|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Elio Gaspari
Os ProCartolas é a loteria da decadência
NOSSO GUIA CRIOU a décima loteria federal. É a ProCartolas, atende pelo nome de Timemania e é um exemplo de iniqüidade e decadência. Destina-se a tomar dinheiro do andar de baixo para
cobrir delinqüências fiscais da cartolagem dos clubes de futebol. Eles
devem à Viúva algo como R$ 1,9 bilhão. Campeão brasileiro, o calote do
Flamengo está em R$ 150 milhões.
É iniqüidade porque vai buscar no
andar de baixo o dinheiro que desapareceu no de cima. De cada dez
apostadores das loterias federais, oito têm renda inferior a três salários
mínimos. Neste ano a Caixa Econômica poderá arrecadar R$ 6 bilhões
com as loterias, e o governo fica com
mais da metade desse ervanário.
A voracidade do Estado em cima
dos sonhos da patuléia vem desde o
século 3 antes de Cristo, quando a
dinastia Han usou o jogo para financiar o final da construção da Grande
Muralha. O ProCartolas é um indicador de decadência porque enquanto o imperador dos chins fez a
muralha para proteger todo o seu
povo, Nosso Guia cevará senhores
feudais dos clubes de futebol que
não pagaram impostos ou contribuições. Eles receberão 20% do valor
arrecadado com as apostas. É a primeira loteria que nasce para beneficiar roleta viciada.
Percebe-se o alcance de decadência política quando se vê que a dinastia Lula já criou uma jogatina (Lotofácil) dizendo que o dinheiro iria para o Fome Zero. Patranha. Foi para
as burras do Planalto. Pior: em 2004
anunciou-se outra forma de tavolagem, um sorteio especial da Megasena no fim do ano, com o propósito de
ajudar o financiamento do ensino
superior. A idéia maturou na gaveta
e, na sua nova roupagem, financiará
sonegadores.
Na justiça americana o "Cansei" já ganhou
O juiz Frederico Moreno,
da Flórida, aderiu ao movimento "Cansei", liderado pelo doutor Luís Flávio Borges
D'Urso, presidente da Ordem dos Advogados de São
Paulo. Cansado de patranhas
e de latino-americanos que
se julgam acima das leis do
país, condenou o apóstolo
Estevam Hernandes e sua
mulher, a bispa Sônia, a dez
meses de cana. Em janeiro
passado, a dupla foi apanhada entrando nos Estados
Unidos com US$ 56 mil escondidos em malas, mochilas
e até mesmo na capa de uma
Bíblia. Haviam declarado
que traziam apenas o limite
legal de US$ 10 mil mas, na
cadeia, confessaram a delinqüência.
O doutor D'Urso é o incansável advogado da dupla no
Brasil. Quando eles foram
presos, disse o seguinte: "Por
um equívoco no preenchimento da declaração aduaneira quanto aos valores
transportados pela família,
foram chamados a prestar
esclarecimentos perante as
autoridades locais". Menos.
Eles foram presos, fichados e
soltos condicionalmente,
com tornozeleiras eletrônicas. Pagaram o sinal de uma
fiança de US$ 250 mil. Desde
então, obrigaram-se a permanecer em Miami. D'Urso
não deveria ter acreditado
em quem lhe contou a história do engano inocente e,
quem a ouviu dele, teria feito
melhor se dela duvidasse.
Como a Justiça americana
não se cansa, a bispa e o apóstolo puderam escolher: na tese do "equívoco", ou similar,
iriam a júri onde uma condenação custaria até dez anos
de cadeia. Confessando a
malfeitoria, saía mais barato.
O apóstolo Hernandes já
relacionou seus padecimentos judiciais com "artimanhas do demônio". Em certa
ocasião, o casal esteve foragido por 19 dias. Pelo visto, o
Coisa Ruim está forte na Justiça americana. D'Urso poderia convidar Frederico Moreno para duas palestras no
Brasil, uma na sua OAB e outra no "Cansei". Esse juiz entende de combate à impunidade.
