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INTEGRAÇÃO
Organizadores levam resultados sobre a Alca e ouvem que estão discutindo "Papai Noel", algo que ainda não existe
Embaixadora dos EUA recebe plebiscito
SÍLVIA FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O resultado do plebiscito nacional sobre a Alca -em que quase
100% dos 10,1 milhões de pessoas
que votaram condenaram a participação do Brasil no bloco econômico- foi entregue ontem à embaixadora dos Estados Unidos no
Brasil, Donna Hrinak, por uma
comissão de representantes das
entidades organizadoras.
Por quase uma hora, estiveram
reunidos com a embaixadora representantes de movimentos sociais e da esquerda brasileira, como o líder do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) João Pedro Stedile, o candidato à Presidência pelo PSTU,
José Maria de Almeida, e o bispo
dom Franco Masserdotti, que representou a CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil).
O plebiscito, realizado entre os
dias 1º e 7 deste mês, foi organizado por sindicatos, entidades sociais e partidos políticos.
Apesar do clima de cordialidade
-em que a embaixadora disse
ser filha de metalúrgico e, por isso, estar à vontade para debater
com trabalhadores-, as posições
antagônicas ficaram evidentes.
Segundo declarações dos participantes do encontro, a embaixadora defendeu a criação da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) e a adoção do livre comércio como solução para a pobreza na América Latina.
"Um dos momentos mais importantes foi quando ela [Donna
Hrinak" reconheceu que o problema mais sério hoje da América
Latina é a pobreza e que existem
80 milhões de pessoas que ganham menos de US$ 1. Nós dissemos que só existem esses 80 milhões de pobres porque as multinacionais norte-americanas vêm
aqui nos explorar", disse Stedile.
A embaixadora não respondeu.
Em uma nota divulgada mais
tarde, Donna Hrinak afirmou ter
recomendado que evitassem
"prejulgar qualquer acordo que
venha a resultar do processo de
negociação" e defendeu que todos
os segmentos da sociedade sejam
ouvidos nas negociações.
Em nenhum momento a embaixadora considerou a possibilidade de o Brasil estar fora das negociações, como sugeriu o resultado do plebiscito.
Segundo o representante da
CNBB, Donna Hrinak defendeu
que primeiro seja criada a Alca
para depois discutir os resultados.
"O que nos impressionou foi ela
ter dito que estamos discutindo
sobre Santa Claus [figura equivalente a Papai Noel nos EUA], algo
que ainda não existe. Nós entendemos que a democracia é a construção coletiva daquilo que é a voz
do povo", disse dom Franco. Segundo o candidato do PSTU, esta
foi a primeira vez que a embaixadora ouviu uma opinião "honesta
e verdadeira do povo brasileiro".
Para o ministro Sergio Amaral
(Desenvolvimento), o debate é relevante. "Acho muito importante
que haja um amplo debate sobre a
Alca. Que a opinião pública seja
esclarecida. Esse debate tem de
ser feito com base em informações concretas", afirmou o ministro.
A Alca é uma proposta de integração comercial que abrangeria
todos os países das Américas, exceto Cuba. Segundo o projeto, os
países-membros do bloco teriam
entre si preferências tarifárias.
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