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JANIO DE FREITAS
Assunto do dia
Os assassinatos em massa ou em série são tão aleatórios
quanto os assaltos seguidos de
morte nas cidades brasileiras
O ASSASSINATO DOS 32 jovens
nos Estados Unidos está sujeito a tornar-se o ponto inicial de uma tragédia mais numerosa
e longa no tempo. O século 20 deixou sobre os americanos o estigma
das ondas de assassinatos em massa,
a partir de um caso com projeções
mais perturbadoras para a sociedade. Por isso mesmo, a imprensa dos
Estados Unidos tem um modo particular de agir nesse assunto. Durante
alguns dias, explora com intensidade a nova comoção, mas logo devolve o assunto ao sepulcro dos temas
inconvenientes, a ponto de omitir os
casos semelhantes em que a força da
comoção imediata não tenha maior
extensão pública.
Seja por uma concepção muito
discutível de responsabilidade social da imprensa, seja por algum dos
tantos motivos menores e ridículos
que freqüentam também as Redações, aos americanos não é dado o
conhecimento devido, por exemplo,
de que nos últimos dez a 15 anos voltou a crescer, quase com regularidade anual, o número de assassinatos
em massa ou em série. Os efeitos positivos e negativos desse conhecimento são incertos, mas, em favor
da informação plena, há pelo menos
o direito da sociedade de ter conhecimento da realidade a que pertence
e que condiciona cada cidadão, seja
ela qual for. (Se estou enganado, isso
já vem de longe e não quero mudar).
Nos 15 anos entre 1970 e o início
dos anos 90, os estudos da violência
letal em massa estimam a ocorrência de cerca de 150 vitimados anuais.
Média de quase 25 crimes em massa
ano a ano. Os americanos, porém,
não têm a devida informação geral
de que os estudos já constatam o aumento do número de mortos, nos
assassinatos em massa, para duas
centenas a cada ano. O equivalente
numérico a seis massacres, a cada
ano, como o ocorrido em Virgínia
nesta semana.
Os assassinatos em massa ou em
série são tão aleatórios quanto os assaltos seguidos de morte nas cidades
brasileiras em que, pedestre ou instalado no carro ou fechado em sua
casa, ninguém sabe o que a violência
lhe reserva, ou não, no próximo minuto. A diferença entre as duas criminalidades parece ser contrária à
população americana: os matadores
em massa ou em série são portadores de problemas mentais nem sempre perceptíveis pelos circunstantes
ou pelas autoridades de segurança.
E, quando os problemas são suspeitados, nem por isso são inspiradores
do receio de tragédias.
O criminoso da violência urbana
brasileira é prévia e facilmente identificável, localizável e anulável por
prevenção (social ou policial) e, se
necessário, por repressão. Seu êxito
não se deve às particularidades que
tenha, mas às deficiências da ação
social do Estado, ou seja, dos governantes, e do organismo de segurança pública.
Lá como cá, imprensa há. Quer dizer, na imprensa o crime é visto, sobretudo, como assunto jornalístico.
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