São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Barbosa defende diálogo com os EUA e aplicação da lei no caso do gás boliviano

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia trechos da entrevista:

 

FOLHA - O sr. critica a "politização" da política externa. Em que pode ter prejudicado o Brasil?
RUBENS BARBOSA -
A politização das decisões começa nas premissas, na visão de mundo equivocada do PT, no antagonismo entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estamos no mundo globalizado, onde é preciso uma reação muito rápida e um ajustamento a essa nova posição. Como conseqüência dessa visão de mundo, decorreram atitudes na política externa que repercutiram negativamente. Por exemplo, o Brasil quis assumir uma postura de líder da região e isso gerou um certo ressentimento com os vizinhos. O Brasil decidiu reconhecer a China como economia de mercado, trazendo prejuízo, quando poderia ter feito isso até 2012. O Itamaraty sempre teve visão de Estado e essa politização representa o contrário. Estou cansado de ver Celso Amorim em comícios. Fiquei 42 anos lá e nunca tinha visto isso.

FOLHA - Quais serão as prioridades de Alckmin na política externa?
BARBOSA -
O aumento das exportações não resultou da política externa, mas da situação econômica mundial. Crescemos, mas poderíamos ter crescido mais. Não fechamos um acordo que aumentasse significativamente o comércio. O que está no programa do Alckmin é que tem de se dar uma nova prioridade a esses mercados maiores e mais dinâmicos. Não é questão de querer se submeter aos EUA ou aceitar a Alca. É buscar ampliar a participação nos mercados, sem ideologia. Essas oportunidades não estão sendo buscadas porque não há um diálogo significativo com essas economias. Temos de voltar a conversar com os EUA, o que não fizemos nos últimos quatro anos.

FOLHA - Como tirar o Mercosul da crise? Alckmin diz que é a Argentina "bater o pé" que o Brasil aceita. O que mudará na relação com o país?
BARBOSA -
Propomos um amplo debate no Mercosul. É o que também propõe o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez. É necessário saber o que os países querem. É importante debater dentro do Brasil. O MAC [mecanismo de salvaguardas] foi uma imposição da Argentina que aceitamos. Foi uma decisão política. A idéia é discutir concretamente essas restrições.

FOLHA - No caso da Bolívia, Alckmin diz que "o Brasil foi humilhado". O que mudará na negociação?
BARBOSA -
Quando Alckmin mencionou isso não estava pensando em atacar a Bolívia. Ele está falando em aplicar a lei. Qualquer país que tenha bens expropriados a primeira coisa que faz é recorrer a uma corte internacional. Não fazer isso gera insegurança jurídica no continente. É uma situação hoje onde os nossos interesses, aparentemente, não estão sendo defendidos. O que se faria é enviar uma nota dizendo: estamos invocando o tratado de garantias de investimento. No caso do Brasil, é aplicar o contrato do preço do gás: não aceitamos o aumento político do preço.

FOLHA - Morales, Kirchner e Chávez declararam apoio a Lula. Alckmin já fez críticas a eles. Como será o relacionamento com esses países?
BARBOSA -
Isso é normal no calor da campanha. O apoio mostra afinidade ideológica. E as relações se recompõem, porque o Brasil tem um peso e os países têm de conversar com o governo. Haverá interesse nosso de aprofundar relações.


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