São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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DEBATE
Eleição direta no TJ e unificação de tribunais no Estado de São Paulo são temas de encontro promovido pela Folha
Mudanças em tribunal dividem Judiciário

da Reportagem Local


Debate promovido pela Folha indicou que não há consenso sobre duas emendas à Constituição de São Paulo que modificam a estrutura e o processo eleitoral da Justiça do Estado.
As emendas -uma estabelece a eleição direta para os principais cargos do Tribunal de Justiça (TJ) e a outra unifica os quatro tribunais superiores do Estado- dividem o Judiciário paulista.
A maioria dos juízes de primeira instância e dos tribunais de alçada é favorável às mudanças. O TJ as considera inconstitucionais e ameaça não cumpri-las.
Divisão semelhante a essa foi verificada no debate "Mudanças na Justiça estadual", realizado na quarta-feira à noite na Folha, com o desembargador Francisco de Assis Vasconcellos Pereira da Silva, do TJ de São Paulo; o juiz José Renato Nalini, do Tribunal de Alçada Criminal; o juiz Dyrceu Cintra, do 2º Tribunal de Alçada Civil e presidente da Associação Juízes para a Democracia; e o ex-presidente da seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) José Eduardo Loureiro.
Das duas emendas em discussão, uma, a de número 5, já foi aprovada pela Assembléia Legislativa. Ela estabelece a eleição direta, pelos cerca de 1.600 juízes vitalícios do Estado, para os cargos de presidente, vice-presidente e corregedor do TJ. Hoje só votam os 132 desembargadores do tribunal (leia texto nesta página).
Mas a emenda que provocou a divisão mais nítida entre os integrantes da mesa foi a de número 7, que unifica os quatro tribunais superiores do Estado no TJ. Está em tramitação na Assembléia.
A unificação foi defendida por Nalini e Cintra e criticada por Pereira da Silva e Loureiro, que a consideraram inconstitucional. A emenda mantém um único tribunal no Estado, que incorporaria os 206 juízes que hoje atuam nos três tribunais de alçada. O TJ passaria a ter 338 desembargadores.
Os defensores da mudança afirmaram que ela trará economia de recursos, melhor divisão de processos entre os juízes e fim das dúvidas sobre qual tribunal deve julgar determinadas matérias (conflito de competência).
"Nós vamos poder eliminar três presidências, quatro vice-presidências, secretarias-gerais e diretorias de departamentos, que os senhores não sabem como são aparatosas", disse Nalini, 53.
Cada tribunal possui autonomia administrativa e financeira.
O argumento da melhor divisão de processos é baseado no número de recursos que aguardam distribuição nos quatro tribunais de São Paulo. O Tribunal de Alçada Criminal é o que está em melhor situação, com 3.020 processos represados. O pior cenário é o do Tribunal de Justiça, onde há 60.500 recursos à espera de distribuição.
Com a unificação, esses processos seriam distribuídos de forma mais equilibrada entre os 338 desembargadores que passariam a integrar o TJ, disse Nalini.
Pereira da Silva, 69, e Loureiro, 71, sustentaram que esse problema pode ser resolvido com a mudança na competência dos tribunais.
Ambos defenderam mudança exatamente oposta à pretendida pela emenda: a criação de novos tribunais de alçada no Estado e não a extinção dos existentes.
A criação de cinco novos tribunais, que teriam caráter regional, já está prevista em uma mensagem que o Tribunal de Justiça encaminhou à Assembléia Legislativa.
Para Loureiro, a emenda não resolveria a morosidade do Judiciário. "Ao reunir em um só órgão os tribunais existentes, ela nada mais faz que transportar o mesmo número de processos para o mesmo número de julgadores."
Silva acrescentou que as dúvidas sobre quem deve julgar determinados processos continuariam a existir dentro no novo TJ. "O tribunal teria de ser separado em diversas seções, cada uma com a sua competência", afirmou.
Segundo Cintra, 43, o problema poderia ser resolvido com a manutenção das três seções básicas que o TJ possui hoje: direito privado, direito criminal e direito público.


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