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Elio Gaspari
Weffort viu a origem da caixa petista
"O sindicato alemão (...) havia enviado algum dinheiro a São Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas!"
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O PROFESSOR Francisco Weffort,
fundador do PT e seu secretário-geral de 1984 a 1988, publicou um surpreendente artigo na edição do "Globo" de terça-feira, intitulado "Lula, o pelego?" Começou com outra pergunta: "Que coisas tão graves
em seus gastos na Presidência estará
Lula procurando esconder da opinião
pública?" Prosseguiu com uma maledicência: "É conhecida a ojeriza de Lula a qualquer controle sobre gastos".
Desembocou numa "historinha de
1980, bem no início do PT", época em
que o professor acompanhou Nosso
Guia numa viagem pela Europa e pelos
Estados Unidos. Uma historinha velha, porém horrível.
Fala Weffort: "Chegando à Alemanha, fomos surpreendidos pela recepção agressiva do secretário-geral do
sindicato alemão dos metalúrgicos. (...)
O sindicato alemão que representava
havia enviado algum dinheiro a São
Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas!" (...) "Em Washington,
tivemos um encontro com representantes da AFL-CIO, e ali repetiu-se o
mesmo constrangimento."
O que Weffort narrou foi o amanhecer dos "recursos não contabilizados"
que viriam a celebrizar o mensalão e a
figura de Delúbio Soares. Em todas as
épocas, o dinheiro andava em malas
companheiras sem passar pelos controles do Estado. Os alemães e os americanos queriam uma prestação e contas, por mais simples que fosse, mal sabiam que nem isso conseguiriam.
Nessa época, Lula dizia que a solidariedade do "povo brasileiro" levara para a caixa dos companheiros algo como
US$ 250 mil. Pode-se suspeitar que os
alemães e a central americana pingaram bem mais que isso.
Weffort nunca participou da máquina arrecadadora de Lula, mas esteve ao
seu lado na viagem de 1980, inclusive
numa reunião com banqueiros e empresários alemães. Ele pode não saber
tudo, mas sabe mais do que contou.
Devia ir fundo, até porque tinha boa
pontaria quando era estilingue na vidraça alheia. Em 1994, o senador Pedro Simon disse numa entrevista que sabia de roubalheiras instaladas na
Comissão de Orçamento da Câmara, e
o professor foi severo: "Se políticos como Simon sabiam, por que não denunciaram?" (...) "O homem honesto calou."
Em 1994, Weffort migrou para o tucanato e durante oito anos foi baronete da Cultura de FFHH. Seu artigo teve uma penosa marca da servidão voluntária. Ele se refere à mulher de Lula
duas vezes. Na primeira, chama-a de
"Marisa". Na segunda, quando ela
acompanha "dona Ruth", mulher de
FFHH, é promovida a "dona Marisa".
O COPOM ESCONDE SUAS DISCUSSÕES
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária,
codinome Copom, elevou os
juros para 11,75%, e o repórter
Ricardo Balthazar publicou
trechos da transcrição de
uma reunião do Federal Reserve Board de 2002. Nela,
Alan Greenspan e seus colegas discutiram o perigo de
uma fuga de capitais do Brasil
caso Lula fosse eleito. Mostra
que o dinheiro injetado pelo
FMI em Pindorama vinha
sendo usado pela banca internacional para fugir do sapo
barbudo.
Além de publicar uma ata
sucinta pouco depois de suas
reuniões, o Fed americano
grava todos os debates, liberando-os para o público cinco
anos depois. (É o único grande Banco Central a fazê-lo.)
O Copom não grava nada.
Nem pretende gravar. Assim,
seus integrantes protegem as
biografias caso digam tolices
durante as reuniões. Podia
gravar para liberar daqui a
cem anos. Nem isso.
Pena, porque os militares
da ditadura gravaram toda a
reunião que jogou o país na
ditadura do AI-5. Fizeram
uma ata (secreta) na qual maquiaram algumas falas, mas
preservaram a fita. Ela está no
Instituto Moreira Salles, para
quem quiser ouvi-la.
ENTRE AMIGO$
Na terça-feira, um magano do
Sistema $ propôs ao ministro da
Educação, Fernando Haddad,
que a discussão do destino dos
R$ 8 bilhões que ele extrai da folha de pagamento da patuléia
fosse encaminhada numa ação
entre amigos, com mudanças nos
estatutos do sistema. Tudo isso
para evitar que o assunto (e as
contas) fossem discutidos e examinados pelo Congresso. Nada
feito. O governo mandará um
projeto de lei à Câmara. Numa
conta do Ministério do Trabalho,
além do R$ 8 bilhões compulsórios, o sistema arrecada mais R$
4 bilhões vendendo serviços.
AEROGOMES
Cid Gomes, governador do
Ceará, torrou R$ 388,5 mil alugando o avião que o levou para
um giro na Europa durante a semana do Carnaval. O doutor diz
que foi buscar investimentos para o Estado. Levou consigo a mulher, a sogra e dois colaboradores
devidamente acompanhados pelas madames.
Quando pedia o voto da choldra, Cid Gomes prometia um
"governo itinerante". Seu itinerário: Madri, Londres, Edimburgo, Dublin, Berlim.
Como ele mesmo já disse:
"Meu prazer é fazer as pessoas
melhorarem de vida".
AVISO
Nos anos 70 o velho Partido
Comunista, apelidado de Partidão, perdeu suas bases universitárias quando começou a pedir
moderação aos pequenos grupos
de estudantes que brotaram à
sua esquerda. (Um bom pedaço
dessa garotada envelheceu na direita, mas essa é outra história.)
Se a nação petista não tomar cuidado, irá pelo mesmo caminho. O
Partidão pegou fama de transigir
com a ditadura. O PT pode pegar
a de transigir com roubalheiras.
MICO AÉREO
Quando os aviões dos presidentes da Argentina e do Brasil
estiverem estacionados no mesmo aeroporto, Nosso Guia pagará o mico da colonização intelectual. Em 2004, ele comprou
um Airbus A-319 fabricado na
Europa e decorado nos Estados
Unidos, ao preço de US$ 56,7
milhões. Cristina Kirchner acaba de comprar um substituto
para o "Tango 01". Será um Lineage 1.000, produzido em São
José dos Campos pela Embraer.
Pagará US$ 43 milhões. A autonomia desse modelo não permite uma travessia do Atlântico.
Lula comprou o Airbus porque queria um brinquedo transoceânico. À época, a Embraer
solidarizou-se com ele, avisando que não pretendia fabricar o
modelo desejado no próximos
cinco anos. Caso raro de defesa
de uma compra feita na loja do
concorrente.
REPROVADO
O presidente da OAB de São
Paulo, doutor Luiz Flávio Borges D'Urso, esclarece: o STF julgou improcedente a ação da Ordem contra a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que
rebarbou a indicação de dois
candidatos a desembargador,
mas "não examinou o mérito
das questões envolvendo o notório saber jurídico e ilibada reputação" dos candidatos. D'Urso informa que "a OAB-SP estuda entrar com novo recurso"
para desencruar esse aspecto da
questão.
Como um dos candidatos havia sido reprovado dez vezes em
concursos para juiz ("notório
saber") e o outro respondia a
processo criminal ("ilibada reputação"), roga-se por todos os
santos que a OAB entre com o
"novo recurso". Se não o fizer,
deixa mal os doutores que indicou. Se o fizer, divertirá a patuléia que acompanha o caso.
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