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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
PT impôs agenda a Alckmin, dizem cientistas políticos
Para analistas, promessas de tucano próximas às de Lula favorecem voto no presidente
Proposição de Alckmin de negociar o AeroLula reforça boatos de petistas sobre possíveis privatizações, diz Marcus Figueiredo, do Iuperj
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT conseguiram
impor sua agenda nos últimos
dez dias, apoiados no tema das
privatizações, e forçaram o
candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) a um discurso defensivo que favorece o
voto da continuidade em Lula,
dizem cientistas políticos ouvidos pela Folha.
Esse seria um dos principais
fatores a explicar o aumento da
diferença nas intenções de votos favorável a Lula de 11 para
19 pontos -entre as duas últimas pesquisas Datafolha-,
afirma Marcus Figueiredo,
professor do Iuperj (Instituto
Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro).
Para ele e para a cientista política Argelina Figueiredo, também do Iuperj, Alckmin se viu
forçado a declarar, no segundo
turno, que não privatizará e
que não fará modificações no
Bolsa Família -o que, em última instância, significa repetir e
dar aval para o discurso do presidente Lula.
"Se ele diz que vai fazer o que
o outro faz, vamos ficar com
quem já faz e está garantido",
afirma Argelina, expondo o que
considera ser o raciocínio do
eleitor, convertido em votos
para o petista.
Marcus Figueiredo diz ver
ainda um outro problema para
o PSDB na origem do aumento
da desvantagem nas intenções
de voto para Alckmin. Segundo
ele, um fator a reforçar os boatos de que os tucanos "privatizariam tudo" estaria na própria
declaração de Alckmin, durante o debate da TV Bandeirantes, de que, se eleito, venderia o
AeroLula.
"Passou a idéia de que ele
iria, de fato, vender tudo", declara o analista. "Isso correu
entre os eleitores, de boca em
boca."
Mesmo o discurso ético tucano, afirma Argelina, termina
por se tornar vazio na ausência
de fatos novos. "Essa denúncia
da corrupção ficou um pouco
vazia. Fala-se sempre, mas os
fatos são sempre os mesmos."
Marcus Figueiredo lembra
que a taxa de consolidação do
voto indicada pelo Datafolha
divulgado ontem é muito alta
(90% para Alckmin; 91% para
Lula), e que "só uma coisa muito grande seria capaz de mudar
essa eleição".
"Se acontecer um segundo
ou um terceiro dossiê no colo
do Lula, isso pode abalar a candidatura dele", afirma. "E não
só a candidatura, mas poderia
também deflagrar uma crise
institucional."
Bomba atômica
Também para o professor
emérito de ciência política da
UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais) Fábio Wanderley Reis, apenas um fato novo mais impactante ainda que a
divulgação das fotos do dinheiro usado por petistas para a
compra do pretenso dossiê prejudicial aos tucanos, no final do
primeiro turno, seria capaz de
virar o jogo a essa altura.
Um fato, ele diz, de proporções "muito intensas", "uma
espécie de bomba atômica". O
que ele considera difícil. "É improvável que haja um estoque
tão grande de erros [dos petistas]", afirma Reis.
"O voto parece consolidado e
a tendência, creio, é até de que
cresça a vantagem de Lula", diz
o cientista político. Para ele,
"Alckmin devia fazer como os
EUA na Guerra do Vietnã [recomendação feita pelo senador
republicano George Aiken]: declarar vitória e sair fora".
(RAFAEL CARIELLO)
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