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PRESIDENTE
Índice de eleitores que declaram ter candidato bate recorde e empurra campanha para mata-mata por votos
Dentro do foco
ROBERTO DIAS
RENATO FRANZINI
DA REDAÇÃO
A taxa de eleitores que dizem já
ter candidato a presidente é a
mais alta desde que o país voltou a
ter eleição direta para o cargo.
E é inédito também que ela venha se mantendo num patamar
de cerca de 90% desde maio.
O fenômeno pode estar na raiz
do tiroteio que tomou conta da
campanha eleitoral.
Com tanta gente dizendo-se definida durante tanto tempo, é provável que os eleitores com candidato escolhido em maio sejam os
mesmos de hoje. Eles apenas trocaram o nome pretendido.
Ganha importância, portanto,
na estratégia de conquista de votos dos candidatos, a tomada de
eleitores dos rivais. O que abre a
porta para uma campanha como
a atual, em que se tornou cada vez
mais importante desconvencer o
eleitor do adversário -já que o
contingente sem opção definida
está abaixo do índice histórico, limitando o espaço de manobra
dos estrategistas.
O diretor-geral do Datafolha,
Mauro Paulino, aponta o alto
grau de informação que bombardeia o eleitor nesta campanha como possível causa do baixo índice
de indefinição.
"A cobertura da mídia é a maior
da história, e a propaganda está
usando estratégias de marketing
mais desenvolvidas, que tornaram o horário eleitoral mais persuasivo", diz Paulino, que conclui: "O eleitor está muito mais
exposto hoje".
Nesse novo cenário do eleitorado, os candidatos partem para
"desconstruções simultâneas",
como define Paulino, numa referência à tática de campanha que o
tucano José Serra pôs em prática
contra Ciro Gomes (PPS) e que
agora engrena contra o petista
Luiz Inácio Lula da Silva .
O índice de 10% de eleitores sem
candidato definido, apurado desde maio pelo Datafolha em suas
pesquisas estimuladas (aquelas
em que é apresentada uma lista de
candidatos ao entrevistado), corresponde, em suma, à soma dos
que pretendem votar em branco
ou nulo e dos que declaram não
saber ou ter em quem votar.
Traduzindo, cerca de 90% se decidem por um candidato quando
confrontados com a lista dos nomes em disputa -na chamada
pesquisa estimulada.
Em eleições anteriores, a taxa de
eleitores "sem candidato" se
manteve num patamar superior a
15% nos três meses que antecederam a votação em primeiro turno
(veja gráfico acima).
Para ilustrar a hipótese de que a
taxa de "sem candidato" cai com
informação, Paulino menciona as
eleições para governador. Em São
Paulo, por exemplo, numa eleição
que tem tido menos cobertura
que a presidencial, na última pesquisa feita pelo Datafolha, 16%
não citaram candidato ao governo na pesquisa estimulada.
A atual eleição presidencial se
diferencia das anteriores pela precocidade de seu início e pelo espaço inédito que tem ocupado na
Rede Globo, a emissora de televisão líder de audiência no país.
Não há paralelo, no histórico
das três eleições realizadas no país
desde 1989, em que a taxa a um
mês da votação não tenha sido
mais baixa do que a de três meses
antes da abertura das urnas.
O índice de 10% de eleitores sem
candidato apurado desde maio já
era, inclusive, maior do que os
13% detectados em 1989 num estágio semelhante ao atual, muito
mais próximo da eleição.
A campanha de 1989, aliás, é a
única que supera a atual em uma
taxa de definição dos eleitores, a
apontada pela pesquisa espontânea (aquela em que não é apresentado nenhum nome ao entrevistado). A parcela de eleitores
sem candidato é de 41% a um mês
da eleição -contra 46% em 1998,
51% em 1994 e 35% há 13 anos.
Outra novidade nessas eleições
é o eleitorado feminino, que tem
trocado de opiniões mais do que
antes. "É um eleitorado que tem
ousado mais", afirma Paulino.
Além disso, tem mantido o nível
de indecisão mais alto -na última pesquisa, estava em 11%.
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