São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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ANÁLISE

Prefeita só não diz quem paga a conta

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se mantiver a tarifa de ônibus em R$ 1,70 ao longo de 2005 inteiro, a Prefeitura de São Paulo completará três anos sem reajuste da passagem, recorde de congelamento em mais de 15 anos, durante os últimos quatro governos (Erundina, Maluf, Pitta e Marta).
Trata-se de uma medida socialmente justa ao beneficiar os usuários do transporte coletivo, majoritariamente de baixa renda, sobre os quais sempre recaiu a elevação dos custos -de 1989 para cá, se a tarifa tivesse subido conforme a inflação, custaria R$ 0,65.
Mas também não há dúvidas de que essa decisão não será resultado de mágica, e alguém terá que pagar a conta -provavelmente a sociedade inteira, por meio de subsídios. Ou então, os próprios passageiros, com uma redução drástica de investimentos em ônibus -e queda de qualidade.
Pelos contratos firmados com as empresas de ônibus/perueiros em julho de 2003, a decisão de subir ou manter a tarifa de ônibus é exclusiva do poder público, podendo ser estritamente política.
Mas, independentemente do valor da passagem cobrada dos usuários, os operadores têm direito, contratualmente, a um valor de remuneração com reajuste a cada 12 meses (por uma fórmula que abrange desde a evolução do combustível à da mão-de-obra).
Em julho de 2004, a prefeitura não concedeu esse reajuste sob a alegação de que ainda vigora uma fase de transição, que acabará logo após as eleições. É improvável imaginar que esses operadores ficarão calados, sem causar turbulências, em 2005 inteiro, ganhando a mesma coisa que hoje, porém tendo mais gastos com diesel e peças -que não congelam.
Até abril deste ano, a prefeitura repassava às empresas de ônibus/ perueiros R$ 17 milhões mensais de subvenções. Em maio, com a implantação do bilhete único, esse montante subiu para R$ 22 milhões. Hoje, atinge R$ 27 milhões. Nada que, na média, vá escapar da expectativa de gastos anuais de R$ 280 milhões para 2004 inteiro.
Mas, por mais que a receita e os gastos estejam equilibrados agora, não há expectativa de que a arrecadação possa aumentar em 2005 a ponto de sobrar dinheiro.

Pitta
Num momento em que Marta e Serra disputam quem carrega a herança de Pitta, vale dizer: o maior congelamento da tarifa desde 1989 foi de dois anos e quatro meses, no final da gestão Pitta.


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