São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Procurador suspeita de assessor de ministro

Segundo Antonio Fernando, auxiliar de Paulo Medina, do STJ, aparece como "possível intermediador na venda de decisões"

Inquérito aponta que grupo tentou se aproximar da presidente do Supremo depois que ela revogou liberação de caça-níqueis


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No inquérito da Operação Hurricane, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, solicitou diligências tendo como alvo o ministro Paulo Medina (Superior Tribunal de Justiça). O procurador escreveu que haveria indícios de que um assessor do ministro teria operado como intermediário na venda de sentenças.
"Quanto ao foco principal da presente investigação -a venda de decisões judiciais por magistrados- a interceptação das comunicações telefônicas dos envolvidos revelou a atuação constante do assessor do ministro Paulo Medina, Fernando Rodrigues, que vem aparecendo como possível intermediador na venda das decisões."
Antonio Fernando solicitou ao Supremo Tribunal Federal a quebra do sigilo telefônico do assessor do ministro do STJ, entre outras pessoas.
O próprio Paulo Medina teve seu sigilo telefônico quebrado, mas a PF não deu destaque para nenhuma das conversas. Aparentemente não há diálogos entre o ministro e emissários dos bicheiros e bingueiros.
O procurador-geral requereu busca e apreensão num escritório de advocacia de Brasília que seria usado pelo irmão do ministro, Virgílio Medina, também apontado como negociador de sentenças do ministro.
"A execução da medida de busca e apreensão no escritório [...] tem por objetivo apreender eventuais documentos ali existentes que comprovem a atuação venal do ministro Paulo Medina. Existem fundados indícios de que o citado escritório é o local, em Brasília, utilizado por Virgílio Medina para negociar decisões do seu irmão", escreveu Antonio Fernando.
No pedido de diligências e prisões preventivas ao STF, Antonio Fernando destacou que as investigações prosseguiriam, dando a entender que novas ações da PF e prisões podem ser solicitadas.
O inquérito da PF afirma também que a suposta quadrilha tentou assediar a presidente do STF, Ellen Gracie, que havia dado decisão revogando a liberação de 900 máquinas de caça-níquel em Niterói (RJ).
"A decisão exarada pela ministra presidente do STF (...) gerou uma intensa movimentação da quadrilha. O grupo agora se articula com o objetivo de solucionar as pendências junto aos tribunais superiores, tendo como estratégia buscar aproximação com magistrada presidente do STF", diz documento da PF de outubro.
A "aproximação" seria por meio de advogados ligados ao suposto esquema. A PF não faz, após isso, menção sobre possíveis desdobramentos.
Preso por suspeita de trabalhar pelos interesses da organização criminosa, o delegado da PF Carlos Pereira da Silva foi enviado no ano passado para um curso no FBI, nos EUA.

Ausente
Desde a última sexta, quando a operação se tornou pública, Medina tem faltado às sessões do STJ. Até a conclusão desta edição, o STJ não havia se manifestado sobre o tema.
Anteontem, ele foi ao gabinete, mas, diante do vazamento a jornalistas do conteúdo do inquérito do STF, optou por se recolher e preparar sua defesa, segundo o seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro.
Almeida Castro disse que o ministro "está atônito" e "muito abalado" e que, até anteontem, a maior preocupação dele era o irmão. "Ele está atônito, está se sentindo não só ofendido pelo fato de ver o nome dele dessa forma, mas até ontem [anteontem] a preocupação maior dele é com o irmão que está preso. Ele está muito abalado, mas disse desde o início que não tinha nenhuma ligação dele." (RANIER BRAGON, LEONARDO SOUZA, ANDRÉA MICHAEL E FELIPE SELIGMAN)

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