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CRISE NA BASE
Grupo no Planalto estuda alternativas para contornar desgaste de provável veto ao piso de US$ 100
FHC busca opções para salário mínimo
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso busca uma alternativa menos impopular que o simples veto a um reajuste maior do
salário mínimo em maio, como o
valor equivalente a US$ 100 (cerca
de 32%) proposto pelo PFL, com
apoio de partidos da oposição.
Os trabalhos vêm sendo conduzidos em sigilo por uma comissão
coordenada pelo secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Edward Amadeo, e pelo
assessor especial de FHC Eduardo
Graeff. O trabalho conta com o
apoio do economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas.
Uma nova rodada de reuniões
durante a semana não foi conclusiva, mas deixou praticamente
descartada a concessão de um
reajuste substancialmente maior
que a inflação medida nos 12 meses anteriores à data do reajuste,
estimada em cerca de 8%.
O governo ainda procura uma
fórmula que promova o aumento
gradual dos salários mais baixos
pagos no país. De preferência, algo gradual, cujos efeitos seriam
sentidos até o final do segundo
mandato de FHC.
Seu alvo está definido: dos quase 70 milhões de brasileiros que
integram a PEA (População Economicamente Ativa), cerca de 15
milhões recebem até um salário
mínimo (R$ 136). Pouco mais de
4 milhões ganham até meio salário mínimo. São trabalhadores da
agricultura e do setor de prestação de serviços, principalmente.
Na faixa até um salário mínimo,
há mais de 10% dos servidores,
com impacto no equilíbrio das
contas públicas. Os dados constam da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), de 1998, feita pelo IBGE, e foram analisados pelo Planalto.
Embora o governo insista em
discutir o valor do próximo reajuste do salário mínimo apenas a
partir de abril, os estudos foram
encomendados por FHC há três
meses. Até agora, produziram algumas conclusões importantes:
1) Deve-se ao reajuste do salário
mínimo acima da inflação a
maior contribuição do Plano Real
no combate à pobreza. Os aumentos concedidos em setembro
de 1994 (de 9,4%) e em maio de
1995 (de 43%) ajudaram mais a
reduzir a pobreza do que a queda
da inflação. O impacto também
varia de acordo com as regiões do
país: é mais importante no Norte
e no Nordeste do que no Sul.
2) Os reajustes mais altos do salário mínimo têm efeitos colaterais importantes, como o aumento do número de trabalhadores na
informalidade (sem carteira assinada) e o risco de aumento do desemprego, além do impacto nas
contas da Previdência Social.
Esse é o maior obstáculo apontado pelo governo para o reajuste
maior do mínimo. O impacto na
Previdência é grande porque
64,5% dos 18,2 milhões de benefícios pagos pelo INSS estão vinculados ao reajuste do mínimo.
O governo também associa um
aumento maior do mínimo a índices maiores de inflação no futuro. Para o Planalto, já bastam as
pressões exercidas pelos reajustes
das tarifas públicas, cujos preços
são indexados, e pela alta do preço internacional do petróleo.
3) Entre a redução da pobreza e
o equilíbrio das contas públicas, o
governo fez uma clara opção pela
primeira alternativa.
4) A proposta de reajustar o mínimo para cerca de R$ 178 (US$
100) não tem a menor chance de
vir a ser acatada pelo governo. Para bancá-la sem ameaçar o ajuste
fiscal, seria preciso cortar quase
R$ 8 bilhões de gastos do Orçamento da União para esse ano,
mais que o dinheiro previsto para
todos os investimentos do governo em 2000. É a conta do Planalto.
5) Não são apenas o PFL e os
partidos de oposição que pressionam pelo reajuste maior do salário mínimo. O governo constatou
que existe uma pressão popular
consistente em favor do reajuste,
que ocorrerá cinco meses antes da
eleição municipal de outubro. Essa é a outra conta do Planalto.
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