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OLHAR ESTRANGEIRO
Por que a corrupção sumiu do debate?
JUAN ARIAS
Existe uma grande ausência
nos debates presidenciais que
não deixa de causar espanto aos
analistas europeus: a corrupção.
É um tema tabu que ninguém se
atreve a abordar e que todos estão
afastando dos debates.
Será que a corrupção não existe
no Brasil? Ou será que todos os
partidos têm seus esqueletos próprios escondidos e estão com medo de abrir as portas de seus armários?
Entretanto, basta sair às ruas e
perguntar às pessoas para ver que
a corrupção é um assunto que
mobiliza a todos, que causa revolta profunda e é vista pelos cidadãos comuns como a causa dos
piores males que afligem o país.
Brecht já dizia que ""o pior dos
bandidos é o político corrupto".
E a população sabe que isso é
verdade. Como, também, sabe
que a corrupção não se restringe à
área política, mas invade todas as
esferas do poder e todas as instituições. "Houve corrupção", foi a
primeira coisa que declarou o secretário de Segurança do Estado
do Rio no dia da mais recente tragédia na penitenciária de Bangu.
Impunidade
O pior de tudo é que a corrupção
brasileira possui uma característica que a agrava: a impunidade.
Talvez o que mais se assemelhe a
ela seja a máfia italiana que cobri
durante os 30 anos em que fui
correspondente em Roma.
A cultura da Máfia, com sua capacidade de corrupção e seu alto
grau de impunidade, tinha contagiado as pessoas e acabou arrastando para o abismo toda a classe
política que governou o país durante 40 anos.
Mais do que a própria corrupção, foi a impunidade dos mafiosos e corruptos que causou uma
sangria na Itália, que era um dos
países europeus de mais força e
prestígio.
É claro que a corrupção existe
em todo o mundo. É claro que ela
existe nos Estados Unidos e na
Europa, possivelmente maior e
mais ampla do que no Brasil. Mas
há uma diferença fundamental.
Na Europa e nos Estados Unidos,
a impunidade para corruptos é
muito menor. Quando se descobre um corrupto, ele é castigado
severamente.
Helmut Kohl, o grande reunificador das duas Alemanhas, um
dos políticos de maior prestígio do
mundo, caiu vítima da corrupção
e desapareceu por completo da vida pública.
Na França, houve até ministros
que cometeram suicídio quando
foi descoberta sua corrupção, e,
na Espanha, o governo socialista
de Felipe González, que tinha tido
o mérito de transformar a arcaica
e pobre Espanha franquista num
país moderno e próspero, perdeu
inexoravelmente seu poder nas
urnas em razão da corrupção de
alguns membros do partido governista.
Os países desenvolvidos têm
corrupção, mas não há complacência nem impunidade para
com ela. O Brasil, um país com
tantas possibilidades para o futuro, seria diferente se tomasse uma
atitude mais severa e radical
diante da impunidade dos corruptos.
Além disso, como dizia Betinho,
o Brasil "tem fome de ética e passa fome em consequência da falta
de ética na política", ou seja, por
causa da corrupção.
Os candidatos presidenciais
-que, felizmente, não parecem
estar pessoalmente envolvidos em
casos de corrupção- estão perdendo uma grande chance diante
de seus eleitores ao retirarem da
pauta o tema tão candente da
corrupção.
A que se deve tanto medo de enfrentar essa questão?
JUAN ARIAS, correspondente no Brasil
do jornal espanhol "El País", escreve
mensalmente nesta seção, às quintas
Tradução de Clara Allain
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