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CELSO PINTO
Boas notícias no mercado
A Argentina emitiu ontem
US$ 1 bilhão em bônus no mercado internacional, com prazo
de sete anos. Foi a maior emissão de um país latino-americano desde março deste ano,
quando o Brasil colocou US$
1,25 bilhão.
É mais um bom sinal de recuperação do mercado internacional. Com essa emissão, a Argentina já captou US$ 1,9 bilhão em cinco colocações feitas
desde outubro. O sucesso argentino reforçou os rumores sobre uma possível emissão brasileira.
Fala-se em duas hipóteses. A
primeira seria o Brasil reabrir
uma emissão já feita, de US$
750 milhões, com vencimento
em 2001. Outra seria fazer uma
emissão nova, com prazo de
cinco anos.
Reabrir uma emissão antiga
foi a opção argentina para voltar ao mercado depois da crise.
A vantagem é que dá para medir a demanda pelo papel. No
caso da emissão brasileira que
vence em 2001, existe clara demanda pelo papel, ou seja,
muita gente vendeu o papel
sem tê-lo.
Prova disto é o preço. Este papel está rendendo 9,6% ao ano,
equivalente a um prêmio de
risco de apenas 450 pontos básicos acima dos títulos do Tesouro americano de prazo
equivalente. Outra emissão
brasileira, que vence em 2008,
está sendo negociada com um
prêmio de 920 pontos básicos,
enquanto a emissão com vencimento em 2027 está com prêmio de 850 pontos básicos.
Como existe demanda pelo
papel, não seria difícil reabrir a
emissão e fazer uma colocação
adicional a um preço razoável.
O problema é que o mercado
certamente não tomaria o prêmio pago como o melhor indicador atual de risco do Brasil.
O mais provável é que o Brasil
espere até o início de 99 para
voltar ao mercado. Supõe-se
que, até lá, poderia haver notícias positivas de votações ligadas ao pacote fiscal, além da
formalização do pacote do
FMI.
A colocação da Argentina, de
todo modo, reforça a sensação
de melhora do mercado para
países latino-americanos. A
emissão de ontem começou
planejada para US$ 500 milhões, cresceu para US$ 750 milhões quando veio ao mercado
e fechou em US$ 1 bilhão, mas
com demanda estimada para
até US$ 1,3 bilhão.
Os argentinos pagaram 11%
de rendimento, o que corresponde a um prêmio de 632 pontos básicos acima dos títulos do
Tesouro americano. É bem
mais do que a Argentina pagava antes da crise, mas razoável
no cenário da crise recente.
A Argentina reinaugurou o
mercado para países emergente dia 16 de outubro, com US$
250 milhões. Desde então, emitiu títulos no valor de 500 milhões de marcos alemães, 100
milhões de francos suíços, e
US$ 300 milhões, além do US$ 1
bilhão de ontem.
Outro sinal positivo, no caso
brasileiro, é a normalização na
chamada "curva de juros". É
natural que, quanto maior seja
o prazo, maior seja o rendimento do papel. Durante o pior
da crise, contudo, a curva ficou
invertida.
Títulos da dívida brasileira
de prazo mais curto sofreram
um baque maior no preço, o
que elevou seu rendimento para níveis superiores aos papéis
de prazo maior. Hoje, esta relação voltou a fazer mais sentido.
Tome-se o caso de três papéis
de dívida brasileira: o IDU,
com duração de um ano, o EI,
com duração de 3,7 anos e o C-
Bond, com duração de 6,3 anos.
No pior da crise, o prêmio do
IDU chegou a 3.300 pontos básicos (37% ao ano de rendimento), o do EI a 2.250 (27% ao
ano) e o do C-Bond a 1.450
(19% ao ano). Quer dizer, uma
completa inversão na curva de
juros.
Ontem, o IDU pagava um
prêmio de 830 pontos básicos
(12,8% ao ano), o EI pagava
1.034 pontos básicos (14,8% ao
ano) e o C-Bond 985 pontos básicos (14,7%). O C-Bond ainda
paga um prêmio um pouco menor que o do EI, mas a curva
faz mais sentido. A redução dos
prêmios de risco já é significativa em relação ao pico da crise
recente.
O prêmio de risco dos bônus
da República do Brasil, como
foi dito, varia de 450 pontos básicos (vencimento em 2001) a
920 pontos básicos (2008). Na
última grande emissão do governo brasileiro, em 31 de março, de US$ 1,25 bilhão, o prêmio
de risco pago por um papel de
10 anos foi de 375 pontos básicos. Como se vê, a situação melhorou, mas ainda está muito
longe do que era antes de a
Rússia entrar em colapso.
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