São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Ex-presidente nega predileção pelo nome do prefeito e diz que tucano precisa decidir sobre saída do cargo; Lula é alvo de críticas

FHC cobra decisão de Serra sobre candidatura

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A OXFORD

O ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso disse ontem, na Inglaterra, que uma tomada de posição do prefeito de São Paulo, José Serra, é condição primordial para a escolha do candidato tucano à Presidência.
Questionado ontem se Serra se sentiria confortável em deixar o cargo até o fim de março, FHC afirmou: "Isso é uma questão real, ele tem que tomar uma decisão. Ele tem que tomar, não é ninguém. Ele tem que pensar com os botões dele o que isso significa, se ele tem condições. É uma decisão prévia a qualquer outra coisa".
O ex-presidente, que tem revelado a interlocutores sua preferência por Serra na disputa com o governador paulista, Geraldo Alckmin, de público negou que já tenha uma predileção. "Eu falo com muita gente e sempre digo que o PSDB tem dois bons candidatos e os dois têm credenciais, e as pessoas podem selecionar as partes que lhes correspondem, que lhes interessem mais. Não vou dizer se é esse ou aquele. É um engano imaginar que a seleção de um candidato pode ser feita por mim ou pelo Tasso [Jereissati, presidente do PSDB]. É mais complicado que isso."
Ao discorrer sobre os critérios que considera fundamentais para a escolha, FHC voltou a cobrar de Serra uma definição. Declarou que, mais importante que as pesquisas, é a disponibilidade do concorrente.
O prefeito aparece melhor nas pesquisas -ficaria à frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno e ganharia com folga no segundo, enquanto o governador perde de Lula no primeiro e empata no segundo turno. "O PSDB não está preocupado com pesquisa, que é um estado transitório. Tem que ver o potencial. Não adianta ter mais agora. E no futuro, vai ter? Há outros critérios: quem estará realmente disponível. Quem vai renunciar, para começar", observou FHC em Oxford, Inglaterra, onde deu uma palestra para alunos da universidade local sobre "Globalização, Política e Partidos Políticos na América Latina".
Possibilidade que arrepia a maioria dos caciques tucanos, pois fraturaria o partido num momento em que os correligionários de Serra e Alckmin tensionam gradativamente a disputa, a realização de uma prévia para definir o rival do presidente Lula, provável candidato à reeleição, não é vista como um fantasma por FHC. "Não creio nisso. Mas, se for necessária, uma prévia também não assusta ninguém. É preciso não ter pressa." Mas, frisou ele, não há tampouco tempo de sobra. "Se [a definição] puder ser tomada até março, melhor, mas tem que ser uma decisão de consenso."
Para o tucano, que terá influência na escolha do candidato do PSDB, é imprescindível que o vencido apoie o vencedor. "Os candidatos têm que encontrar um mecanismo pelo qual se sintam à vontade de dizer: "Foi fulano, e não beltrano, e eu vou apoiar você". E tem que apoiar, tem que construir."

Vitamina
Na palestra aos estudantes e na entrevista que deu antes a jornalistas brasileiros, o ex-presidente repetiu que a situação estável da economia brasileira é um legado de sua administração (de 1995 a 2002). Foi quando aproveitou para bater no governo Lula.
Questionado se o momento econômico e o fim da CPI dos Correios poderiam vitaminar a candidatura do atual presidente, FHC disse: "Ele vai ter que tomar muita vitamina, porque o que se está discutindo lá [no Brasil] não é a situação econômica, até porque ele seguiu muito do que estava sendo feito por nós. É uma situação política e moral."
E prosseguiu na crítica: "A grande discussão é a capacidade administrativa, de entender que o Estado não pode ser usado para fins partidários nem privados e uma certa decência na condução das políticas públicas e na negociação com o Congresso, que ali a coisa passou do limite".
FHC previu que o risco Brasil, que mede a confiança dos investidores internacionais no país, vai cair mais. "Daqui a pouco vamos chegar ao que eles chamam de "investment grade", uma situação que é confiável para se investir. E isso independentemente de qualquer governo, porque a sociedade brasileira aprendeu a lidar com os problemas fundamentais e se ajustou ao mundo globalizado."


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