São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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Ministro já foi duro crítico do presidente

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apoiado anteontem publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Previdência, Romero Jucá, já tentou torpedear no passado o pilar da política econômica do governo petista, o superávit primário, e criticou atuais colegas de ministério. Os ataques ocorreram há apenas dois anos, quando ele era senador pelo PSDB.
Em fevereiro de 2003, Jucá apresentou no Senado projeto de lei pelo qual queria a redução da então meta de superávit -economia de gastos para pagamento de juros- de 3,75% para 3% do PIB (Produto Interno Bruto).
Hoje, a meta é de 4,25%. O projeto está parado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Até os primeiros seis meses do governo Lula, o então oposicionista Jucá fazia ataques ao governo na tribuna do Senado, com críticas ao presidente Lula e a pelo menos dois dos seus atuais colegas de ministério, José Dirceu (Casa Civil) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário).
Na justificativa ao projeto de lei, o ministro escreveu: "Isso posto, não se justifica um esforço fiscal dessa magnitude, em detrimento dos investimentos e gastos na área social. A meta do superávit primário pode e deve ser reduzida". E acrescentou: "Essa redução significa recursos disponíveis no valor de R$ 11,9 bilhões, suficiente para possibilitar um acréscimo significativo nos gastos sociais".
O ministro tornou sua "tese" ainda mais explícita num aparte, em 21 de fevereiro, a um discurso do senador Duciomar Costa (PTB-PA). Da tribuna, Jucá bradou: "[...] Estamos esperando e cobrando que o Lula proponha um outro modelo econômico. Não adianta aumentar a taxa de juros, não adianta aumentar o superávit. Eu quero apoiar outro tipo de medida! Eu quero que o governo do Lula tenha a coragem de mudar!" (pontos de exclamação estão na versão oficial da Casa).
Das críticas aos ocupantes do governo, pelo menos uma delas teve conotação pessoal: "Alguém precisa explicar ao presidente [Lula] o que é preço de commodities, o que é preço internacional, o que é preço de combustível, o que é cotado em dólar. Apesar de Davos ter ido ao presidente Lula, infelizmente hoje os preços internacionais não são cotados em real".

Outro tom
Após entrar no PMDB, em maio de 2003, Jucá mudou o tom dos discursos. Em setembro, defendeu o publicitário do Palácio do Planalto e da campanha de Lula, Duda Mendonça, de críticas feitas pelo ex-colega de Jucá no PSDB, Arthur Virgílio (AM).
"Conheço bem Duda Mendonça e sei da sua seriedade e da sua forma de trabalhar e, portanto, tenho certeza de que jamais haveria qualquer tipo de relação promíscua entre o Duda, o governo e o PT", afirmou Jucá.
Três dias antes, o senador fizera comentários entusiásticos sobre a PGR (Procuradoria Geral da República). O senador disse ter recebido "um impressionante documento" da PGR, no qual estariam relatadas atividades do Ministério Público no ano de 2002.
"Não se pode deixar de atribuir ao Ministério Público Federal, à luz das atividades que se refletem em seu relatório de 2002, os mais elevados elogios", discursou o então senador.
Desde setembro de 2004, o procurador-geral, Claudio Fonteles, analisa se abre ou não inquérito contra Jucá por supostas irregularidades na aplicação de recursos do Basa (Banco da Amazônia).
Uma das últimas manifestações de Jucá na tribuna do Senado também tem relação com o atual noticiário. Há cinco anos o Basa cobra do ministro uma dívida de R$ 18 milhões por conta do empréstimo a uma empresa que lhe pertenceu, a Frangonorte.
Jucá, no Senado, enalteceu a diretoria do banco, seu credor: "Alegra-me poder afirmar (...) que o nosso Banco da Amazônia é uma dessas empresas estatais que assumiram, efetivamente, e com toda a garra, podemos acrescentar, a compreensão ampla de sua responsabilidade social".


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