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JANIO DE FREITAS
E chamam de reforma
É impossível calcular a
dimensão do prejuízo, mas
não há dúvida de que recairá
em quase todos os cantos e recantos do país e da vida dos cidadãos. Em parte, até já está aí.
Será a terceira formação de
novo ministério em dois anos e
três meses de governo. E Lula
está enrolado nesse desatino,
um vai-e-volta que gira a cada
24 horas, há nada menos do
que sete meses. Mais de meio
ano. Em agosto do ano passado
o noticiário já incluía discussões palacianas sobre a conveniência de nomear logo os novos ministros ou esperar os resultados eleitorais. Neste ano, a
cada semana a reforma é
anunciada para a seguinte, como o próprio Lula fez na quinta-feira 10 para a semana que
acabou agora - sem a "reforma acertada", como as últimas
30 semanas.
Todo esse imensurável tempo
de governantes, parlamentares,
jornalistas e outros desperdiçadores habituais estaria justificado, talvez, se ao fim comunicassem algo respeitável. Impossível. Estão enrolados nas discussões e combinações mais
torpes e desrespeitosas com o
país e com cada cidadão. Tudo
é em torno de cupinchadas, onde pôr o cara do Severino, e então deslocar o Eunício pra onde, tem que arrumar mais um
ministério qualquer pro PTB,
esse é meu, diz à fulana e ao fulano pra pôr isso aí no jornal.
No dia seguinte, tudo recomeça, porque alguém cobrou, diz
a linguagem comprometida do
jornalismo, "mais espaço no
governo" para "a base aliada".
A terceira formação do ministério. A cada uma das duas
primeiras, a eventualidade de
um ministro sério e trabalhador foi invalidada. Ou seja,
mesmo quando ocorre a excepcionalidade, a regra é de que
não adianta ser dedicado à
função e ao interesse público.
Quando conclui seus diagnósticos, pôde definir seus planos e
adotou as medidas básicas para desenvolvê-los, o ministro
aplicado é substituído. Se o sucessor, por cúmulo do acaso, for
sério, recomeça o processo do
antecessor, e cai. Se não for, tudo bem: não foi mesmo escolhido pelo critério de habilitação
específica e seriedade comprovada.
Os prejuízos decorrentes desse sistema, não inventado agora, mas agora exacerbado como nunca, não são recuperáveis. Quando Adib Jatene foi
afastado do Ministério da Saúde, porque Sérgio Motta convenceu Fernando Henrique de
que ali estava um candidato
potencial à Presidência, e a
idéia de reeleição já era tão viva quanto silenciada, foi nomeado um médico convenientemente inexpressivo. Carlos
Albuquerque mostrou-se incomparável na inépcia. O quadro da Saúde no Brasil por certo seria outro nos últimos anos,
não fosse aquela exoneração
imoral. E ainda por muito tempo a Saúde sofrerá pela sustação de políticas e projetos que
Adib Jatene desenvolvia.
Hoje como ontem. Guardadas as diferenças de proporção
e circunstância, aí está Amir
Lando, que foi feito ministro da
Previdência pela necessidade
de pronta substituição do desgastado Ricardo Berzoini. Lando trabalhou com seriedade,
esquematizou uma reestruturação da Previdência, mas pára tudo para ceder o lugar a uma cupinchice.
A Folha de ontem dizia que
"formigas, baratas e até ratos,
nas últimas semanas, vêm se
espalhando pelo Planalto, onde
despacha o presidente". Nas últimas semanas? Ah, isso é que
não. Muito menos que a invasão tenha "começado a crescer
nos últimos dias, depois da dedetização do jardim palaciano". Não é o jardim que estão
mudando, é o ministério.
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