São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 2002

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CAMPANHA

Em fala inflamada, candidato diz que "eles", os mercados, "não querem nos permitir nem o direito de votarmos livremente"

País está sendo posto "de joelhos", diz Ciro

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
Ciro faz campanha na praia de Copacabana, Rio, acompanhado de Patrícia Pillar e Leonel Brizola


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Na véspera do encontro com Fernando Henrique Cardoso, que pediu apoio dos candidatos à Presidência ao acordo com o Fundo Monetário Internacional, o candidato Ciro Gomes (PPS) atacou o governo e o mercado financeiro.
"O país está sendo posto de joelhos diante da agiotagem internacional", disse Ciro, em discurso no final de uma caminhada que reuniu cerca de mil pessoas na orla da praia de Copacabana, na zona sul do Rio. Segundo ele, as turbulências no mercado, que persistiram mesmo depois do anúncio do acordo com o Fundo, são "tentativa de domesticar o pensamento rebelde do povo brasileiro".
"Nem o direito de votarmos livremente em quem o povo brasileiro acha que deve votar, eles querem nos permitir. É o terror econômico. É a ameaça de crise", disse Ciro Gomes, referindo-se à alta do dólar e ao corte dos créditos para as empresas brasileiras, atribuídos ao fraco desempenho nas pesquisas do candidato governista, José Serra (PSDB).
Segundo a última pesquisa Datafolha, publicada ontem, Ciro está em segundo lugar na disputa presidencial, com 27% das intenções de voto, contra 37% do petista Luiz Inácio Lula da Silva e 13% de Serra, tecnicamente empatado com Anthony Garotinho (12%).
Na semana passada, em jantar com empresários, Ciro havia declarado, irritado, que estava "se lixando" para o mercado. "Se for para deixar tudo como está, vamos escolher outros. Mas, se for para mudar com segurança, com acerto, com compromisso, sem falsa promessa, sem simplificar os problemas, que são muito grandes, peço ao povo brasileiro que se junte conosco", disse ontem.
O candidato não quis dar entrevista para comentar diretamente seu encontro de hoje, em Brasília, com FHC. Seu discurso, entretanto, indicou que ele resiste a se comprometer publicamente com o acordo com o FMI, que, para liberar US$ 24 bilhões dos US$ 30 bilhões previstos, vai exigir que o governo eleito em janeiro mantenha um superávit orçamentário de no mínimo 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2005.
Na semana passada, Ciro desautorizou o coordenador econômico econômico de sua campanha, Mauro Benevides Filho, e o presidente do seu partido, o senador Roberto Freire (PPS-PE), que haviam se manifestado pela revisão dos termos do acordo com o FMI.
Depois que começou a crescer nas pesquisas, ele também moderou suas declarações em relação ao alongamento da dívida pública (troca de títulos com vencimento de curto prazo por outros com prazo mais longo de resgate).
Na caminhada de ontem, Ciro estava acompanhado da namorada, a atriz Patrícia Pillar, do candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) ao governo do Rio, Jorge Roberto Silveira, e do candidato ao Senado, Leonel Brizola.
Depois do ato de campanha, ele foi para o apartamento de Brizola, em Copacabana, onde discutiriam o encontro de hoje.
Em seu discurso na caminhada, Brizola disse que só uma fraude poderá tirar a vitória de Ciro Gomes na eleição. "O Ciro está eleito presidente da República. Só fraude pode tirar esta vitória do povo brasileiro. Quero repetir: só fraude. As dúvidas, as suspeitas dessas urnas eletrônicas podem tirar esta vitória do povo brasileiro, que quer eleger Ciro presidente."
"Eu não duvido nada, mas já vamos prevenindo. Não tentem fazer esta violência contra o povo brasileiro", acrescentou o ex-governador do Rio.


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