São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

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Elio Gaspari

Weffort viu a origem da caixa petista


"O sindicato alemão (...) havia enviado algum dinheiro a São Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas!"

O PROFESSOR Francisco Weffort, fundador do PT e seu secretário-geral de 1984 a 1988, publicou um surpreendente artigo na edição do "Globo" de terça-feira, intitulado "Lula, o pelego?" Começou com outra pergunta: "Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública?" Prosseguiu com uma maledicência: "É conhecida a ojeriza de Lula a qualquer controle sobre gastos". Desembocou numa "historinha de 1980, bem no início do PT", época em que o professor acompanhou Nosso Guia numa viagem pela Europa e pelos Estados Unidos. Uma historinha velha, porém horrível.
Fala Weffort: "Chegando à Alemanha, fomos surpreendidos pela recepção agressiva do secretário-geral do sindicato alemão dos metalúrgicos. (...) O sindicato alemão que representava havia enviado algum dinheiro a São Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas!" (...) "Em Washington, tivemos um encontro com representantes da AFL-CIO, e ali repetiu-se o mesmo constrangimento."
O que Weffort narrou foi o amanhecer dos "recursos não contabilizados" que viriam a celebrizar o mensalão e a figura de Delúbio Soares. Em todas as épocas, o dinheiro andava em malas companheiras sem passar pelos controles do Estado. Os alemães e os americanos queriam uma prestação e contas, por mais simples que fosse, mal sabiam que nem isso conseguiriam.
Nessa época, Lula dizia que a solidariedade do "povo brasileiro" levara para a caixa dos companheiros algo como US$ 250 mil. Pode-se suspeitar que os alemães e a central americana pingaram bem mais que isso.
Weffort nunca participou da máquina arrecadadora de Lula, mas esteve ao seu lado na viagem de 1980, inclusive numa reunião com banqueiros e empresários alemães. Ele pode não saber tudo, mas sabe mais do que contou. Devia ir fundo, até porque tinha boa pontaria quando era estilingue na vidraça alheia. Em 1994, o senador Pedro Simon disse numa entrevista que sabia de roubalheiras instaladas na Comissão de Orçamento da Câmara, e o professor foi severo: "Se políticos como Simon sabiam, por que não denunciaram?" (...) "O homem honesto calou."
Em 1994, Weffort migrou para o tucanato e durante oito anos foi baronete da Cultura de FFHH. Seu artigo teve uma penosa marca da servidão voluntária. Ele se refere à mulher de Lula duas vezes. Na primeira, chama-a de "Marisa". Na segunda, quando ela acompanha "dona Ruth", mulher de FFHH, é promovida a "dona Marisa".

O COPOM ESCONDE SUAS DISCUSSÕES

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária, codinome Copom, elevou os juros para 11,75%, e o repórter Ricardo Balthazar publicou trechos da transcrição de uma reunião do Federal Reserve Board de 2002. Nela, Alan Greenspan e seus colegas discutiram o perigo de uma fuga de capitais do Brasil caso Lula fosse eleito. Mostra que o dinheiro injetado pelo FMI em Pindorama vinha sendo usado pela banca internacional para fugir do sapo barbudo.
Além de publicar uma ata sucinta pouco depois de suas reuniões, o Fed americano grava todos os debates, liberando-os para o público cinco anos depois. (É o único grande Banco Central a fazê-lo.)
O Copom não grava nada. Nem pretende gravar. Assim, seus integrantes protegem as biografias caso digam tolices durante as reuniões. Podia gravar para liberar daqui a cem anos. Nem isso.
Pena, porque os militares da ditadura gravaram toda a reunião que jogou o país na ditadura do AI-5. Fizeram uma ata (secreta) na qual maquiaram algumas falas, mas preservaram a fita. Ela está no Instituto Moreira Salles, para quem quiser ouvi-la.

ENTRE AMIGO$
Na terça-feira, um magano do Sistema $ propôs ao ministro da Educação, Fernando Haddad, que a discussão do destino dos R$ 8 bilhões que ele extrai da folha de pagamento da patuléia fosse encaminhada numa ação entre amigos, com mudanças nos estatutos do sistema. Tudo isso para evitar que o assunto (e as contas) fossem discutidos e examinados pelo Congresso. Nada feito. O governo mandará um projeto de lei à Câmara. Numa conta do Ministério do Trabalho, além do R$ 8 bilhões compulsórios, o sistema arrecada mais R$ 4 bilhões vendendo serviços.

AEROGOMES
Cid Gomes, governador do Ceará, torrou R$ 388,5 mil alugando o avião que o levou para um giro na Europa durante a semana do Carnaval. O doutor diz que foi buscar investimentos para o Estado. Levou consigo a mulher, a sogra e dois colaboradores devidamente acompanhados pelas madames.
Quando pedia o voto da choldra, Cid Gomes prometia um "governo itinerante". Seu itinerário: Madri, Londres, Edimburgo, Dublin, Berlim.
Como ele mesmo já disse: "Meu prazer é fazer as pessoas melhorarem de vida".

AVISO
Nos anos 70 o velho Partido Comunista, apelidado de Partidão, perdeu suas bases universitárias quando começou a pedir moderação aos pequenos grupos de estudantes que brotaram à sua esquerda. (Um bom pedaço dessa garotada envelheceu na direita, mas essa é outra história.) Se a nação petista não tomar cuidado, irá pelo mesmo caminho. O Partidão pegou fama de transigir com a ditadura. O PT pode pegar a de transigir com roubalheiras.

MICO AÉREO
Quando os aviões dos presidentes da Argentina e do Brasil estiverem estacionados no mesmo aeroporto, Nosso Guia pagará o mico da colonização intelectual. Em 2004, ele comprou um Airbus A-319 fabricado na Europa e decorado nos Estados Unidos, ao preço de US$ 56,7 milhões. Cristina Kirchner acaba de comprar um substituto para o "Tango 01". Será um Lineage 1.000, produzido em São José dos Campos pela Embraer. Pagará US$ 43 milhões. A autonomia desse modelo não permite uma travessia do Atlântico.
Lula comprou o Airbus porque queria um brinquedo transoceânico. À época, a Embraer solidarizou-se com ele, avisando que não pretendia fabricar o modelo desejado no próximos cinco anos. Caso raro de defesa de uma compra feita na loja do concorrente.

REPROVADO
O presidente da OAB de São Paulo, doutor Luiz Flávio Borges D'Urso, esclarece: o STF julgou improcedente a ação da Ordem contra a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que rebarbou a indicação de dois candidatos a desembargador, mas "não examinou o mérito das questões envolvendo o notório saber jurídico e ilibada reputação" dos candidatos. D'Urso informa que "a OAB-SP estuda entrar com novo recurso" para desencruar esse aspecto da questão.
Como um dos candidatos havia sido reprovado dez vezes em concursos para juiz ("notório saber") e o outro respondia a processo criminal ("ilibada reputação"), roga-se por todos os santos que a OAB entre com o "novo recurso". Se não o fizer, deixa mal os doutores que indicou. Se o fizer, divertirá a patuléia que acompanha o caso.


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