São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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NORDESTE
Para o presidente interino da República, a ordem do governo é para evitar os saques 'seja como for'
Interino, ACM apóia prisão de saqueador

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

Antes de embarcar para Brasília, o presidente interino da República, Antonio Carlos Magalhães (PFL), defendeu ontem, em Salvador (BA), a prisão dos líderes dos saques que estão acontecendo no Nordeste. "O governo já pediu a prisão de um deles, que foi negada. Na medida em que isso aconteça, tem de prender mesmo."
Na semana passada, a Justiça negou o pedido de prisão do economista João Pedro Stedile, um dos principais dirigentes do MST.
Segundo ACM, a ordem é evitar os saques, "seja como for". "O saque é uma ilegalidade, e alguns querem transformar essa ilegalidade para perturbar a vida do país." Para ele, os saques são uma demonstração de articulação perigosa "que tem de ser desarticulada a qualquer custo".
ACM pediu ontem ao governador da Bahia, César Borges (PFL), que prendesse, "se possível em flagrante", os autores do saque ocorrido ontem em Curaçá (BA).
"Já pedi providências ao governador para prender, se possível em flagrante, aqueles que saquearam, porque o saque só vai levar à perturbação da ordem", disse ACM, no gabinete da Presidência.
"O país precisa de ordem, sobretudo no Nordeste, para que possa haver o combate à seca", afirmou. "Esses saques estão, inclusive, impedindo que se atenda a quem precisa. A desordem não é boa conselheira nessa hora."
Segundo ACM, os saques "são políticos" e incentivados por pessoas que não deviam fazê-lo. "São aqueles que promovem e exploram a miséria de alguns", disse.
ACM disse que a decisão de prender os saqueadores não deve se restringir à Bahia. "É em qualquer Estado. Eu espero que os governadores cumpram os seus deveres nessa hora, porque o país precisa de calma para trabalhar."

Rainha
José Rainha Jr., um dos líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse em Salvador que a organização vai continuar estimulando os saques.
"Onde houver um acampamento com pessoas passando fome, o MST estará ao lado incentivando os saques", disse Rainha.
"A grande missão do MST é organizar os trabalhadores para resolver problemas básicos que são de competência do governo, como a reforma agrária e o direito à sobrevivência." Rainha criticou a declaração de ACM quanto à prisão de saqueadores. "Partindo de Antonio Carlos Magalhães, a gente pode esperar tudo contra a oposição." E completou: "Acho mais perigoso para o país ver trabalhadores morrendo de fome do que buscar comida para matar a fome".
Para Rainha, o MST não pode ser responsabilizado pelos saques que estão acontecendo nos Estados nordestinos. "Os saques existem há mais de um século. A única novidade é a presença organizada do MST".


Colaborou a Sucursal de Brasília



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