São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/GOVERNO & PARTIDO

Procurado pelo advogado do ex-tesoureiro, Thomaz Bastos sugeriu depoimento na sexta

Ministro da Justiça orientou Delúbio a falar ao procurador

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Foi o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, quem orientou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a prestar depoimento diretamente ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Nesse depoimento, que aconteceu na última sexta-feira, Delúbio deu a nova versão de que todos os petistas têm "caixa dois" de campanha.
Thomaz Bastos falou duas vezes com o advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros. Numa das vezes, por telefone. A outra foi pessoalmente, em São Paulo, na sexta-feira passada.
Na versão oficial, Malheiros procurou o ministro, que é seu amigo, para dizer que Delúbio pretendia retificar seu depoimento do último dia 8 à Polícia Federal, em que negou o pagamento do suposto "mensalão" para parlamentares sob o argumento de que o PT estava cheio de dívidas de campanha.
Thomaz Bastos sugeriu a Malheiros que, em vez de voltar à PF -que é subordinada ao Ministério da Justiça-, Delúbio deveria ir direto ao procurador-geral da República. O próprio ministro teria telefonado ao procurador para intermediar o encontro, que foi na própria sexta-feira.

Nova versão
A nova versão do tesoureiro do PT para os recursos milionários do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, de que serviam para pagar o "caixa dois", foi dada para a Procuradoria na mesma sexta-feira em que o próprio Valério foi à TV Globo dizer que os recursos vinham de "empréstimos bancários" e eram repassados por "orientação do Delúbio".
Um dia antes, na quinta-feira, Marcos Valério já tinha falado à Procuradoria Geral da República.
Por causa da coincidência de datas e de versões, a oposição suspeita que tudo isso seja uma armação, a exemplo da Operação Uruguai, que tentou, sem sucesso, justificar milhões de reais de origem duvidosa durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1989-1992).
Para aumentar a suspeita oposicionista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também deu entrevista, que foi ao ar no domingo, corroborando a tese de que "o que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil sistematicamente".

Estratégia
A análise é a de que há uma estratégia do governo para distribuir as denúncias que hoje são contra o PT por todos os demais partidos brasileiros.
Por trás dessa estratégia estaria o ministro da Justiça, que é advogado criminalista e que se reuniu até de madrugada, na quarta-feira passada, com os dois outros principais articuladores políticos do governo: os ministros Antonio Palocci Filho, da Fazenda, e Jaques Wagner, que acumula a coordenação política com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.


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