PATRULHA
A Justiça do Trabalho condenou a empresa de teleatendimento TNL Contax (um ramo
da Telemar) a pagar R$ 4.000
a uma funcionária e mais
R$ 2.600 por litigância de má-fé. A trabalhadora tinha direito
a cinco minutos por dia para
usar o banheiro. Não podia passar disso. Com algumas variações, a patrulha urinária é comum nesse mercado.
Como não adianta reclamar
genericamente, é o caso de lembrar aos clientes das empresas
que contratam o atendimento
da TNL Contax que do outro lado da linha pode estar uma brasileira com banheiro tabelado.
Aqui vão dez clientes da Contax, certamente desavisados
das normas impostas aos trabalhadores:
Banco Itaú, Banco Real ABN
Amro, Bradesco, Banco HSBC,
Citibank, Correios, iG, Net,
Unibanco e UOL
O PHD DE LULA
Lula acha que o governo
financia a elite quando dá
US$ 2.000 mensais a bolsistas
que fazem doutorado no exterior. Ele gosta de bolsa, mas
não entende de elite. Ganha
US$ 2.200 da Viúva para não
fazer nada. É o seu Bolsa Ditadura. Com uma diferença: os
bolsistas recebem o dinheiro
por tempo determinado.
Lula diz que "este país conseguiu eleger um presidente da
República que não tem diploma universitário". O país fez
mais: elegeu um sem-diploma
com bolsa de doutorado vitalícia. Pessoas que efetivamente
foram perseguidas e prejudicadas por motivos políticos convivem com a transformação do
ressarcimento numa feira de
picaretagens onde há 15 mil
correntistas no Bolsa Ditadura.
Os beneficiados pelas Bolsas
Doutorado não chegam a mil.
WINSTON LULA
A doutora Denise Abreu é um
perigo. Segundo ela, Winston
Churchill (outro charuteiro)
"veio de uma família pobre e
nem por isso deixou de ser um
estadista". Ele era filho de herdeira milionária com descendente de duque. Pobre era a família do Stálin. A relação da diretora da Anac com Churchill é
outra. Ela faz parte de um grupo a quem se pode dar o avesso
de uma das melhores tiradas de
sir Winston: "Nunca tantos deveram tanto a tão poucos".
JOBIM NO ATAQUE
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, está na comissão de
frente dos hierarcas que pretendem levar Carlos Alberto
Direito, do STJ, para o Supremo, no lugar vago pela aposentadoria de Sepúlveda Pertence.
INFRATÁXIS
O doutor Sérgio Gaudenzi,
presidente da Infraero, poderia
dar um pouco de atenção ao pepino rodoviário que tem na mesa. Admitindo-se que a patuléia
não queira enfrentar as filas
dos táxis de Congonhas e Guarulhos (onde a espera pode chegar a 40 min), ela dispõe do serviço de ônibus. De Guarulhos
ao centro de São Paulo (25 km),
a Airport Service cobra R$ 27.
Tudo bem. Resta saber por que,
no Rio, a Real faz por R$ 3,50 o
caminho do centro ao Tom Jobim (20 km). Em Salvador, terra de Gaudenzi, o mesmo percurso (28 km) custa R$ 4.
ZOTOLLO DO CANSEI
Paulo Zotollo, presidente da
Philips e militante do "Cansei",
disse que "se o Piauí deixar de
existir, ninguém vai ficar chateado". Cobrado, retratou-se:
"Quis dizer o seguinte: o Piauí é
desconhecido e eu não quero
que o Brasil seja um Piauí". O
doutor da Philips deve concordar que há mais gente que conhece o Piauí do que gente que
conhece o Zotollo. Vai daí, pode
haver quem não queira que seu
filho venha a ser um Zotollo.
Texto Anterior: Folha vai sabatinar Delfim Netto no próximo dia 28 Próximo Texto: Jornalismo: Reportagem na política é tema de aula em cátedra Índice
|