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SEGUNDO TURNO
Atriz afirma que não se arrepende de declaração em programa de Serra e que seu "medo" não é sentimento isolado
Toquei num nervo exposto, diz Regina Duarte
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A atriz Regina Duarte afirmou
ontem à Folha, numa rápida conversa, por celular, que não se arrepende do depoimento que fez no
programa eleitoral do candidato
José Serra, na última terça-feira. A
atriz disse que "tocou num nervo
exposto" ao declarar que tinha
"medo" da eleição de Lula, entre
outros motivos porque ela poderia significar a volta da "inflação
desenfreada".
Regina, que passou a semana
recolhida numa fazenda, disse
que só vai se manifestar definitivamente após ler tudo o que foi
publicado sobre ela na imprensa.
Folha - O que você está achando
da polêmica causada pelo seu discurso? Você vai se manifestar, vai
escrever algum artigo?
Regina Duarte - Vou sim. Eu não
sei ainda quando. Preciso dar
uma pensada nisso.
Folha - Você não esperava um impacto tão grande?
Regina - Tem tanto tempo que
eu faço isso. E eu nunca vi acontecer nada assim. A impressão que
eu tenho é que eu toquei num nervo exposto, de um sentimento
enorme que está aí. O meu sentimento não é um sentimento isolado. É um sentimento grande.
Senão, não teria a repercussão
que teve.
Folha - O depoimento foi seu?
Regina - Ah, sem dúvida. Sempre é meu, né? Na medida em que
você assume dizer alguma coisa,
mesmo que você não tenha escrito, você é co-autor. No caso, a autoria é minha mesmo.
Folha - Numa entrevista à revista
"Carta Capital", o Lula disse que te
admira mas que também tem o direito de discordar de suas posições.
Ele afirmou que não contribui em
nada uma atriz de sua estatura
vender o medo para a população.
Regina - Nunca foi minha intenção vender o medo. Eu acho que o
meu depoimento contribuiu para
uma discussão muito importante,
que é a liberdade de expressão e o
medo que todos têm da volta das
patrulhas. O próprio Lula disse
que eu tinha mais era que ter medo das novas atrizes da Globo, o
que não é uma afirmação nem um
pouco elegante. O que eu percebo
é que ele já mudou novamente o
seu discurso, amenizando o tom e
voltando a ser o "Lulinha paz e
amor" que tem vendido.
Folha - Você se sentiu mesmo
"patrulhada", como dizem?
Regina - Num primeiro momento, sim. Muito. Isso, de alguma
forma, foi uma espécie de trailler
de uma possível volta de uma situação que a gente já... Eu fiquei
meio assustada no começo. Mas
agora eu sinto que o tom foi ficando bem mais ameno. As pessoas
perceberam que não dá para viver
tempos de censura e patrulha
ideológica. O direito de expressão
é sagrado na democracia.
Folha - As pessoas que te criticaram dizem isso mesmo: que você
exerceu o direito de se expressar e
criticar, e elas, ao te criticarem,
exerceram igual direito.
Regina - Lógico.
Folha - Por que então definir as
críticas como "patrulha"?
Regina - É uma questão de tom.
Existiu um tom de baixíssimo calão. Coisas assustadoras.
Folha - Você então se sente "patrulhada"?
Regina - Você está me fazendo
avançar num terreno onde eu
preferia amadurecer melhor antes de falar alguma coisa. Eu ainda
estou tomando conhecimento de
como as coisas aconteceram. Tenho recebido muitas manifestações, do Brasil inteiro e queria ter
conhecimento de tudo isso.
Folha - Contra e a favor?
Regina - Muito mais a favor.
Folha - Você se arrependeu?
Regina - De maneira nenhuma.
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