São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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QUESTÃO MILITAR

Presidente pede estudo de financiamento de casa própria à categoria

Lula diz que país se orgulha de militares e promete reajuste

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou ontem acalmar os ânimos dos militares ao prometer que as suas "legítimas aspirações serão contempladas", referindo-se indiretamente à reivindicação de reajuste de pagamento feita publicamente pelos comandantes das três Forças Armadas.
Lula, entretanto, não fez nenhuma promessa concreta, deixando de mencionar o índice de reajuste e a data que entraria em vigor. Também não disse de onde viriam os recursos para aumentar os soldos. Mas afirmou que pediu ao Ministério das Cidades e à Caixa Econômica Federal (CEF) estudo para um programa de financiamento da casa própria específico para militares.
As incertezas quanto ao reajuste haviam levado os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a manifestar publicamente sua insatisfação. No início do mês, Francisco Albuquerque (Exército), disse ser "realmente necessário haver uma atualização dos soldos dos militares".
Há cerca de duas semanas, questionado se haveria aumento, o ministro Guido Mantega (Planejamento) respondeu: "Não tem discussão para os militares".
Ontem, Lula discursou diante dos três comandantes -além de Albuquerque, Luiz Carlos Bueno (Aeronáutica) e Roberto Guimarães Carvalho (Marinha)- e do ministro da Defesa, José Viegas Filho. Ele quebrou a tradição, já que presidentes não costumam discursar na solenidade comemorativa do Dia do Exército.
"A sociedade brasileira tem orgulho dos senhores e das senhoras, e o Estado brasileiro não deixará de traduzir em termos concretos o reconhecimento que sua dedicação e compromisso público tão claramente merecem. Conheço bem, como comandante das Forças Armadas, os anseios pessoais e as dificuldades por que passam os militares", disse.
O presidente lembrou que já manifestou em diversas ocasiões a opinião de que um país só é forte e respeitado quando tem Forças Armadas compatíveis com a sua estatura econômica e com seu papel na comunidade internacional.
"Um tratamento condigno com o elevado serviço que prestam nossas Forças Armadas ao país é de inteira justiça e será assegurado pelo meu governo."
Em seguida, afirmou: "As suas legítimas aspirações serão contempladas. Trata-se de uma questão de justiça, que o meu governo tem determinação de atender". O presidente também reafirmou seu compromisso de recuperar a capacidade operativa das Forças.
Depois de ter sido advertido por Viegas de que não deveria voltar a falar publicamente de questões salariais, o comandante do Exército não tocou no assunto.
O Ministério da Defesa fez três propostas de reajuste, que estão sendo examinadas pelo Ministério do Planejamento. A maior prevê reajuste linear de 35%, enquanto as outras sugerem reajustes médios de 32% e 28%. Nos últimos dias, após sinalizar que os militares poderiam não ter aumento, o governo divulgou especulações de reajuste linear de 10%.

Demais servidores
Lula também voltou a criticar o governo FHC, afirmando que o funcionalismo público entra em greve por ter ficado os últimos oito anos sem receber aumento salarial. "É normal que essas pessoas queiram receber reajuste."
Já Mantega foi mais duro e afirmou que o governo não vai ceder a pressões. Segundo ele, a proposta de reajuste anunciada há duas semanas é a última oferta do governo. "Não é quem grita mais que leva", disse.
No Senado, cerca de 20 agentes da Polícia Federal, que estão em greve por reajuste salarial, fizeram um protesto contra o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que participava de uma audiência. Eles viraram de costas para o ministro, ficaram assim por 20 minutos e se retiraram.


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