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Insatisfação marca opinião
dos ""de bem com a vida"
MÔNICA BERGAMO
da Reportagem Local
Eles estão no topo da pirâmide.
Têm sucesso, prestígio, emprego
garantido e uma boa conta bancária. Ainda assim, criticam o governo. "Estou assustada", diz a
apresentadora Hebe Camargo. "A
decepção é geral", diz o escritor
João Ubaldo Ribeiro. "Queremos
crescer", diz o presidente da
Fiesp, Horácio Lafer Piva.
A Folha ouviu empresários, artistas, escritores, cientistas políticos, cineastas, jogadores de futebol, advogados e apresentadores
de televisão sobre o desempenho
do governo. A maioria se incluiu
entre os que estão incomodados
com a situação do país.
"Aos 70 anos, posso dizer que
nunca em minha vida vi os brasileiros em situação tão delicada",
diz Hebe. "Empresários que lutaram a vida inteira estão quebrando. O desemprego cresce. O presidente tinha que descer dos palácios e ver a pobreza com seus próprios olhos. Talvez ele tomasse
atitudes mais drásticas."
Aos 57 anos, o cineasta Ugo
Giorgetti diz que está tão desiludido quanto Hebe. "Parece que a sina do Brasil é se tornar sempre
pior do que já era." Giorgetti diz
que anda pelas ruas e vê as pessoas cada vez mais miseráveis.
A causa de tudo, acredita, é a
submissão do governo a interesses internacionais. "Nunca fomos
tão subservientes.
Fizemos um
acordo maluco
com o FMI, que
nos obriga a gastar todo o dinheiro nos juros."
O advogado René
Dotti, professor da
Universidade Federal do
Paraná, acredita que, mais do
que seguir o FMI, o presidente sofre uma permanente intimidação
da equipe econômica. "Ele virou
refém dos códigos de dominação
dos economistas, que os usam como instrumento de ameaça para
dizer que, sem eles, as coisas podem piorar ainda mais."
Dotti diz que a falta de decisão
do presidente causa "um sentimento nauseante de insegurança
no país". Mais direto, o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, diz
que "o presidente está muito devagar". Ratinho critica o episódio
em que FHC criticou o Congresso
para, logo depois, se desculpar.
"Ele não tem que pedir desculpas, tem é que exigir que se vote.
Estamos no presidencialismo. O
presidente tem que meter o pé na
mesa e falar: eu quero e pronto."
O cientista político Wanderley
Guilherme dos Santos diz coisa
parecida, com palavras distintas.
"Sem entrar no mérito do acerto
das opções que faz, acho que o governo está trabalhando pouco.
Está fazendo mal até mesmo
aquilo que se propõe a fazer."
O jogador de futebol Raí não
condena a condução da economia, mas sim a falta de uma política social. "Pensei que uma pessoa
com as convicções do presidente
daria mais importância aos problemas sociais. Faltou um plano
radical para essa área, como o que
foi feito para a economia."
Há críticas à privatização. "A última decepção, para mim, foi descobrir que as empresas estatais foram vendidas aos estrangeiros em
reais, e não em dólares. Saíram
baratíssimas", diz o escritor João
Ubaldo Ribeiro.
O presidente encontrou uma
defensora entusiasmada entre as
pessoas entrevistadas pela Folha.
A atriz Beatriz Segall acredita que
FHC é um político "extremamente corajoso" por "tomar medidas
que estão de acordo com a consciência dele e com as necessidades
do país". Entre o apoio da atriz e a
crítica ácida do músico Tom Zé,
para quem FHC significa "a falência da utopia universitária", estão
aqueles que podem ser definidos
como insatisfeitos, mas otimistas.
É o caso dos empresários, que se
dizem empolgados com a nomeação do novo ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias. "O
projeto de desenvolvimento deve
deslanchar, o que trará enormes
benefícios à popularidade do presidente, que chegou ao fundo do
poço", diz José Carlos Grubisich,
presidente da Rhodia. "Estou insatisfeito com a situação em que a
indústria se encontra, mas esperançoso com as possibilidades
que se abrem", completa o presidente da Fiesp, Horácio Piva.
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, critica a lentidão na aprovação das
reformas estruturais, mas se diz
otimista. "O cenário externo está
melhorando e a estrutura do governo também. Hoje os ministros
formam um time de primeira."
A modelo Suzana Alves, a Tiazinha, também se diz otimista. Ela
conta que sua vida melhorou e
que pelo menos, hoje, a moeda é
estável. Acha que o governo está
fazendo mudanças importantes, e
que as pessoas têm que ser pacientes até que os bons resultados
apareçam. "Brasileiro quer tudo
muito rápido", diz.
O cineasta Anselmo Duarte,
consagrado pelo filme "O Pagador de Promessas", diz que esperou bastante. "Tenho 79 anos.
Trabalhei 45 anos, ganhei prêmios, ergui a bandeira do Brasil
no mundo todo. Ao longo desse
tempo, recolhi vinte salários mínimos para me aposentar com
dignidade." Ao contrário dos outros entrevistados pela Folha, o
diretor leva uma vida de dificuldades. "Hoje, eu vivo com R$
1.200,00 por mês." Anselmo
Duarte foi convidado para dirigir
um filme na França. Pensa em se
mudar para lá. "O Brasil está desgovernado", diz.
Colaboraram Ricardo Reviriego e Alexandre Gimenez
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