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ELIO GASPARI
Eremildo vai a Mônaco
O idiota quer batalhar
a extradição de Cacciola
com a ajuda de 46 senadores, mais Renan Calheiros
EREMILDO é um idiota. Ao ouvir que o ministro Tarso Genro admite a possibilidade de
viajar a Mônaco para negociar a extradição do vigarista Salvatore Cacciola, resolveu oferecer seus serviços ao governo. Ele pretende pedir
ao companheiro Hugo Chávez que
lhe consiga um avião para levá-lo ao
principado. (Como o líder bolivariano providenciou transporte para devolver os boxeadores Rigondeaux e
Lara ao éden comunista cubano, não
haveria de negar ajuda a uma missão
de resgate de um renegado capitalista capturado no paraíso da plutocracia européia.)
O ministro disse que, "se nossa
presença ajudar a acelerar a extradição, estamos dispostos a viajar, se
necessário". Mônaco no verão é um
sacrifício que Eremildo está disposto a fazer. Se Tarso Genro quisesse ir
ao Rio para procurar o cidadão Jorge da Silva Siqueira Neto, sumido há
duas semanas da favela Kelson's,
não poderia acompanhá-lo.
O idiota sabe que, sozinho, não
trará Cacciola de volta. Por isso, pretende viajar com uma comitiva de
47 senadores, chefiados por Renan
Calheiros. Uma vez na terra, os doutores poderão perder umas horas no
cassino, mas o Eremildo tem outra
devoção. Irá para a catedral de São
Nicolau com uma braçada de flores
de pétalas brancas e rosa. Vai deixá-las no túmulo da princesa Grace
Kelly, que morreu há exatos 25 anos
numa curva de estrada da Côte d'Azur. Ele sabe tudo da vida dela, inclusive da sua premonição, confirmada
por um feiticeiro, de que morreria
num desastre de carro.
O idiota acha que ir a Mônaco para
resgatar Cacciola é uma missão patriótica, porém tem suas dúvidas. Há
um mês, a Justiça local libertou Ted
Maher, o enfermeiro que, na melhor
das hipóteses, provocou a morte por
asfixia do banqueiro Edmond Safra.
Na pior, ele passou oito anos numa
cana com vista para o mar para que
não se fale mais no assunto.
Eremildo acha que o caso poderia
ficar nas mãos da diplomacia brasileira e de um bom advogado de Mônaco. As chances de Cacciola não
chegam a 3 em 10. Extraditado, não
terá o conforto da suíte que usufruiu
no Ponto Zero, no Rio. Um interesse
exibicionista do governo leva água
para a defesa do finório. É verdade
que ele fugiu do Brasil e hoje está
condenado a 13 anos de prisão, mas
também é certo que saiu da cadeia,
antes da sentença, por decisão de
um juiz do Supremo Tribunal Federal. Eremildo acredita que a chegada
do ministro sugeriria que o comissariado tem interesse político no resgate.
Prontifica-se a ir com sua comitiva porque um idiota notório, acompanhado de 47 experimentados senadores, leva outro tipo de mensagem.
Albert 2º, o atual monarca do bairro, pode ajudar o Brasil. Desde 2005,
quando o principado negou residência ao malandraço Sir Mark Thatcher, percebe-se um esforço para livrar o ancoradouro da fama de valhacouto de piratas. (Mark é filho da
padroeira dos papeleiros liberais e
meteu-se num golpe de Estado na
Guiné Equatorial.)
Fica mais fácil para o príncipe dizer que atendeu a um pedido de um
idiota, amparado na lei, do que explicar aos miliardários da côte que
ouviu os argumentos de um ministro cuja polícia extraditou dois atletas cubanos recuperados de um surto de insânia contra-revolucionária.
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