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POLÍTICA DA IMAGEM
RENATA LO PRETE
Roupa suja se lava em campanha
Durante seminário realizado em São Paulo no mês de
abril, o norte-americano Mark
Mckinnon, estrategista da campanha de Bush filho, espiou o cenário eleitoral brasileiro e previu
uma reta final com abundância
de acusações.
Campanha negativa, dizia, é
"mal necessário", especialmente
em um quadro que àquela altura
já se desenhava bastante competitivo. "Você começa dizendo que
não vai fazer e em determinado
momento constata que não há
outro jeito."
Entende-se por campanha negativa a tentativa de desqualificar o adversário do ponto de vista
moral ou administrativo. A estratégia difere da crítica pura e simples pelo tom dos ataques e por
seu caráter personalizado.
Como exemplo, Mckinnon
trouxe na mala um comercial da
eleição de 2000 em que o democrata Albert Gore é chamado de
hipócrita por defender causas
ambientalistas enquanto, segundo os republicanos, uma fazenda
de sua família polui rios no sul
dos EUA.
Na mesma linha, é famosa uma
peça publicitária da disputa de
1988 entre Bush pai e Michael Dukakis. Ela carimbou no governador de Massachusetts a pecha de
leniente com o crime a partir da
história de um condenado por homicídio que recebeu autorização
da Justiça estadual para passar os
fins de semana em liberdade e
que, durante uma das licenças,
matou uma pessoa.
De volta ao Brasil de 2002, as
equipes dos quatro candidatos ao
Planalto prometem para o horário gratuito programas "propositivos" e desprovidos de baixaria.
No caso de Lula é mais fácil
acreditar. O conforto de sua situação lhe permite, por ora, falar
apenas bem de si mesmo, não mal
dos outros -ainda que outros
petistas tenham incorporado o
discurso "pega na mentira", criado pelos tucanos para enfrentar
Ciro Gomes.
Também Garotinho, se quiser,
poderá ser "propositivo". Os demais não irão desperdiçar munição com ele.
Já José Serra, entre uma proposta e outra, deverá intensificar a
ofensiva iniciada com os jingles
depreciativos sobre Ciro. Seus
programas cuidarão de enumerar mentiras -reais e supostas,
relevantes e tolas- do ex-governador do Ceará.
E este, a depender da intensidade do bombardeio, será obrigado
a usar pelo menos parte do tempo
para revidar.
Não há consenso sobre os efeitos
da campanha negativa. O público
tende a manifestar rejeição a esse
gênero de mensagem, que, no entanto, às vezes se mostra eficaz.
Quem conhece as experiências
norte-americana e brasileira costuma apontar pelo menos duas
diferenças.
Nos EUA, dificilmente o serviço
sujo é feito nos comerciais do próprio candidato. Costuma ficar a
cargo dos chamados grupos de
apoio: pró-armas, antiaborto etc.
E o eleitor brasileiro parece menos propenso a se deixar convencer por críticas. Na definição do
voto, argumentos a favor costumam ter mais peso do que os contrários.
"Quem bate, perde", costuma
dizer Duda Mendonça. É possível
que sim, mas um tucano atormentado poderia responder que é
fácil falar quando se tem 37% das
intenções de voto.
Em 1994 e 1998, FHC pegou leve
com Lula não por ser fino, mas
porque não houve necessidade de
pegar pesado. Talvez Serra não
tenha mais nada a tentar além do
tanque de roupa suja.
A repórter Renata Lo Prete escreve às
segundas-feiras nesta coluna
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