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CELSO PINTO
O piso para os juros
Quando se reunir amanhã
para decidir o que fazer com
as taxas de juros, o Copom,
comitê do Banco Central, terá
pouca margem de manobra. O
piso dos juros, abaixo do qual
corre-se o risco de perder dólares, é algo em torno de 21%.
O piso é o que um trabalho
do banco Fleming Graphus
chama de "taxa de paridade".
Desde antes da crise asiática,
o Brasil sempre manteve os
juros acima dessa taxa. Exceto num curto período, em outubro, quando o país perdeu
US$ 10 bilhões.
O trabalho, assinado pelos
economistas José Júlio Senna
e André Carvalho, está no primeiro número do "The Macro
Navigator", uma nova publicação que analisará, mensalmente, a economia brasileira.
A intenção é destacar um tema relevante e fazer uma avaliação do risco do país.
No primeiro número, a ênfase está na falta de um ajuste
fiscal adequado. O estudo diz
que os efeitos do pacote fiscal
de novembro serão menores
do que se esperava e que, sem
uma correção no lado fiscal,
"os indicadores da saúde da
economia brasileira continuarão a se deteriorar".
O risco maior, diz o estudo,
"é uma possível reversão das
expectativas, particularmente
na área cambial", o que poderia trazer problemas no financiamento externo. Ao contar
apenas com a política monetária (juros altos) para controlar a economia, o Brasil arrisca-se "a ter um problema de
credibilidade maior no futuro
se enfrentar outra crise na
qual o mercado exija medidas
ainda mais duras e efetivas
(do que as tomadas no ano
passado)".
Ter um piso alto para as taxas de juros não é fruto apenas da crise asiática. Em setembro, antes da crise, a "taxa
de paridade" era de 20,18%,
não muito distante da atual.
Existem diferentes maneiras
de medir esse piso. O trabalho
usa a remuneração de um título da dívida brasileira no
mercado internacional, o
IDU, como base da remuneração. Ele embute um prêmio
acima dos juros americanos,
que reflete o "risco Brasil". O
prêmio era de 1,67 ponto percentual em setembro, chegou
a 6,83 pontos em outubro e
hoje voltou a cerca de 3 pontos.
Além desse prêmio, a "taxa
de paridade" considera a expectativa de desvalorização
(7,5% ao ano), mais um prêmio. Esse prêmio, refletido no
mercado futuro, era de 4,1%
em setembro do ano passado,
chegou a 13,8% em novembro
e, dia 13 de abril, estava em
3,8%.
O trabalho não inclui o imposto nesse piso, embora reconheça que seu custo médio é
de, no mínimo, 10%. O que
elevaria ainda mais o piso
teórico dos juros.
Mesmo considerando que o
Brasil recuperou de forma significativa as condições de antes da crise, não há como reduzir os juros muito abaixo
de 21% sem afetar o fluxo de
dólares. A menos que o governo resolva desacelerar o reajuste cambial, o que também
traria riscos de credibilidade.
O trabalho examina, ainda,
duas outras potenciais vulnerabilidades: as dívidas interna e externa. No caso da dívida interna, embora 67% do
total vença em menos de seis
meses (e 75% em menos de
um ano), não deve haver
grandes problemas na rolagem.
Na área externa, o cálculo é
que o Brasil terá de rolar neste ano US$ 60,9 bilhões. Comparado ao nível de US$ 73,8
bilhões de reservas em abril,
não assusta. Na Coréia, a dívida de curto prazo era três
vezes o valor das reservas antes da crise e na Indonésia e
Tailândia, duas vezes.
As reservas são altas, mas,
comparadas ao déficit em
conta corrente, já foram mais
expressivas. Com o nível recorde de reservas em abril, a
relação chegou a 2,3, mesmo
nível do início de 97. Em 96, a
relação chegou a mais de 4.
Preocupação paulista
O governo do Estado de São
Paulo está preocupado em
não repetir o fracasso da venda de uma das distribuidoras
da Eletropaulo (a Bandeirantes). Por essa razão, está conversando, discretamente, com
bancos internacionais para
sondar a disposição do mercado para as privatizações do
setor elétrico.
Alguns bancos estão céticos.
O governo não quer reduzir o
preço da Bandeirantes, porque seria um suicídio político.
Nesse caso, alguns bancos
acham que o leilão pode fracassar outra vez. Uma solução pode ser manter o preço,
mas permitir o pagamento a
prazo. O preço fica o mesmo
nas manchetes dos jornais,
mas menor no bolso do comprador.
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