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ÁGUA ESPRAIADA
Verba desviada foi usada para comprar ouro
JANAÍNA LEITE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de R$ 4,5 milhões desviados da abertura da avenida Água
Espraiada (atual Jornalista Roberto Marinho) foram usados para a
compra de ouro. Quem comprou
as 1.400 barras do metal na BM&F
(Bolsa de Mercadorias e Futuros),
em 1998, foi Najun Turner -que
participou da "Operação Uruguai", empréstimo forjado em
1992 para explicar os gastos do ex-presidente Fernando Collor.
O Ministério Público Estadual e
o Ministério Público Federal suspeitam que Turner fez a compra
para o ex-prefeito Paulo Maluf.
Adilson Laranjeira, assessor do
ex-prefeito, disse que compra de
ouro é "mentira" de promotores.
Um outro doleiro, Vivaldo Alves, o Birigüi, disse à Polícia Federal ter enviado para o exterior US$
161 milhões para Maluf. O ex-prefeito e seu filho Flávio foram presos depois de a PF ter gravado
conversas em que tentavam convencer Birigüi a não revelar a existência de contas de Maluf lá fora.
O doleiro revelou a movimentação de dólares no exterior num
acordo de delação premiada. Procuradores e promotores negociam um acordo similar com Turner. Eles acreditam que o doleiro
também fazia operações de remessa de dólares para Maluf.
Turner tem ao menos um ponto
de contato com Maluf. Ele possuía ligações com a corretora
Split, que se beneficiou do esquema de precatórios da Prefeitura
de São Paulo. A CPI dos Precatórios, de 1997, responsabilizou Maluf pelo prejuízo de R$ 11,6 milhões que a prefeitura teve entre
1993 e 1995, em sua gestão.
Na lista de pessoas que receberam recursos da Natimar, empresa que está sendo investigada sob
a suspeita de pertencer a Turner,
consta o nome de Daniele Kemmer Janene. Ela é filha de um outro político do PP, o deputado federal José Janene. Teria sido beneficiada com R$ 15 mil. O nome
da secretária de Janene, Rosa Alice Valente, também aparece no
rol de beneficiados pela Natimar.
Ele teria recebido R$ 113,3 mil.
Janene afirma ter feito um contrato de investimento registrado
na BM&F com a Bônus-Banval e
não sabe por que os recursos dele
passaram pela Natimar. Ele disse
ter pedido explicações à corretora. Janene conta que foi ele quem
indicou a filha e a secretária para
receberem o resultado do investimento. Ele nega conhecer Turner.
Para esclarecer qual é o papel da
Natimar no imbróglio do mensalão, a PF decidiu ouvir o sócio-administrador da empresa, o argentino Carlos Alberto Quaglia. A
Natimar tornou-se conhecida na
esteira da Bônus-Banval, corretora que repassou dinheiro do publicitário Marcos Valério de Souza para políticos da base aliada.
Em depoimento à PF, o sócio da
Bônus-Banval Enivaldo Quadrado afirmou que R$ 6,5 milhões
vindos das empresas de Marcos
Valério foram depositados na
conta que a Natimar mantinha na
corretora. Os recursos, disse, foram aplicados em ouro e na
BM&F. Valério nega. Diz que jamais teve contato com a Natimar.
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