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VERBAS FEDERAIS
Adesão ao partido de quatro deputados envolvidos no escândalo envolveu R$ 120 mi para obras
Negócio milionário levou suspeitos ao PFL
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Um negócio
milionário comandou a filiação de um grupo
de quatro parlamentares acreanos ao PFL, um
ano antes de o
partido expulsar sumariamente
dois deles (Ronivon Santiago e
João Maia) sob suspeita de corrupção.
Os outros dois deputados eram
Osmir Lima e Zila Bezerra, também citados nas gravações, reveladas pela Folha, que apontaram
compra de votos pró-reeleição.
As fichas de filiação foram assinadas mediante o compromisso
do maior partido da base parlamentar do governo de "ajudar" a
liberar um pacote de R$ 120 milhões em verbas federais para o
Acre.
O acordo foi confirmado à Folha
pelo líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE). A entrada do
partido no Acre foi selada mediante "pedágio" cobrado pelo governador Orleir Cameli (sem partido): a influência do principal parceiro político do governo na liberação do dinheiro.
"O governador achou que o caminho natural do grupo era o PFL.
Ele não tinha apoio no PPB (antigo
partido de Cameli) para liberar o
dinheiro, na defesa dos interesses
do Estado", disse Inocêncio na última sexta-feira.
O dinheiro já havia sido prometido a Cameli pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em
abril de 1995, durante viagem pela
Amazônia, para ser liberado até o
final do mandato -na média de
R$ 30 milhões por ano.
O destino seriam dois trechos de
estradas federais, que ligam a capital Rio Branco aos municípios de
Cruzeiro do Sul (BR-364) e Brasiléia (BR-317).
A Procuradoria-Geral da República apura se o dinheiro do Orçamento reforçaria o caixa da empresa Marmud Cameli, da família
do próprio governador. Orleir foi
apontado nas fitas divulgadas pela
Folha como um dos compradores
de votos favoráveis à reeleição.
As denúncias de venda de votos
no Congresso interromperam a
negociação para a transferência
para o PSDB de 3 (Osmir Lima,
João Maia e Zila Bezerra) dos 5
parlamentares acreanos envolvidos nas gravações.
Um integrante da cúpula do partido do presidente FHC, que negociava a entrada dos parlamentares
do Acre, Estado onde o partido é
mais fraco (não tem nenhum deputado ou senador), comentou
que o PSDB acabou "salvo pela
sorte"
Cacife
Apesar do envolvimento na
compra de votos, o governador do
Acre não teve sua filiação vetada
pelo PFL.
Sua condição de governador sem
partido é uma questão de tempo.
"Ele entrará e disputará a reeleição pelo partido", disse Inocêncio,
engajado no projeto de crescimento do maior partido do Congresso
e da base parlamentar do governo.
O tamanho da bancada (número
de votos) é diretamente proporcional a sua influência na liberação
de verbas do Orçamento e na indicação política para cargos.
Outro objetivo do inchaço das legendas é aumentar o tempo de
propaganda eleitoral na TV durante a campanha de 1998, quando
estarão em xeque os projetos de
poder dos partidos.
Os planos de crescimento do PFL
não foram freados com o escândalo da venda de votos. Nem os planos igualmente ambiciosos do
PSDB. Os dois partidos planejam
comandar o Congresso sem depender tanto um do outro.
O PFL espera receber uma leva
de até dez deputados nos próximos dias. Está em negociação a filiação do governador do Tocantins, Siqueira Campos (PPB).
Desde a última eleição, a bancada pefelista na Câmara saltou de 88
deputados para 105 (na última sexta). A meta é atingir a marca de 150
deputados nas próximas eleições.
Nos últimos dois anos, o PSDB
cresceu muito mais na Câmara:
passou de 64 para 95 deputados.
A onda adesista ao partido, estimulada pelo ministro Sérgio Motta (Comunicações), foi contida
por pressão das demais legendas
aliadas ao Planalto. O projeto tucano é filiar deputados de Santa Catarina, Distrito Federal, Mato
Grosso do Sul e Acre.
Como parceiros do projeto de
reeleição de FHC, PFL e PSDB fecharam um pacto para evitar o
avanço de um sobre os votos do
outro. "Vai ser uma luta", prevê
Inocêncio Oliveira.
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