São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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CELSO PINTO
Boas notícias no mercado


A Argentina emitiu ontem US$ 1 bilhão em bônus no mercado internacional, com prazo de sete anos. Foi a maior emissão de um país latino-americano desde março deste ano, quando o Brasil colocou US$ 1,25 bilhão.
É mais um bom sinal de recuperação do mercado internacional. Com essa emissão, a Argentina já captou US$ 1,9 bilhão em cinco colocações feitas desde outubro. O sucesso argentino reforçou os rumores sobre uma possível emissão brasileira.
Fala-se em duas hipóteses. A primeira seria o Brasil reabrir uma emissão já feita, de US$ 750 milhões, com vencimento em 2001. Outra seria fazer uma emissão nova, com prazo de cinco anos.
Reabrir uma emissão antiga foi a opção argentina para voltar ao mercado depois da crise. A vantagem é que dá para medir a demanda pelo papel. No caso da emissão brasileira que vence em 2001, existe clara demanda pelo papel, ou seja, muita gente vendeu o papel sem tê-lo.
Prova disto é o preço. Este papel está rendendo 9,6% ao ano, equivalente a um prêmio de risco de apenas 450 pontos básicos acima dos títulos do Tesouro americano de prazo equivalente. Outra emissão brasileira, que vence em 2008, está sendo negociada com um prêmio de 920 pontos básicos, enquanto a emissão com vencimento em 2027 está com prêmio de 850 pontos básicos.
Como existe demanda pelo papel, não seria difícil reabrir a emissão e fazer uma colocação adicional a um preço razoável. O problema é que o mercado certamente não tomaria o prêmio pago como o melhor indicador atual de risco do Brasil.
O mais provável é que o Brasil espere até o início de 99 para voltar ao mercado. Supõe-se que, até lá, poderia haver notícias positivas de votações ligadas ao pacote fiscal, além da formalização do pacote do FMI.
A colocação da Argentina, de todo modo, reforça a sensação de melhora do mercado para países latino-americanos. A emissão de ontem começou planejada para US$ 500 milhões, cresceu para US$ 750 milhões quando veio ao mercado e fechou em US$ 1 bilhão, mas com demanda estimada para até US$ 1,3 bilhão.
Os argentinos pagaram 11% de rendimento, o que corresponde a um prêmio de 632 pontos básicos acima dos títulos do Tesouro americano. É bem mais do que a Argentina pagava antes da crise, mas razoável no cenário da crise recente.
A Argentina reinaugurou o mercado para países emergente dia 16 de outubro, com US$ 250 milhões. Desde então, emitiu títulos no valor de 500 milhões de marcos alemães, 100 milhões de francos suíços, e US$ 300 milhões, além do US$ 1 bilhão de ontem.
Outro sinal positivo, no caso brasileiro, é a normalização na chamada "curva de juros". É natural que, quanto maior seja o prazo, maior seja o rendimento do papel. Durante o pior da crise, contudo, a curva ficou invertida.
Títulos da dívida brasileira de prazo mais curto sofreram um baque maior no preço, o que elevou seu rendimento para níveis superiores aos papéis de prazo maior. Hoje, esta relação voltou a fazer mais sentido.
Tome-se o caso de três papéis de dívida brasileira: o IDU, com duração de um ano, o EI, com duração de 3,7 anos e o C- Bond, com duração de 6,3 anos. No pior da crise, o prêmio do IDU chegou a 3.300 pontos básicos (37% ao ano de rendimento), o do EI a 2.250 (27% ao ano) e o do C-Bond a 1.450 (19% ao ano). Quer dizer, uma completa inversão na curva de juros.
Ontem, o IDU pagava um prêmio de 830 pontos básicos (12,8% ao ano), o EI pagava 1.034 pontos básicos (14,8% ao ano) e o C-Bond 985 pontos básicos (14,7%). O C-Bond ainda paga um prêmio um pouco menor que o do EI, mas a curva faz mais sentido. A redução dos prêmios de risco já é significativa em relação ao pico da crise recente.
O prêmio de risco dos bônus da República do Brasil, como foi dito, varia de 450 pontos básicos (vencimento em 2001) a 920 pontos básicos (2008). Na última grande emissão do governo brasileiro, em 31 de março, de US$ 1,25 bilhão, o prêmio de risco pago por um papel de 10 anos foi de 375 pontos básicos. Como se vê, a situação melhorou, mas ainda está muito longe do que era antes de a Rússia entrar em colapso.




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