São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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Interpol põe Maluf entre os procurados por fraude e roubos

Defesa diz que, por integrar o Legislativo, uma eventual prisão do deputado a pedido de Estado estrangeiro viola a soberania brasileira

Maluf foi condenado pela Justiça de Nova York por ter usado agência daquela cidade para depositar dinheiro desviado de obra


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) poderá ser preso se deixar o Brasil. A Interpol voltou a incluir o nome do ex-prefeito de São Paulo e de seu filho Flávio Maluf num sistema de difusão internacional chamado "alerta vermelho". Maluf aparece na página da Interpol na internet como "procurado" por duas condenações nos EUA: fraude e roubos.
O advogado de Maluf, José Roberto Batochio, diz que a eventual prisão a pedido de um Estado estrangeiro viola a soberania brasileira porque ele integra um dos Poderes do país -o Legislativo. "Numa comparação extrema, seria como o Fausto [Martin de Sanctis, juiz federal brasileiro] decretar a prisão da Hillary Clinton."
Maluf foi condenado pela Justiça de Nova York pelo crime de "conspiração em quarto grau" por ter usado uma agência bancária naquela cidade para depositar dinheiro desviado das obras da avenida Água Espraiada, feita durante o período em que foi prefeito de São Paulo (1993-1996).
Parte desse dinheiro foi usada para fazer compras nos EUA -entre as quais a de dois relógios antigos num leiloeiro- e parte foi remetida à ilha de Jersey, ao lado da Inglaterra.
Segundo a decisão da Justiça de Nova York, uma agência do Safra National Bank na Quinta Avenida recebeu US$ 11,7 milhões, que foram desviados durante a abertura da avenida Água Espraiada, depois rebatizada de Roberto Marinho.
A conta, chamada Chanani, era operada pelo doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigui. Os US$ 11,7 milhões foram depositados em 15 transferências, realizadas entre janeiro e agosto de 1998.
Maluf voltou a figurar como procurado pela Interpol depois de ter rompido uma negociação com a Promotoria de Nova York, segundo a Folha apurou.
O promotor que fez a investigação sobre Maluf em Nova York, Adam Kaufmann, disse a colegas brasileiros que foi enganado pelo político brasileiro na negociação de um acordo que transformaria a condenação em pagamento de multa.
Durante a negociação, um dos advogados de Maluf em Nova York, Eric Lewis, do escritório Baach, Robinson & Lewis, conseguiu suspender o pedido de prisão de Maluf para que ele passasse o Réveillon de 2008 para 2009 na Itália. O promotor diz que suspendeu o pedido de prisão num gesto de boa vontade.
À época, o advogado de Maluf sinalizou que ele toparia pagar de US$ 13 milhões a US$ 15 milhões para o condado de Nova York e US$ 2 milhões para a Promotoria.
Após passar o Réveillon na Itália, os advogados de Maluf abandonaram a negociação. Esse tipo de manobra é comum no Brasil, mas nos EUA é encarada como uma ofensa grave.
O advogado de Maluf confirma que houve a negociação, mas diz que ela foi interrompida porque a Promotoria queria "muito dinheiro".


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