB), criticou ontem declarações de médicos que contestaram a versão oficial sobre a doença que provocou a morte de seu avô, primeiro civil eleito presidente depois da ditadura militar (1964-1985). As afirmações que motivaram as reações de Aécio foram exibidas no "Fantástico", da TV Globo, anteontem.
Tancredo morreu em 21 de abril de 1985, pouco mais de três meses após ter sido eleito pelo Colégio Eleitoral. Na reportagem de anteontem, o patologista Élcio Mizziara, de Brasília, diz ter emitido um laudo com informações falsas a respeito da saúde do presidente eleito, a fim, segundo disse, de não alarmar a população sobre "o medo de que não tenhamos a posse do presidente".
Segundo Mizziara, se divulgasse o tumor benigno de Tancredo antes da posse, a população acharia que ele morreria de câncer. Mizziara afirmou ter justificado assim sua atitude: "Eu não posso fazer uma coisa que contraria o código de ética médica, mas, considerando a situação atual, o medo de que não tenhamos a posse do presidente (...) eu faço um outro laudo. Em vez de dizer que ele tem leiomioma infectado [tumor benigno], vou colocar diverticulite aguda temporária."
Sobre o caso, Aécio afirmou que "a matéria publicada ontem [anteontem] me encheu de indignação e perplexidade, com aleivosias absolutamente fora do contexto e que, de alguma forma, deturparam o que aconteceu".
O governador mineiro esteve ontem à noite no programa "Roda Viva", da TV Cultura, e disse "que não é médico" e que não iria entrar em detalhes sobre a morte do avô, mas que repudia a versão de que Tancredo vinha se automedicando há um ano, conforme afirmou o médico George Washington Cunha, no "Fantástico".
Cunha afirmou que Tancredo estava doente já havia um ano e que tomava, por conta própria, seis medicamentos durante as crises, receitados por um farmacêutico em São João Del Rey, em Minas Gerais.
Outros membros da família de Tancredo também se manifestaram ontem. Em nota divulgada pelo "Jornal Nacional", filhos de Tancredo disseram que a acusação de Cunha "beira o ridículo".
A família disse lamentar também as informações do infectologista David Uip, segundo quem o presidente eleito chegou ao hospital de Base, em Brasília, com poucas chances de recuperação.
"Ele tinha uma possibilidade de sobrevida muito limitada, mesmo antes da cirurgia. Ele era um paciente de alto risco já ao chegar ao Hospital de Base de Brasília".
A reportagem do "Fantástico" revela que o presidente teria morrido por causa de um quadro desconhecido na época, a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, e não por "infecção generalizada", como dizia o laudo oficial.


Colaborou PAULO PEIXOTO da Agência Folha, em Belo Horizonte

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