UOL

São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REGIME MILITAR

Ex-presos dizem querer acareação com delegado

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-presos políticos disseram estar dispostos a ficar frente a frente com o delegado Aparecido Laertes Calandra, que nega ser o capitão Ubirajara -nome de guerra utilizado por ele durante o período em que atuou no DOI-Codi paulista, uma das centrais de repressão do regime militar, no início dos anos 70.
Ex-militantes políticas, Maria Amélia de Almeida Teles e Nádia Lúcia Nascimento foram presas na rua Tutóia, nš 921, onde funcionou a Operação Bandeirantes, a Oban, e depois o DOI-Codi.
Acusada de subversão, Maria Amélia foi presa em dezembro de 1972. Nádia, ex-militante do MR-8, grávida de quatro meses, acabou detida em abril de 1974.
"Ele não assume ser o capitão Ubirajara por medo. Eu também tive medo quando fui torturada por ele. Mas hoje não tenho medo e estou disposta a ficar frente a frente com esse homem", disse Nádia, que perdeu o filho após 15 dias de prisão e tortura.
A ex-militante do MR-8, disse ter sido agredida pessoalmente por Calandra. "Nunca a gente esquece o rosto de um torturador."
Maria Amélia, que também foi interrogada pela equipe do capitão Ubirajara, disse não ter dúvidas de sua verdadeira identidade, entretanto, ficar cara a cara com o delegado, segundo ela, seria só por um "ato político".
"Não tenho nenhuma vontade de reencontrá-lo. Mas, se ocorrer uma audiência pública, por um ato político, eu aceito. Não seria por vontade própria", disse.
Maria Amélia foi presa com os filhos, o marido e a irmã. Na prisão, foi testemunha da morte do colega Carlos Nicolau Danielli, ex-dirigente do PC do B, após três dias de tortura.
"Ninguém tem dúvida de que o delegado Calandra é o capitão Ubirajara. Qualquer pessoa que passou pelo prédio da Oban sabe que é ele, bem mais velho, com barba, mas os traços ainda são os mesmos", afirmou o presidente nacional do PT, José Genoino, ex-guerrilheiro e ex-preso político.
Genoino, porém, não concorda com uma acareação do delegado com os ex-presos políticos.
"Não é por aí. Nem por razões políticas. Nem por razões humanitárias. Não se faz isso porque a ferida vai abrir e vai voltar a sangrar", afirmou o petista.

Homônimo
Calandra, em entrevista à Folha na semana passada, disse ter sido confundido com um homônimo. "Não sou o capitão Ubirajara, nem sou capitão, sou da Polícia Civil e não tenho nada com essas histórias", disse ele.
Com 37 anos de polícia, afirmou nunca ter trabalhado no DOI-Codi e acusou Maria Amélia -que o reconheceu em um foto datada de 2001-, de "terrorista".
"Eu investiguei essa mulher, e ela é uma terrorista", disse o delegado, que teria iniciado sua "investigação" após a Folha noticiar o caso. Hoje, Calandra é o principal assessor do delegado diretor do Dipol, Massilon José Bernardes Filho. Segundo funcionários do prédio, os dois compartilham o comando do departamento.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Questão indígena: Tráfico "impõe" toque de recolher a índios
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.