São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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INTEGRAÇÃO

Organizadores levam resultados sobre a Alca e ouvem que estão discutindo "Papai Noel", algo que ainda não existe

Embaixadora dos EUA recebe plebiscito

SÍLVIA FREIRE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado do plebiscito nacional sobre a Alca -em que quase 100% dos 10,1 milhões de pessoas que votaram condenaram a participação do Brasil no bloco econômico- foi entregue ontem à embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, por uma comissão de representantes das entidades organizadoras.
Por quase uma hora, estiveram reunidos com a embaixadora representantes de movimentos sociais e da esquerda brasileira, como o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile, o candidato à Presidência pelo PSTU, José Maria de Almeida, e o bispo dom Franco Masserdotti, que representou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O plebiscito, realizado entre os dias 1º e 7 deste mês, foi organizado por sindicatos, entidades sociais e partidos políticos.
Apesar do clima de cordialidade -em que a embaixadora disse ser filha de metalúrgico e, por isso, estar à vontade para debater com trabalhadores-, as posições antagônicas ficaram evidentes.
Segundo declarações dos participantes do encontro, a embaixadora defendeu a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a adoção do livre comércio como solução para a pobreza na América Latina.
"Um dos momentos mais importantes foi quando ela [Donna Hrinak" reconheceu que o problema mais sério hoje da América Latina é a pobreza e que existem 80 milhões de pessoas que ganham menos de US$ 1. Nós dissemos que só existem esses 80 milhões de pobres porque as multinacionais norte-americanas vêm aqui nos explorar", disse Stedile. A embaixadora não respondeu.
Em uma nota divulgada mais tarde, Donna Hrinak afirmou ter recomendado que evitassem "prejulgar qualquer acordo que venha a resultar do processo de negociação" e defendeu que todos os segmentos da sociedade sejam ouvidos nas negociações.
Em nenhum momento a embaixadora considerou a possibilidade de o Brasil estar fora das negociações, como sugeriu o resultado do plebiscito.
Segundo o representante da CNBB, Donna Hrinak defendeu que primeiro seja criada a Alca para depois discutir os resultados. "O que nos impressionou foi ela ter dito que estamos discutindo sobre Santa Claus [figura equivalente a Papai Noel nos EUA], algo que ainda não existe. Nós entendemos que a democracia é a construção coletiva daquilo que é a voz do povo", disse dom Franco. Segundo o candidato do PSTU, esta foi a primeira vez que a embaixadora ouviu uma opinião "honesta e verdadeira do povo brasileiro".
Para o ministro Sergio Amaral (Desenvolvimento), o debate é relevante. "Acho muito importante que haja um amplo debate sobre a Alca. Que a opinião pública seja esclarecida. Esse debate tem de ser feito com base em informações concretas", afirmou o ministro.
A Alca é uma proposta de integração comercial que abrangeria todos os países das Américas, exceto Cuba. Segundo o projeto, os países-membros do bloco teriam entre si preferências tarifárias.


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