|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ministro já foi duro crítico do presidente
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apoiado anteontem publicamente pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o ministro da Previdência, Romero Jucá, já tentou
torpedear no passado o pilar da
política econômica do governo
petista, o superávit primário, e
criticou atuais colegas de ministério. Os ataques ocorreram há apenas dois anos, quando ele era senador pelo PSDB.
Em fevereiro de 2003, Jucá apresentou no Senado projeto de lei
pelo qual queria a redução da então meta de superávit -economia de gastos para pagamento de
juros- de 3,75% para 3% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Hoje, a meta é de 4,25%. O projeto está parado na Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado.
Até os primeiros seis meses do governo Lula, o então oposicionista
Jucá fazia ataques ao governo na
tribuna do Senado, com críticas
ao presidente Lula e a pelo menos
dois dos seus atuais colegas de ministério, José Dirceu (Casa Civil) e
Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário).
Na justificativa ao projeto de lei,
o ministro escreveu: "Isso posto,
não se justifica um esforço fiscal
dessa magnitude, em detrimento
dos investimentos e gastos na
área social. A meta do superávit
primário pode e deve ser reduzida". E acrescentou: "Essa redução
significa recursos disponíveis no
valor de R$ 11,9 bilhões, suficiente
para possibilitar um acréscimo
significativo nos gastos sociais".
O ministro tornou sua "tese"
ainda mais explícita num aparte,
em 21 de fevereiro, a um discurso
do senador Duciomar Costa
(PTB-PA). Da tribuna, Jucá bradou: "[...] Estamos esperando e
cobrando que o Lula proponha
um outro modelo econômico.
Não adianta aumentar a taxa de
juros, não adianta aumentar o superávit. Eu quero apoiar outro tipo de medida! Eu quero que o governo do Lula tenha a coragem de
mudar!" (pontos de exclamação
estão na versão oficial da Casa).
Das críticas aos ocupantes do
governo, pelo menos uma delas
teve conotação pessoal: "Alguém
precisa explicar ao presidente
[Lula] o que é preço de commodities, o que é preço internacional, o
que é preço de combustível, o que
é cotado em dólar. Apesar de Davos ter ido ao presidente Lula, infelizmente hoje os preços internacionais não são cotados em real".
Outro tom
Após entrar no PMDB, em maio
de 2003, Jucá mudou o tom dos
discursos. Em setembro, defendeu o publicitário do Palácio do
Planalto e da campanha de Lula,
Duda Mendonça, de críticas feitas
pelo ex-colega de Jucá no PSDB,
Arthur Virgílio (AM).
"Conheço bem Duda Mendonça e sei da sua seriedade e da sua
forma de trabalhar e, portanto, tenho certeza de que jamais haveria
qualquer tipo de relação promíscua entre o Duda, o governo e o
PT", afirmou Jucá.
Três dias antes, o senador fizera
comentários entusiásticos sobre a
PGR (Procuradoria Geral da República). O senador disse ter recebido "um impressionante documento" da PGR, no qual estariam
relatadas atividades do Ministério
Público no ano de 2002.
"Não se pode deixar de atribuir
ao Ministério Público Federal, à
luz das atividades que se refletem
em seu relatório de 2002, os mais
elevados elogios", discursou o então senador.
Desde setembro de 2004, o procurador-geral, Claudio Fonteles,
analisa se abre ou não inquérito
contra Jucá por supostas irregularidades na aplicação de recursos
do Basa (Banco da Amazônia).
Uma das últimas manifestações
de Jucá na tribuna do Senado
também tem relação com o atual
noticiário. Há cinco anos o Basa
cobra do ministro uma dívida de
R$ 18 milhões por conta do empréstimo a uma empresa que lhe
pertenceu, a Frangonorte.
Jucá, no Senado, enalteceu a diretoria do banco, seu credor:
"Alegra-me poder afirmar (...)
que o nosso Banco da Amazônia é
uma dessas empresas estatais que
assumiram, efetivamente, e com
toda a garra, podemos acrescentar, a compreensão ampla de sua
responsabilidade social".
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Isto era Jucá Índice
|