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DIPLOMACIA DE CHUTEIRAS
Jogadores desfilam em Urutus do Exército; Lula faz campanha por vaga em Conselho da ONU
Seleção é ovacionada na capital do Haiti
Paulo Whitaker/Reuters
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Multidão de haitianos nas ruas de Porto Príncipe acompanha o desfile da seleção brasileira a bordo de Urutus das tropas brasileiras |
EDUARDO SCOLESE
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A PORTO PRÍNCIPE
Sob um forte calor de 37ºC, dezenas de milhares de haitianos
deixaram suas casas ontem para
acompanhar, em momentos diferentes, o trajeto do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e da seleção brasileira do aeroporto ao
centro de Porto Príncipe (capital
do país). Lula fazia a primeira visita oficial de um presidente ao país
e a seleção chegava para participar do "jogo da paz". O Brasil lidera uma força de paz da ONU no
Haiti. Hoje o país tem no Haiti
1.200 homens.
Nas calçadas e das janelas, a população local tremulava inúmeras
bandeiras brasileiras e haitianas e
acenava, sorridente, para o comboio da Presidência da República.
Lula fez o percurso em carro fechado, ao contrário do jogadores,
que desfilaram em Urutus do
Exército. No trajeto de cerca de 15
quilômetros dos sete carros de
combate por vários bairros populares da capital, os haitianos acenavam e gritavam para os jogadores. Alguns chegaram até a chorar. Em vários trechos, o barulho
era ensurdecedor.
"No futuro, quando me perguntarem qual foi a minha maior
emoção no futebol, vou dizer que
foi esta. Foi demais. Várias pessoas tinham dúvidas da validade
deste jogo", disse o técnico Carlos
Alberto Parreira.
O atacante Ronaldo, o mais festejado durante o percurso, não escondia a emoção. ""Nunca vi isso
na minha vida", gritou o jogador
no início do desfile, quando centenas de haitianos levantavam
uma nuvem de poeira ao correr
ao lado do comboio dos Urutus.
A empolgação dos haitianos era
tão grande que muitos deles tentaram pegar carona nos caminhões de apoio do Exército, para
desespero dos militares.
No trajeto até o estádio, os jogadores conseguiram ver a pobreza
da capital haitiana. O comboio
passou por várias favelas, algumas que exalavam um cheiro forte de esgoto. Nas áreas mais pobres, quase todas as casas eram de
zinco. O Haiti é o país mais pobre
do hemisfério ocidental, de acordo com o Banco Mundial -80%
das pessoas vivem abaixo da linha
da pobreza.
Os haitianos também não se
continham. "Foi o dia mais feliz
da minha vida. Agora, espero que
a vida melhore de verdade aqui
Ronaldo para presidente do Haiti", disse o desempregado Gerald
Vange.
Conselho de Segurança
Lula aproveitou a viagem ao
Haiti para fortalecer o objetivo do
país de integrar de forma definitiva uma cadeira no Conselho de
Segurança da ONU (Organização
das Nações Unidas). O tema é
prioridade da política externa do
governo federal.
Lula recebeu o apoio direto do
governo haitiano. Em discurso,
ainda no aeroporto da cidade, o
primeiro-ministro do Haiti, Gérard Latortue, manifestou o apoio
oficial do país para que o Brasil lidere um processo de reforma da
ONU, com sua conseqüente indicação definitiva na instituição.
"Quero em primeiro lugar expressar que a decisão brasileira de
enviar tropas ao Haiti foi tomada
em atendimento a um chamado
do Conselho de Segurança da
ONU. É ele o órgão que tem um
mandato para definir as ações em
favor da preservação da paz e da
segurança internacional", afirmou Lula em discurso na sede das
tropas brasileiras no Haiti.
E ainda ensaiou palavras que
deve levar à sede da ONU, nos
EUA, no mês que vem. Falou de
"justiça social", de "combate
mundial à fome" e "crianças sem
educação".
Lula ficou cerca de nove horas
ontem no país. Chegou por volta
das 8h45 (10h45 no Brasil), tendo
antes feito visita oficial à República Dominicana. Saiu cinco minutos antes de terminar a partida e
seguiu direto para o aeroporto de
Porto Príncipe, de onde embarcaria para o Brasil. No Haiti, Lula falou por três vezes, em nenhuma
delas de improviso. Em todas as
ocasiões enalteceu a importância
internacional do Brasil e seu papel
estratégico no processo de democratização do Haiti.
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