São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Disputa por cargos abre crise no PT do Rio

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

A disputa por cargos federais no Rio abriu uma crise no PT fluminense. Insatisfeitos com a lista oficial de indicações elaborada pelo diretório regional e entregue ontem ao presidente nacional do partido, José Genoino, sete deputados, entre os quais Chico Alencar, um dos líderes da esquerda do PT fluminense, se rebelaram. O grupo teve as indicações vetadas e enviará uma lista à parte.
"Achamos que deveríamos ser ouvidos pelo partido, até porque somos parlamentares, temos uma história pública, mas isso não aconteceu", afirmou a deputada estadual Heloneida Studart.
A crise no PT-RJ é um exemplo da dificuldade que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vem tendo para acomodar os petistas no governo.
O racha expõe ainda o apetite por cargos federais do PT do Rio, que já foi acusado pelo ex-governador Anthony Garotinho (PSB) de ser o "partido da boquinha".
A Folha teve acesso à lista oficial entregue a Genoino. São 304 nomes indicados para 258 cargos, que vão desde diretorias da Petrobras e do BNDES até a de museus, como o do Índio e o Villa-Lobos. Há ainda cargos de indicação exclusiva da Presidência da República, como os presidentes de Furnas e da Eletrobrás.
O deputado federal Jorge Bittar, que chegou a ser cotado para o Ministério das Comunicações, é o recordista das indicações -sugeriu 25 nomes. O presidente do PT fluminense, Gilberto Palmares, vem em segundo, com 20.
Bittar não foi encontrado para falar sobre o assunto. Palmares negou que tenha feito indicações individualmente, mas apenas por sua tendência, a Articulação.
A tendência, da qual faz parte a governadora Benedita da Silva, foi a que mais indicou: 69 pessoas. O Refazendo, grupo da esquerda do PT, escolheu 48 nomes. A Opção Popular, do deputado federal Carlos Santana, aparece em terceiro lugar, com 33 indicações.
"É legítimo o militante do partido querer ocupar cargos. Não pode dar é para os outros", disse Santana, que indicou a própria mulher, Tânia Regina Ferreira, na presidência da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), mas voltou atrás. No lugar, pôs o atual secretário estadual de Transportes, Raul de Bonis.
Santana não foi o único a indicar parentes para o governo federal. O ator Antônio Pitanga, marido de Benedita, foi sugerido para a Secretaria Nacional do Audiovisual. Já o senador Saturnino Braga (PT) indicou o filho, Bruno Saturnino, para diretoria na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Bruno Saturnino é funcionário concursado da CVM. "Por que vou deixar de indicar o Bruno? Só porque ele é meu filho? Cada um deve indicar as pessoas que conhece e que sabe que têm as condições políticas e técnicas para o cargo", disse o senador.
O candidato a vice na chapa derrotada de Benedita ao governo, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, foi sugerido para a Secretaria Nacional de Segurança, e o físico Luiz Pinguelli Rosa, para a presidência de Furnas.
A lista ainda será avaliada pela direção nacional do PT. Há um mês, o diretório regional resolveu abrir para os filiados a possibilidade de indicar nomes. Foram enviados à sede do partido cerca de 1.400 currículos.


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