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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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DANÇA NO PODER

Insatisfeito com política de filiações, ministro troca críticas com Freire e diz que direção da sigla é "autoritária"

Ciro ataca o PPS e recebe aceno do PTB

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Um dia depois de ameaçar renunciar à vice-presidência do PPS, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) atacou a direção do partido, que classificou de "autoritária".
O presidente da sigla, Roberto Freire (PE), contra-atacou afirmando que Ciro é "uma vítima de suas incontinências e inconveniências verbais".
"Não tenho vocação para ser mandado por coronel. Nem estou chamando ninguém de coronel", disse Ciro.
"Acho que ele está preparando terreno para ir para o PTB. É, parece-me, o partido mais conveniente aos seus interesses", rebateu Freire.
"Eu não pretendo sair. Mas não dá mais para disfarçar que eu estou insatisfeito com a forma com que se administra o partido", afirmou o ministro ontem, após um almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Itamaraty.
"Se ele espera que eu vá transformá-lo em vítima, está enganado. Até porque ele já é vítima de suas incontinências e inconveniências verbais", disse Freire ao tomar conhecimento das declarações do ministro.
O bate-boca entre Ciro Gomes e Roberto Freire, recorrente nas relações entre os dois correligionários, expôs a radicalização das divergências entre o ministro da Integração Nacional e o deputado federal nas últimas semanas.
Ciro defende a ampliação das bancadas do PPS no Congresso para que a sigla mantenha uma posição de peso na base de sustentação política do governo.
Freire defende o crescimento da legenda por meio das eleições.
A correlação de forças deve mudar com a entrada do PMDB na coalizão.

Convite do PTB
Impaciente, Ciro passou a patrocinar adesões ao PTB de deputados e senadores que pensavam em ir para o PPS. E foi além, estimulando a saída de congressistas da sigla.
No Senado, a bancada, que tinha três representantes, acabou reduzida à senadora Patrícia Gomes (CE), cuja filiação também vem sendo tentada pelo PTB.
A atuação de Ciro foi estimulada pelo ministro José Dirceu (Casa Civil). O apoio do PPS ao governo é considerado frágil no Palácio do Planalto.
Além disso, o inchaço do PTB, que tem atraído deputados e senadores de outras legendas, tem evitado que o PMDB cresça muito e venha a ultrapassar o próprio PT entre os partidos que compõem a base.
Ciro Gomes recebeu um convite da direção do PTB para se filiar ao partido. O presidente da legenda, José Carlos Martinez (PR), admite a negociação, mas diz que não há nada definido até agora.
O bate-boca entre Ciro e Freire começou reservadamente na reunião da Executiva Nacional do PPS realizada na noite de terça-feira. Num dos intervalos da reunião, enquanto Freire ia ao plenário da Câmara dos Deputados, onde era votada a reforma tributária, Ciro fez um longo desabafo. Chegou a ameaçar com a renúncia à vice-presidência.
Mais tarde, discutiu com Freire sobre a política de filiações. Freire disse que o PPS não tinha restrições a ele, tanto que o ministro fora duas vezes, em 1998 e em 2002, candidato do partido a presidente da República.

Nota de Freire
Ontem, ao ser divulgada a ameaça de renúncia de Ciro, Freire preparou uma nota negando as divergências. A nota tinha cinco itens. Estava sendo redigida quando Freire tomou conhecimento das declarações do ministro no Itamaraty. Rapidamente foi redigido um sexto item, no qual o PPS lamenta as afirmações de Ciro Gomes.
"O PPS, em sua longa trajetória, desde o antigo PCB [Partido Comunista Brasileiro, que deu origem à atual sigla], sempre teve uma boa relação com militares democráticos do Brasil, nunca com coronéis da política."
Foi uma referência ao tempo em que Ciro militava no antigo PDS, partido de sustentação do regime militar (1964-1985).


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