São Paulo, terça, 19 de agosto de 1997.



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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento prepara novas ações para os próximos dias
MST invade fazendas e põe fogo em pasto no Pontal

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
EDMILSON ZANETTI
da Agência Folha, em Caiuá (SP)

O MST invadiu duas fazendas e incendiou a pastagem de uma delas no Pontal do Paranapanema. As duas áreas estavam sendo negociadas com o governo para assentamentos.
As invasões foram as primeiras depois do fim da trégua anunciada pelo MST no Pontal (extremo oeste de São Paulo), que durava desde fevereiro. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) promete mais invasões para os próximos dias, mas não revela local nem data.
A estratégia, segundo o MST, está sendo adotada para evitar que os movimentos sejam monitorados pelos fazendeiros, que estão se organizando para defender as propriedades.
As ações aconteceram um dia após os sem-terra terem recuado na intenção de invadir fazendas protegidas por brigadas de fazendeiros ligados à UDR (União Democrática Ruralista).
Segundo o coordenador estadual do MST Walter Gomes da Silva, as invasões foram a resposta ao ministro Raul Jungmann (Política Fundiária), que havia considerado como "blefe" as ameaças dos sem-terra.
O presidente da UDR, Roosevelt Roque dos Santos, disse que os fazendeiros só vão se reunir para se defender quando souberem das ações com antecedência.
"Depois que aconteceu, o remédio tem que ser jurídico. Não vamos perder a cabeça", disse.
Os ruralistas também afirmam que, seguindo a estratégia dos sem-terra, também estão pulverizando a proteção nas fazendas. Segundo Santos, "o que existe é a solidariedade entre proprietários vizinhos que se ajudam".
Uma das fazendas invadidas, a Primavera 1, de 1.200 alqueires, em Presidente Venceslau (635 km a oeste de São Paulo), faz divisa com a fazenda Dorvargi, de Santos. Santos colocou seguranças a cavalo para proteger a área.
Os sem-terra começaram a chegar à Primavera por volta das 5h de ontem. O fazendeiro Luiz Antonio Coelho disse, logo após a invasão, ter orientado seus funcionários a não provocar os sem-terra.
Pelo menos 60% da fazenda Primavera 1 foi queimada pela manhã, segundo o Corpo de Bombeiros. A PM enviou 15 homens para o local. Não houve conflito.
Os invasores são assentados que estão provisoriamente em 30% da área da fazenda.
Segundo o dirigente Gomes da Silva, a invasão é para pressionar o governo a liberar os 70% restantes da área para assentamento.
A fazenda pertence à empresa Utoliza S/A, de uma família italiana. Na mesma área convivem 90 famílias ligadas ao MST e 41 ao movimento Brasileiros Unidos Querendo Terra.
A primeira invasão ocorreu anteontem, por volta das 22h.
Cerca de 200 sem-terra entraram na fazenda Maturi 1, de 680 alqueires, no município de Caiuá (650 km a oeste de São Paulo). A área é utilizada para a criação de gado.
Ontem mesmo, eles montaram um esquema de segurança e começaram a preparar a área para o plantio de algodão e milho.



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