São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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País aderiu à operação em 1976

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ASSUNÇÃO

O Brasil aderiu à Operação Condor em setembro de 1976, mas não aceitou participar de ações fora da América do Sul.
A informação está nos relatórios reservados do Departamento de Estado dos EUA sobre a operação, segundo documentos coletados pelo médico e pesquisador paraguaio Alfredo Boccia Paz nos arquivos americanos.
Outros países do continente, de acordo com o mesmo documento, prontificaram-se a buscar e eliminar opositores dos regimes militares à distância.
"Com a decisão brasileira de limitar suas atividades aos limites territoriais dos países do Condor, os treinamentos começam em Buenos Aires para argentinos, chilenos e uruguaios", diz o informe do governo norte-americano. Alguns trechos do documento tiveram divulgação vetada.
A explicação de Paz para o comportamento brasileiro seria um motivo bastante pragmático: o Brasil tinha quantidade menor de opositores na Europa, o que não justificaria os riscos diplomáticos de tal atitude.
A Operação Condor, de acordo com o Departamento de Estado, era dividida em três fases: o intercâmbio de informações, a busca de opositores na América Latina e a captura à distância. O Brasil teria aderido às duas primeiras.
O primeiro papel a falar sobre o Brasil nos arquivos data de 24 de setembro de 1976.
Em outubro daquele ano, o agente especial do FBI (polícia federal dos EUA) Roberto Scherrer define a operação, em correspondência à sede da instituição.
""A Operação Condor é o nome para a coleta, intercâmbio e armazenamento de informação secreta relativa aos denominados esquerdistas, comunistas e marxistas que se estabeleceu entre os serviços de inteligência da América do Sul (...) A operação tem previstas operações conjuntas contra objetivos terroristas de países-membros. Uma terceira fase, e mais secreta, implica a formação de grupos especiais dos países-membros que deverão viajar até países não-membros para levar a cabo castigos, incluindo o assassinato de terroristas ou simpatizantes de organizações terroristas dos países-membros", diz.
Paz, que escreveu o livro "Es mi informe" ("É o meu informe"), um dos mais completos a respeito dos chamados "arquivos do terror", prepara outra obra, que ainda não tem título e deverá estar concluída em três meses.
Alguns dos documentos sobre a Operação Condor, que podiam ser consultados quando os arquivos das Forças Armadas do Paraguai foram abertos, em 1992, já não são mais encontrados hoje, afirma Paz.
Um deles é o que relatava métodos de inteligência utilizados pela AID (Agência Interamericana de Desenvolvimento). Outro, é a carta pela qual o bispo Demetrio Aquino informava o chefe de investigações, Pastor Coronel, sobre atividades da Igreja Católica.
O bispo era conhecido pela ligação que tinha com o ditador paraguaio Alfredo Stroessner (54-89).


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