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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Ex-presidente nega predileção pelo nome do prefeito e diz que tucano precisa decidir sobre saída do cargo; Lula é alvo de críticas
FHC cobra decisão de Serra sobre candidatura
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A OXFORD
O ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso disse ontem, na Inglaterra, que uma tomada de posição do prefeito de São Paulo, José Serra, é condição primordial
para a escolha do candidato tucano à Presidência.
Questionado ontem se Serra se
sentiria confortável em deixar o
cargo até o fim de março, FHC
afirmou: "Isso é uma questão real,
ele tem que tomar uma decisão.
Ele tem que tomar, não é ninguém. Ele tem que pensar com os
botões dele o que isso significa, se
ele tem condições. É uma decisão
prévia a qualquer outra coisa".
O ex-presidente, que tem revelado a interlocutores sua preferência por Serra na disputa com o
governador paulista, Geraldo
Alckmin, de público negou que já
tenha uma predileção. "Eu falo
com muita gente e sempre digo
que o PSDB tem dois bons candidatos e os dois têm credenciais, e
as pessoas podem selecionar as
partes que lhes correspondem,
que lhes interessem mais. Não
vou dizer se é esse ou aquele. É um
engano imaginar que a seleção de
um candidato pode ser feita por
mim ou pelo Tasso [Jereissati,
presidente do PSDB]. É mais
complicado que isso."
Ao discorrer sobre os critérios
que considera fundamentais para
a escolha, FHC voltou a cobrar de
Serra uma definição. Declarou
que, mais importante que as pesquisas, é a disponibilidade do
concorrente.
O prefeito aparece melhor nas
pesquisas -ficaria à frente do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno e ganharia
com folga no segundo, enquanto
o governador perde de Lula no
primeiro e empata no segundo
turno. "O PSDB não está preocupado com pesquisa, que é um estado transitório. Tem que ver o
potencial. Não adianta ter mais
agora. E no futuro, vai ter? Há outros critérios: quem estará realmente disponível. Quem vai renunciar, para começar", observou FHC em Oxford, Inglaterra,
onde deu uma palestra para alunos da universidade local sobre
"Globalização, Política e Partidos
Políticos na América Latina".
Possibilidade que arrepia a
maioria dos caciques tucanos,
pois fraturaria o partido num momento em que os correligionários
de Serra e Alckmin tensionam
gradativamente a disputa, a realização de uma prévia para definir
o rival do presidente Lula, provável candidato à reeleição, não é
vista como um fantasma por
FHC. "Não creio nisso. Mas, se for
necessária, uma prévia também
não assusta ninguém. É preciso
não ter pressa." Mas, frisou ele,
não há tampouco tempo de sobra.
"Se [a definição] puder ser tomada
até março, melhor, mas tem que
ser uma decisão de consenso."
Para o tucano, que terá influência na escolha do candidato do
PSDB, é imprescindível que o
vencido apoie o vencedor. "Os
candidatos têm que encontrar um
mecanismo pelo qual se sintam à
vontade de dizer: "Foi fulano, e
não beltrano, e eu vou apoiar você". E tem que apoiar, tem que
construir."
Vitamina
Na palestra aos estudantes e na
entrevista que deu antes a jornalistas brasileiros, o ex-presidente
repetiu que a situação estável da
economia brasileira é um legado
de sua administração (de 1995 a
2002). Foi quando aproveitou para bater no governo Lula.
Questionado se o momento
econômico e o fim da CPI dos
Correios poderiam vitaminar a
candidatura do atual presidente,
FHC disse: "Ele vai ter que tomar
muita vitamina, porque o que se
está discutindo lá [no Brasil] não é
a situação econômica, até porque
ele seguiu muito do que estava
sendo feito por nós. É uma situação política e moral."
E prosseguiu na crítica: "A grande discussão é a capacidade administrativa, de entender que o Estado não pode ser usado para fins
partidários nem privados e uma
certa decência na condução das
políticas públicas e na negociação
com o Congresso, que ali a coisa
passou do limite".
FHC previu que o risco Brasil,
que mede a confiança dos investidores internacionais no país, vai
cair mais. "Daqui a pouco vamos
chegar ao que eles chamam de "investment grade", uma situação
que é confiável para se investir. E
isso independentemente de qualquer governo, porque a sociedade
brasileira aprendeu a lidar com os
problemas fundamentais e se
ajustou ao mundo globalizado."
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