São Paulo, segunda, 19 de maio de 1997.



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VERBAS FEDERAIS
Adesão ao partido de quatro deputados envolvidos no escândalo envolveu R$ 120 mi para obras
Negócio milionário levou suspeitos ao PFL

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

Um negócio milionário comandou a filiação de um grupo de quatro parlamentares acreanos ao PFL, um ano antes de o partido expulsar sumariamente dois deles (Ronivon Santiago e João Maia) sob suspeita de corrupção.
Os outros dois deputados eram Osmir Lima e Zila Bezerra, também citados nas gravações, reveladas pela Folha, que apontaram compra de votos pró-reeleição.
As fichas de filiação foram assinadas mediante o compromisso do maior partido da base parlamentar do governo de "ajudar" a liberar um pacote de R$ 120 milhões em verbas federais para o Acre.
O acordo foi confirmado à Folha pelo líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE). A entrada do partido no Acre foi selada mediante "pedágio" cobrado pelo governador Orleir Cameli (sem partido): a influência do principal parceiro político do governo na liberação do dinheiro.
"O governador achou que o caminho natural do grupo era o PFL. Ele não tinha apoio no PPB (antigo partido de Cameli) para liberar o dinheiro, na defesa dos interesses do Estado", disse Inocêncio na última sexta-feira.
O dinheiro já havia sido prometido a Cameli pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em abril de 1995, durante viagem pela Amazônia, para ser liberado até o final do mandato -na média de R$ 30 milhões por ano.
O destino seriam dois trechos de estradas federais, que ligam a capital Rio Branco aos municípios de Cruzeiro do Sul (BR-364) e Brasiléia (BR-317).
A Procuradoria-Geral da República apura se o dinheiro do Orçamento reforçaria o caixa da empresa Marmud Cameli, da família do próprio governador. Orleir foi apontado nas fitas divulgadas pela Folha como um dos compradores de votos favoráveis à reeleição.
As denúncias de venda de votos no Congresso interromperam a negociação para a transferência para o PSDB de 3 (Osmir Lima, João Maia e Zila Bezerra) dos 5 parlamentares acreanos envolvidos nas gravações.
Um integrante da cúpula do partido do presidente FHC, que negociava a entrada dos parlamentares do Acre, Estado onde o partido é mais fraco (não tem nenhum deputado ou senador), comentou que o PSDB acabou "salvo pela sorte"
Cacife
Apesar do envolvimento na compra de votos, o governador do Acre não teve sua filiação vetada pelo PFL.
Sua condição de governador sem partido é uma questão de tempo. "Ele entrará e disputará a reeleição pelo partido", disse Inocêncio, engajado no projeto de crescimento do maior partido do Congresso e da base parlamentar do governo.
O tamanho da bancada (número de votos) é diretamente proporcional a sua influência na liberação de verbas do Orçamento e na indicação política para cargos.
Outro objetivo do inchaço das legendas é aumentar o tempo de propaganda eleitoral na TV durante a campanha de 1998, quando estarão em xeque os projetos de poder dos partidos.
Os planos de crescimento do PFL não foram freados com o escândalo da venda de votos. Nem os planos igualmente ambiciosos do PSDB. Os dois partidos planejam comandar o Congresso sem depender tanto um do outro.
O PFL espera receber uma leva de até dez deputados nos próximos dias. Está em negociação a filiação do governador do Tocantins, Siqueira Campos (PPB).
Desde a última eleição, a bancada pefelista na Câmara saltou de 88 deputados para 105 (na última sexta). A meta é atingir a marca de 150 deputados nas próximas eleições.
Nos últimos dois anos, o PSDB cresceu muito mais na Câmara: passou de 64 para 95 deputados.
A onda adesista ao partido, estimulada pelo ministro Sérgio Motta (Comunicações), foi contida por pressão das demais legendas aliadas ao Planalto. O projeto tucano é filiar deputados de Santa Catarina, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Acre.
Como parceiros do projeto de reeleição de FHC, PFL e PSDB fecharam um pacto para evitar o avanço de um sobre os votos do outro. "Vai ser uma luta", prevê Inocêncio Oliveira.



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