UOL

São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REFORMA DA REFORMA

Marinho diz que pressionará Câmara por mudanças no relatório; presidente não usou boné da central

CUT vai a Lula e, ao sair, se diz desprestigiada

WILSON SILVEIRA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se ontem a atender as propostas de mudança na reforma da Previdência apresentadas pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), sua aliada política. Declarando que a entidade está "desprestigiada", Luiz Marinho, presidente da entidade, teve de deixar o Planalto levando de volta o boné que ofereceu a Lula e que acabou não sendo usado.
Apesar de não ter sido atendido, Marinho não quis responder se a CUT vai incentivar greves e disse compreender o papel de Lula. Afirmou que vai "refletir e dialogar" com as categorias que não estão paradas e que a decisão de aderir ou não à greve cabe a elas.
No início da reunião, quando a sala foi aberta para fotógrafos e cinegrafistas, Marinho tirou um boné da CUT da pasta. Disse que o daria de presente para Lula, mas que o levaria de volta se seus pedidos não fossem atendidos.
"Então vamos ter de esperar o fim da reunião", disse Lula. Ao final, quando Marinho pegou o boné, Lula afirmou: "Você não vai deixar o boné?". Marinho disse ter respondido: "Não, deixa para a próxima". Em nenhum momento Lula usou a peça.
Na entrevista, Marinho negou que o objetivo fosse deixar Lula constrangido, já que ele costuma vestir os bonés que ganha. Desde a audiência concedida ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), no último dia 2, o uso de bonés pelo presidente assumiu forte conotação política.
Questionado se não ficou mal para um fundador da CUT não poder colocar o boné, Marinho disse: "Ele pode, mas não hoje".

Reivindicações
A CUT defende o aumento da faixa de isenção da contribuição dos aposentados (fixada em R$ 1.058 pelo governo), aumento do teto da aposentadoria de R$ 2.400 para R$ 4.800, proteção das pensões até o teto de R$ 4.800 (em vez dos R$ 1.058 do projeto) e flexibilização do redutor salarial de 5% ao ano para quem se aposentar antes da idade mínima.
"O presidente disse que não poderia atender essas reivindicações, porque o jogo está na Câmara", disse Marinho. "Vamos fazer pedágio nos aeroportos para pressionar deputados. Se não mudar na Câmara, vamos insistir no Senado até o último segundo."
Segundo ele, a reforma está desequilibrada em favor dos altos salários. "Não tenho nada contra os altos salários, mas é preciso proteger os baixos."
Marinho disse que a CUT continuaria apoiando a greve do funcionalismo. Ele não comentou a divergência entre dirigentes da CUT ligados a servidores e ligados ao governo -ao qual pertence.
"Minha avaliação desse processo até aqui é que houve uma bateção de cabeça danada entre governo, os líderes aliados e os governadores. Isso acabou atrapalhando e muito esse processo de negociação. A CUT se sente desprestigiada nesse processo, porque não foi ouvida."
Participaram da audiência, além de Lula, os ministros José Dirceu (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Previdência) e Luiz Dulci (Secretaria Geral). Pela CUT, estavam, além de Marinho: João Felício, secretário-geral; Denise Mota, primeira secretária; e João Osório, presidente da CUT-DF. Eles tiveram de esperar uma hora na ante-sala do gabinete presidencial.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Frases
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.