São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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ANÁLISE

Serra terá duro caminho para se igualar ao FHC de 94

MAURO FRANCISCO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA

Muito se fala sobre a coincidência das atuais taxas de intenção de voto dos candidatos de PT e PSDB em relação às verificadas na mesma época em 1994.
De fato, pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 2 e 3 de maio daquele ano registrava 42% para Lula contra 16% obtidos pelo então candidato tucano, Fernando Henrique Cardoso, que reverteu o cenário desfavorável e venceu a eleição no primeiro turno.
No levantamento mais recente, feito no último dia 14, o candidato petista conta com 43% contra 17% de José Serra, atual candidato do PSDB.
Uma análise mais atenta de outros números comuns às duas pesquisas mostra que as coincidências param por aí.
Considerando a intenção de voto espontânea, ou seja, a primeira pergunta feita a cada eleitor entrevistado e que é respondida sem o estímulo do cartão com os nomes dos prováveis candidatos, nota-se que Lula obtém hoje seis pontos percentuais a mais do que em 94, quando atingia 21%.

Candidato definido
Já o atual candidato tucano obtém praticamente a mesma taxa: 6% de Serra contra 5% obtidos por Fernando Henrique em 94. Essa pergunta tem por característica revelar o percentual de eleitores que têm uma decisão mais cristalizada do voto.
Outra diferença importante é a de eleitores sem candidato definido, representados pela soma dos indecisos com a dos que afirmam que votariam em branco ou anulariam o voto, caso a eleição fosse realizada no dia da pesquisa.
Na espontânea, essa taxa chegava a 63% em maio de 94 contra 51% agora.
Considerando-se a pergunta estimulada, a diferença é ainda maior: 23% não tinham candidato definido em maio de 94 contra apenas 9% agora.
Isso significa que, para crescer, será necessário, hoje, captar votos de outros candidatos numa proporção maior do que nessa mesma época em 94.
Além disso, é um reflexo da antecipação da campanha, característica desta eleição.

Rejeição
A comparação revela ainda que é maior a rejeição às duas candidaturas, mas em proporções diferentes. Em 94, 20% dos eleitores não votariam em Lula em hipótese alguma, enquanto 15% recusavam-se a votar em Fernando Henrique.
Hoje a rejeição a Lula está 35% mais alta, chegando a 27%. Já a rejeição atual conferida a Serra - 23%-, apesar de também ser menor que a de Lula, é 53% mais alta do que a obtida por Fernando Henrique em 94.
O espaço que o PSDB tem para crescer hoje é, portanto, menor do que o observado no mesmo período em 94.
Isso se torna ainda mais claro ao se comparar as avaliações do governo federal, apuradas nas mesmas pesquisas.
Em maio de 94, 16% consideravam o governo Itamar Franco ótimo ou bom, menos da metade da taxa de aprovação obtida hoje por Fernando Henrique (35%).
Portanto, o PSDB alcançava a mesma taxa de intenção de voto obtida hoje por Serra mesmo com o governo tendo menos da metade da aprovação que tem atualmente.
Itamar só ultrapassaria o patamar dos 30% de aprovação em agosto, um mês após o lançamento do Plano Real, ao mesmo tempo em que Fernando Henrique transpunha a casa dos 40% das intenções de voto.
Esses números revelam que, apesar da coincidência nas taxas de intenção de voto, o atual processo eleitoral tem características diversas e Serra terá um caminho mais árduo para repetir a performance de Fernando Henrique Cardoso em 94.



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