São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Com Lula reeleito, "governo acaba antes de começar", diz Alckmin

Tucano aponta que debates sobre 2010 começarão no dia seguinte em caso de recondução do petista

Abatido pelo resultado do Datafolha, ex-governador de São Paulo acusou petista de "dividir o país" ao "jogar os pobres contra os ricos"


SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após a pesquisa Datafolha apontar aumento da vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou que, caso o petista seja reeleito, o novo governo "acaba antes de começar".
"Já fui reeleito, reeleição é um pouquinho mais do mesmo. Se o Lula fosse reeleito, com todo o respeito, acaba antes de começar", disse o tucano, no início de uma sabatina realizada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em Brasília. "Já começa a discutir 2010 no dia seguinte. Para quê perder quatro anos?", completou.
A declaração foi feita espontaneamente, no primeiro bloco da sabatina, reservado para uma explanação inicial dele.
Abatido pelo resultado da pesquisa -57% a 38% a favor de Lula-, o tucano dedicou o dia para tentar desmentir boatos de que promoveria privatizações caso ganhasse a eleição. A avaliação do comando de sua campanha é que a ameaça, classificada como tática de "terrorismo eleitoral", atingiu em cheio a candidatura.
Para tentar estancar o efeito, a campanha preparou uma jaqueta para o candidato, com os logotipos do Banco do Brasil, dos Correios, da Petrobras e Caixa Econômica Federal.
Além disso, Alckmin foi à sede da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, que tem cerca de 100 mil filiados, vestiu camiseta e boné do banco, e desabafou: "Quero desfazer o boato, me sinto até constrangido de ter que fazê-lo. Meu programa tem 216 páginas, 30 capítulos, e nenhuma linha que trate de privatização".
Ao longo do dia, o tucano falou quatro vezes sobre o tema. "O meu adversário privatizou dois bancos, o Banco do Estado do Maranhão e o Banco do Ceará. Eu não privatizei nenhum."
Apesar de garantir que não negociaria estatais, Alckmin defendeu as privatizações da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Ele citou o setor de telefonia e empresas como a Vale do Rio Doce, Embraer e CSN. "Tanto foram avanços que o governo não reestatizou nenhuma delas."
A ofensiva para tentar desfazer o impacto dos boatos de privatizações mobilizou líderes do PSDB e do PFL. Segundo o comando da campanha, o assunto será levado à propaganda na TV e haverá mobilizações da militância numa ação "antiboataria" com panfletagem.

Pobres contra ricos
Em outra frente de ataque, Alckmin acusou Lula de "dividir o país" e "jogar pobres contra ricos". "O governo não pode estimular divisão. Aliás, o Lula foi muito injusto quando ficou criticando São Paulo, quando São Paulo o acolheu."
Anteontem, em Manaus (AM), Lula disse que Alckmin não conseguiria governar o país porque "é um paulista com a cabeça na avenida Paulista".
Ontem, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que Lula faz um "jogo muito perigoso". "Isso pode ter conseqüências que não é a do país irmanado", disse.
O temor pelo acirramento de uma divisão de classes também foi abordado pelo presidente da OAB, Roberto Busato. "Acredito que essa visão é ponto mais claro e explosivo nesse campo. Esse clima de divisão não faz parte do contexto histórico."


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