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HISTÓRIA
Médico disse ter alterado laudo sobre a doença do presidente eleito em 1985
Aécio critica nova versão sobre morte de Tancredo
MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO
Governador de Minas Gerais e
neto de Tancredo Neves, Aécio
Neves (PSDB), criticou ontem declarações de médicos que contestaram a versão oficial sobre a
doença que provocou a morte de
seu avô, primeiro civil eleito presidente depois da ditadura militar
(1964-1985). As afirmações que
motivaram as reações de Aécio
foram exibidas no "Fantástico",
da TV Globo, anteontem.
Tancredo morreu em 21 de abril
de 1985, pouco mais de três meses
após ter sido eleito pelo Colégio
Eleitoral. Na reportagem de anteontem, o patologista Élcio Mizziara, de Brasília, diz ter emitido
um laudo com informações falsas
a respeito da saúde do presidente
eleito, a fim, segundo disse, de
não alarmar a população sobre "o
medo de que não tenhamos a posse do presidente".
Segundo Mizziara, se divulgasse
o tumor benigno de Tancredo antes da posse, a população acharia
que ele morreria de câncer. Mizziara afirmou ter justificado assim
sua atitude: "Eu não posso fazer
uma coisa que contraria o código
de ética médica, mas, considerando a situação atual, o medo de que
não tenhamos a posse do presidente (...) eu faço um outro laudo.
Em vez de dizer que ele tem leiomioma infectado [tumor benigno], vou colocar diverticulite aguda temporária."
Sobre o caso, Aécio afirmou que
"a matéria publicada ontem [anteontem] me encheu de indignação e perplexidade, com aleivosias absolutamente fora do contexto e que, de alguma forma, deturparam o que aconteceu".
O governador mineiro esteve
ontem à noite no programa "Roda Viva", da TV Cultura, e disse
"que não é médico" e que não iria
entrar em detalhes sobre a morte
do avô, mas que repudia a versão
de que Tancredo vinha se automedicando há um ano, conforme
afirmou o médico George Washington Cunha, no "Fantástico".
Cunha afirmou que Tancredo
estava doente já havia um ano e
que tomava, por conta própria,
seis medicamentos durante as crises, receitados por um farmacêutico em São João Del Rey, em Minas Gerais.
Outros membros da família de
Tancredo também se manifestaram ontem. Em nota divulgada
pelo "Jornal Nacional", filhos de
Tancredo disseram que a acusação de Cunha "beira o ridículo".
A família disse lamentar também as informações do infectologista David Uip, segundo quem o
presidente eleito chegou ao hospital de Base, em Brasília, com poucas chances de recuperação.
"Ele tinha uma possibilidade de
sobrevida muito limitada, mesmo
antes da cirurgia. Ele era um paciente de alto risco já ao chegar ao
Hospital de Base de Brasília".
A reportagem do "Fantástico"
revela que o presidente teria morrido por causa de um quadro desconhecido na época, a síndrome
da resposta inflamatória sistêmica, e não por "infecção generalizada", como dizia o laudo oficial.
Colaborou PAULO PEIXOTO da Agência Folha, em Belo Horizonte
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