São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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PRESIDENTE

Índice de eleitores que declaram ter candidato bate recorde e empurra campanha para mata-mata por votos

Dentro do foco

ROBERTO DIAS
RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO

A taxa de eleitores que dizem já ter candidato a presidente é a mais alta desde que o país voltou a ter eleição direta para o cargo.
E é inédito também que ela venha se mantendo num patamar de cerca de 90% desde maio.
O fenômeno pode estar na raiz do tiroteio que tomou conta da campanha eleitoral.
Com tanta gente dizendo-se definida durante tanto tempo, é provável que os eleitores com candidato escolhido em maio sejam os mesmos de hoje. Eles apenas trocaram o nome pretendido.
Ganha importância, portanto, na estratégia de conquista de votos dos candidatos, a tomada de eleitores dos rivais. O que abre a porta para uma campanha como a atual, em que se tornou cada vez mais importante desconvencer o eleitor do adversário -já que o contingente sem opção definida está abaixo do índice histórico, limitando o espaço de manobra dos estrategistas.
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, aponta o alto grau de informação que bombardeia o eleitor nesta campanha como possível causa do baixo índice de indefinição.
"A cobertura da mídia é a maior da história, e a propaganda está usando estratégias de marketing mais desenvolvidas, que tornaram o horário eleitoral mais persuasivo", diz Paulino, que conclui: "O eleitor está muito mais exposto hoje".
Nesse novo cenário do eleitorado, os candidatos partem para "desconstruções simultâneas", como define Paulino, numa referência à tática de campanha que o tucano José Serra pôs em prática contra Ciro Gomes (PPS) e que agora engrena contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva .
O índice de 10% de eleitores sem candidato definido, apurado desde maio pelo Datafolha em suas pesquisas estimuladas (aquelas em que é apresentada uma lista de candidatos ao entrevistado), corresponde, em suma, à soma dos que pretendem votar em branco ou nulo e dos que declaram não saber ou ter em quem votar.
Traduzindo, cerca de 90% se decidem por um candidato quando confrontados com a lista dos nomes em disputa -na chamada pesquisa estimulada.
Em eleições anteriores, a taxa de eleitores "sem candidato" se manteve num patamar superior a 15% nos três meses que antecederam a votação em primeiro turno (veja gráfico acima).
Para ilustrar a hipótese de que a taxa de "sem candidato" cai com informação, Paulino menciona as eleições para governador. Em São Paulo, por exemplo, numa eleição que tem tido menos cobertura que a presidencial, na última pesquisa feita pelo Datafolha, 16% não citaram candidato ao governo na pesquisa estimulada.
A atual eleição presidencial se diferencia das anteriores pela precocidade de seu início e pelo espaço inédito que tem ocupado na Rede Globo, a emissora de televisão líder de audiência no país.
Não há paralelo, no histórico das três eleições realizadas no país desde 1989, em que a taxa a um mês da votação não tenha sido mais baixa do que a de três meses antes da abertura das urnas.
O índice de 10% de eleitores sem candidato apurado desde maio já era, inclusive, maior do que os 13% detectados em 1989 num estágio semelhante ao atual, muito mais próximo da eleição.
A campanha de 1989, aliás, é a única que supera a atual em uma taxa de definição dos eleitores, a apontada pela pesquisa espontânea (aquela em que não é apresentado nenhum nome ao entrevistado). A parcela de eleitores sem candidato é de 41% a um mês da eleição -contra 46% em 1998, 51% em 1994 e 35% há 13 anos.
Outra novidade nessas eleições é o eleitorado feminino, que tem trocado de opiniões mais do que antes. "É um eleitorado que tem ousado mais", afirma Paulino. Além disso, tem mantido o nível de indecisão mais alto -na última pesquisa, estava em 11%.



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