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BB emprestou para o PT sem fiador
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco do Brasil dispensou o
diretório nacional do PT de apresentar fiador para três operações
de leasing pelas quais o banco forneceu R$ 17,1 milhões ao partido
para aquisição de equipamentos
de informática.
De acordo com documentos
obtidos pela Folha no 5º Cartório
de Registros de Títulos e Documentos de São Paulo, o PT ofereceu como garantias repasses do
fundo partidário e contribuições
recolhidas de filiados.
A decisão do banco de dispensar fiadores no financiamento revelou-se arriscada: ontem, o bloco
de oposição no Congresso pediu o
bloqueio dos repasses do fundo
ao PT, após o ex-tesoureiro Delúbio Soares ter admitido que montou um esquema de caixa dois para as campanhas eleitorais.
No ano passado, o PT recebeu
R$ 24,9 milhões do fundo e R$ 6,6
milhões de contribuições, mas só
os gastos administrativos representaram R$ 51,9 milhões.
O patrimônio líquido negativo
do PT em 2004 atingiu R$ 24,7 milhões. Se o partido vendesse todos
os seus ativos e recebesse todos os
créditos, ainda ficaria sem condições de cobrir o rombo.
O Banco do Brasil, sob alegação
de sigilo bancário, não informou
se o PT tem pago em dia as parcelas dos três contratos. O banco
parcelou o pagamento em 42 vezes, com a primeira quitação prevista para abril de 2004.
Os próprios contratos de arrendamento mercantil assinados entre o BB e o PT -representado no
documento por Delúbio e o ex-presidente da sigla, José Genoino- previam a possibilidade de
o banco exigir a apresentação de
um ou mais fiadores. Fiador é
quem assume a obrigação acessória de quitar compromissos caso
o responsável pela operação não
consiga ou não queira.
No trecho que trata das garantias, o documento prevê que os
fiadores "nomeados e qualificados ao final do contrato comparecem neste ato responsabilizando-se solidária e incondicionalmente
com a arrendatária [PT], na qualidade de principais pagadores, pelo cumprimento de todas as obrigações aqui assumidas".
Ao final do contrato, contudo,
não consta nenhum fiador. A assessoria de comunicação do BB
afirmou que o documento assinado e rubricado pelos representantes do PT e do banco era "padrão"
(leia outro lado nesta página).
De acordo com os contratos, o
PT usou os recursos do Banco do
Brasil para aquisição de microcomputadores, câmeras de vídeo
para internet e impressoras.
Os três termos de recebimento e
aceitação anexados aos contratos
não trazem a quantidade de equipamentos, apenas citam o número das notas fiscais que acompanharam as compras. Todas as notas foram emitidas pelas empresas Hewlett Packard Brasil e BKS
Center entre os meses de fevereiro
e março de 2004.
De acordo com informativo divulgado pelo PT no final de 2003,
os recursos obtidos do Banco do
Brasil seriam usados para aquisição de 5.000 computadores e
5.000 impressoras para equipar os
diretórios municipais e estaduais
da sigla no país para as eleições
que ocorreriam no ano seguinte.
Os contratos de leasing representam cerca de 60% do total de
empréstimos contraídos pelo PT
entre 2003 e 2004. Há outro empréstimo com o BB, de R$ 3,5 milhões. Sobre esse contrato, que
não foi localizado em cartórios, o
BB também mantém sigilo.
Na última sexta-feira, foi revelado que o estrago nas contas do PT
é muito maior do que aquele assumido pelo partido na prestação
de contas enviada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O empresário de publicidade
Marcos Valério Fernandes de
Souza contou ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que fez repasses
clandestinos de aproximadamente R$ 40 milhões para o PT. A versão foi avalizada pelo ex-tesoureiro petista. Esse valor, corrigido,
representaria hoje, segundo Delúbio, cerca de R$ 90 milhões.
Marcos Valério afirmou, em entrevista ao "Jornal Nacional" na
última sexta que pretende cobrar
as dívidas do PT.
(RUBENS VALENTE E MARTA SALOMON)
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