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JANIO DE FREITAS
O troféu a quem merece
Ao inventar o Troféu
Óleo de Peroba, o deputado José Thomaz Nonô teve,
talvez sem o perceber, mais
do que uma de suas tiradas:
criou um recurso de linguagem
jornalística.
Certas atitudes não são definíveis sem que se escorre em alguma dose de grosseria, e os eufemismos convencionais aveludam demais o que deve ser dito.
As palavras, por exemplo, para
definir uma das respostas de Lula na entrevista em Paris são, todas, mais pesadas do que o caso
requer. É aí que entra o achado
de José Thomaz Nonô.
A repórter perguntou a Lula
sobre a reeleição. Como sempre,
Lula não está pensando nisso,
deixa o assunto para o ano que
vem, apesar de todas as evidências de que, desde o dia seguinte
à posse, sua maior ocupação é
com eventos típicos de campanha. Lula tem um complemento
para a resposta de sempre: [antes de cuidar de reeleição] "tenho que cumprir as promessas
que fiz ao povo na campanha".
Os 10 milhões de empregos?
Reforma agrária verdadeira e
inteligente? A desconcentração
da renda? A auditoria da dívida
externa? Ou seriam outras as
maravilhas que relegou nos dois
anos e meio já transcorridos do
mandato, e realizará, todas, no
restante ano e meio?
A resposta de Lula é vencedora antecipada de uma das categorias do Troféu Óleo de Peroba
e candidata forte à premiação
geral e mais alta. Na qual Lula
compete com Lula, autor de vasta produção no gênero. Mas as
aventuras de seus companheiros
lançaram novos candidatos em
competição feroz.
O mecenas Marcos Valério
lança a nova versão para a dinheirama que o une a uma patota petista. Não satisfeito com a
fábula do aval fraterno exposta
na CPI, aumenta o lance: foram
R$ 39 milhões que tirou, por empréstimos bancários, em nome
de suas empresas e os entregou
ao PT, para repasse a nomes indicados pelo amigo Delúbio
Soares. E, ante um brando questionamento do repórter sobre o
empréstimo do empréstimo, esclarece: "Normal. Normal".
Cena que Delúbio Soares,
sempre determinado a disputar
a categoria maior do troféu, ultrapassou já no dia seguinte.
Perguntado se sua nova versão,
idêntica à de Marcos Valério na
véspera, resultava de combinação ou de coincidência, Delúbio
foi preciso: "Coincidência, só
coincidência". Mal chegara da
viagem para encontrar-se, em
Belo Horizonte, com Marcos
Valério.
O fato de estar mandado para
corner pelos companheiros não
retira de José Genoino, com a
vasta produção que já lhe deu o
prêmio nos últimos anos, a condição de grande candidato
atual. Com destaque para esta
jóia sobre o empréstimo maroto:
"Eu não sabia que ele [Marcos
Valério] é avalista. Eu assinei
sem ler".
Não é muito mais delicado falar, em relação a essas atitudes e
seus autores, no Troféu Óleo de
Peroba para caras-de-pau, do
que usar palavras equiparadas
pelo Aurélio, para as mesmas situações, como "cinismo, impudência, desfaçatez, descaramento"?
Pelo que se está vendo e, mais
ainda, pelo que se espera, o deputado José Thomaz Nonô bem
que podia enriquecer suas tiradas úteis.
Em tempo: está previsto para
logo mais o depoimento, na CPI
dos Correios, de Silvio Pereira,
secretário afastado do PT. Como se trata de uma das mais puras inocências do PT, ao lado
das mais conhecidas também
alijadas da direção partidária, o
depoimento promete aumentar
a competição pelo troféu. Nada,
porém, que abale a expectativa
quanto ao depoimento, amanhã, do competidor Delúbio
Soares. A menos que José Genoino reapareça ou Lula faça um
dos seus improvisos.
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