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REFORMA DA REFORMA
Marinho diz que pressionará Câmara por mudanças no relatório; presidente não usou boné da central
CUT vai a Lula e, ao sair, se diz desprestigiada
WILSON SILVEIRA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva recusou-se ontem a atender
as propostas de mudança na reforma da Previdência apresentadas pela CUT (Central Única dos
Trabalhadores), sua aliada política. Declarando que a entidade está "desprestigiada", Luiz Marinho, presidente da entidade, teve
de deixar o Planalto levando de
volta o boné que ofereceu a Lula e
que acabou não sendo usado.
Apesar de não ter sido atendido,
Marinho não quis responder se a
CUT vai incentivar greves e disse
compreender o papel de Lula.
Afirmou que vai "refletir e dialogar" com as categorias que não estão paradas e que a decisão de
aderir ou não à greve cabe a elas.
No início da reunião, quando a
sala foi aberta para fotógrafos e cinegrafistas, Marinho tirou um boné da CUT da pasta. Disse que o
daria de presente para Lula, mas
que o levaria de volta se seus pedidos não fossem atendidos.
"Então vamos ter de esperar o
fim da reunião", disse Lula. Ao final, quando Marinho pegou o boné, Lula afirmou: "Você não vai
deixar o boné?". Marinho disse ter
respondido: "Não, deixa para a
próxima". Em nenhum momento
Lula usou a peça.
Na entrevista, Marinho negou
que o objetivo fosse deixar Lula
constrangido, já que ele costuma
vestir os bonés que ganha. Desde
a audiência concedida ao MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), no último dia
2, o uso de bonés pelo presidente
assumiu forte conotação política.
Questionado se não ficou mal
para um fundador da CUT não
poder colocar o boné, Marinho
disse: "Ele pode, mas não hoje".
Reivindicações
A CUT defende o aumento da
faixa de isenção da contribuição
dos aposentados (fixada em R$
1.058 pelo governo), aumento do
teto da aposentadoria de R$ 2.400
para R$ 4.800, proteção das pensões até o teto de R$ 4.800 (em vez
dos R$ 1.058 do projeto) e flexibilização do redutor salarial de 5%
ao ano para quem se aposentar
antes da idade mínima.
"O presidente disse que não poderia atender essas reivindicações, porque o jogo está na Câmara", disse Marinho. "Vamos fazer
pedágio nos aeroportos para
pressionar deputados. Se não mudar na Câmara, vamos insistir no
Senado até o último segundo."
Segundo ele, a reforma está desequilibrada em favor dos altos
salários. "Não tenho nada contra
os altos salários, mas é preciso
proteger os baixos."
Marinho disse que a CUT continuaria apoiando a greve do funcionalismo. Ele não comentou a
divergência entre dirigentes da
CUT ligados a servidores e ligados
ao governo -ao qual pertence.
"Minha avaliação desse processo até aqui é que houve uma bateção de cabeça danada entre governo, os líderes aliados e os governadores. Isso acabou atrapalhando e muito esse processo de
negociação. A CUT se sente desprestigiada nesse processo, porque não foi ouvida."
Participaram da audiência,
além de Lula, os ministros José
Dirceu (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Previdência) e Luiz Dulci
(Secretaria Geral). Pela CUT, estavam, além de Marinho: João Felício, secretário-geral; Denise Mota,
primeira secretária; e João Osório,
presidente da CUT-DF. Eles tiveram de esperar uma hora na ante-sala do gabinete presidencial.
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