São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Senado paga salário de servidora que trabalha na sede do PT

Funcionária do gabinete de Tião Viana (PT) assessora o tesoureiro da sigla; senador afirma que ela atuava no PT para ele e que prática é comum nas demais legendas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ter seu salário pago desde fevereiro deste ano pelo Senado Federal, Silvania Gomes Temóteo, que é servidora do gabinete do 1ª vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC), trabalha de fato na sede nacional do PT, em Brasília, onde é assessora do tesoureiro do partido, Paulo Ferreira.
Sua nomeação para o cargo de assessora parlamentar-1 (AP-1) aconteceu no dia 13 de fevereiro, alguns dias depois da eleição da Mesa Diretora do Senado que elegeu Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência e Tião Viana para a 1ª vice-presidência. Desde então, ela recebe R$ 6.773,41 mensais, além de um auxílio alimentação de cerca de R$ 560.
Tião Viana não vê "desvio ético" em contratar uma assessora pelo gabinete enquanto ela trabalha para o PT. Segundo o senador, Silvania atendia ao seu mandato atuando na máquina partidária. "Não conheço um partido -do PMN ao PSOL, passando pelo PSDB e outros- que não use esse expediente", afirmou o petista.

"Pecado político"
Para Tião, é importante que o parlamentar acompanhe os "debates partidários" sobre temas que podem ter relações com seu mandato. "Eu, por exemplo, sou contra o aborto. Tenho de acompanhar o debate do PT sobre o tema", afirmou.
"Se meu único pecado político é esse, sinceramente, tenho certeza de que irei para o céu", afirmou o senador.
Ele disse que, embora tenha certeza de que não cometeu nenhuma irregularidade, já requisitou que a funcionária passe a dar expediente exclusivamente em seu gabinete.
Em entrevista ao jornal "Correio Braziliense" de ontem, o senador disse que Silvania fazia a "interface" entre o mandato e a organização partidária.
Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), companheiro de partido de Tião e membro do Conselho de Ética da Casa, a decisão de trazer a servidora de volta ao gabinete do Senado foi "prudente" e "adequada".
Suplicy afirma, no entanto, que "outros partidos têm escritórios na sede do Congresso Nacional, com seus servidores pagos pelo próprio Parlamento e que prestam serviços aos partidos".
Já para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), líder do partido, o fato de Silvania ser contratada pelo gabinete e trabalhar no partido configura "desvio de função". "Resta saber, porém, se de fato o trabalho exercido pela servidora tem relação direta com a atuação parlamentar dele [Tião Viana]", disse o senador.
A Folha telefonou ontem para a sede do PT em Brasília, mas não encontrou Silvania. A assessoria do partido afirmou que ela não foi trabalhar. O tesoureiro Paulo Ferreira se encontrava em viagem internacional. A assessoria da 1ª vice-presidência também foi procurada e informou que a servidora esteve no gabinete na manhã de ontem, exatamente para fazer a tal "interface" citada pelo senador.


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