DA REPORTAGEM LOCAL

O exílio no Chile serviu a Cesar Maia como um selo da militância esquerdista. Essa marca lhe garantiu o retorno à política no Brasil pelos braços do PDT de Leonel Brizola. Mas suas convicções ideológicas mudaram radicalmente nas décadas seguintes. Filiou-se ao PMDB e ao PFL, hoje Democratas. Maia foge da pergunta sobre o acordo com os militares. (CDS)  

FOLHA - O sr. lembra da visita de sua mãe em dezembro de 1972?
CESAR MAIA - Estava com hepatite e fazia parte da estratégia do dr. Heleno Claudio Fragoso para o meu retorno. Quanto à ida dela, não sabia e deve ter sido decidida com o Fragoso. Tática, aliás, que fez parte de todos os meus depoimentos desde 1968.

FOLHA - Pediu a ela que levasse mensagem ao governo do Brasil?
MAIA - Não. Pode ser que o dr. Heleno Fragoso tivesse receio da forma que eu chegaria a Portugal no governo ainda autoritário e quisesse evitar constrangimentos em Lisboa, pois eu viajava sem passaporte brasileiro, com um documento dado pelo governo chileno.

FOLHA - E esse "desencantamento com o esquerdismo"?
MAIA - Na época não havia desencanto algum. Havia um caminho de regresso traçado pelo advogado.

FOLHA - O sr. fez algum tipo de acordo com o regime militar para poder voltar ao Brasil?
MAIA - Fiquei em Lisboa por oito meses, voltei e fui preso no aeroporto.

FOLHA - O sr. fez ou não acordo?
MAIA - Cheguei aqui e fui preso no aeroporto e fiquei três meses preso, esperando o julgamento do último processo. E fui absolvido graças ao dr. Heleno Fragoso.

FOLHA - Comente o arquivamento desse processo?
MAIA - Dr. Fragoso dizia que o STM [Superior Tribunal Militar] acertava e errava, mas era coerente. Repetia como jurisprudência. Eu já havia sido condenado e cumpri a pena de oito meses, num processo. Mas tinha mais dois, pelos quais havia sido preso por mais de um ano. Quando um processo igual ao meu chegou no STM e foi julgado favoravelmente, Fragoso enviou minha mãe ao Chile para combinar o meu retorno.


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