São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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ELIO GASPARI

Eremildo vai a Mônaco

O idiota quer batalhar a extradição de Cacciola com a ajuda de 46 senadores, mais Renan Calheiros

EREMILDO é um idiota. Ao ouvir que o ministro Tarso Genro admite a possibilidade de viajar a Mônaco para negociar a extradição do vigarista Salvatore Cacciola, resolveu oferecer seus serviços ao governo. Ele pretende pedir ao companheiro Hugo Chávez que lhe consiga um avião para levá-lo ao principado. (Como o líder bolivariano providenciou transporte para devolver os boxeadores Rigondeaux e Lara ao éden comunista cubano, não haveria de negar ajuda a uma missão de resgate de um renegado capitalista capturado no paraíso da plutocracia européia.)
O ministro disse que, "se nossa presença ajudar a acelerar a extradição, estamos dispostos a viajar, se necessário". Mônaco no verão é um sacrifício que Eremildo está disposto a fazer. Se Tarso Genro quisesse ir ao Rio para procurar o cidadão Jorge da Silva Siqueira Neto, sumido há duas semanas da favela Kelson's, não poderia acompanhá-lo.
O idiota sabe que, sozinho, não trará Cacciola de volta. Por isso, pretende viajar com uma comitiva de 47 senadores, chefiados por Renan Calheiros. Uma vez na terra, os doutores poderão perder umas horas no cassino, mas o Eremildo tem outra devoção. Irá para a catedral de São Nicolau com uma braçada de flores de pétalas brancas e rosa. Vai deixá-las no túmulo da princesa Grace Kelly, que morreu há exatos 25 anos numa curva de estrada da Côte d'Azur. Ele sabe tudo da vida dela, inclusive da sua premonição, confirmada por um feiticeiro, de que morreria num desastre de carro.
O idiota acha que ir a Mônaco para resgatar Cacciola é uma missão patriótica, porém tem suas dúvidas. Há um mês, a Justiça local libertou Ted Maher, o enfermeiro que, na melhor das hipóteses, provocou a morte por asfixia do banqueiro Edmond Safra. Na pior, ele passou oito anos numa cana com vista para o mar para que não se fale mais no assunto.
Eremildo acha que o caso poderia ficar nas mãos da diplomacia brasileira e de um bom advogado de Mônaco. As chances de Cacciola não chegam a 3 em 10. Extraditado, não terá o conforto da suíte que usufruiu no Ponto Zero, no Rio. Um interesse exibicionista do governo leva água para a defesa do finório. É verdade que ele fugiu do Brasil e hoje está condenado a 13 anos de prisão, mas também é certo que saiu da cadeia, antes da sentença, por decisão de um juiz do Supremo Tribunal Federal. Eremildo acredita que a chegada do ministro sugeriria que o comissariado tem interesse político no resgate.
Prontifica-se a ir com sua comitiva porque um idiota notório, acompanhado de 47 experimentados senadores, leva outro tipo de mensagem.
Albert 2º, o atual monarca do bairro, pode ajudar o Brasil. Desde 2005, quando o principado negou residência ao malandraço Sir Mark Thatcher, percebe-se um esforço para livrar o ancoradouro da fama de valhacouto de piratas. (Mark é filho da padroeira dos papeleiros liberais e meteu-se num golpe de Estado na Guiné Equatorial.)
Fica mais fácil para o príncipe dizer que atendeu a um pedido de um idiota, amparado na lei, do que explicar aos miliardários da côte que ouviu os argumentos de um ministro cuja polícia extraditou dois atletas cubanos recuperados de um surto de insânia contra-revolucionária.


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