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FHC diz ocupar mesmo
espaço de Blair e Jospin
ANTONIO CAÑO
enviado especial a Brasília
O Brasil, argumenta frequentemente o presidente Fernando
Henrique Cardoso, não é um
país pobre, é um país injusto.
Uns tantos grupos privilegiados, de acordo com sua teoria,
tomaram há décadas o controle
do Estado e converteram-no em
um instrumento que aumentou
a desigualdade.
Pergunta - Existem queixas de
que o Plano Real permitiu que a
economia marche bem, mas que
o povo vive pior. É assim?
Resposta - Creio que nunca foi
feita uma reforma econômica
tão barata como esta. A economia tem crescido sempre. O dado mais preocupante é o nível
de emprego. Contudo, até o ano
passado, a taxa de desemprego
não havia passado de 5% e pouco. Não se trata de um dado
alarmante. Este ano, está subindo um pouco. Ao final do ano, o
índice de desemprego vai estar
um pouco acima de 6%.
Pergunta - O que pretende
corrigir no programa econômico em seu segundo mandato?
Resposta - O programa econômico não está terminado. Para
que se possa manter a inflação
em níveis estáveis e retomar o
crescimento de uns 3% ao ano, é
necessário seguir uma política
estrita de equilíbrio fiscal e o
problema para combater o déficit fiscal é que são necessárias as
reformas estruturais que demoram muito para serem aprovadas pelo Congresso, especialmente a reforma da Previdência.
No setor público, quando alguém se aposentava, ganhava
20% a mais do salário que tinha
na ativa. Isso é insensato. Já foi
eliminado. Agora vou ver se o
Congresso aprova uma reforma
que diga o seguinte: uma pessoa
não poderá aposentar-se se não
contribuir ao menos durante 35
anos para a Previdência Social e
tiver menos de 53 anos. Parece-me muito razoável, mas aqui
é um escândalo.
Pergunta - Suponho que é um
escândalo porque afeta aspectos
essenciais do Estado de bem-estar.
Resposta - Vocês podem falar
de sociedades de bem-estar.
Aqui, o que temos são sociedades de mal-estar. O que quero é
mudar o Estado de mal-estar e
criar um Estado de bem-estar.
Pergunta - Mas parece, pelas
políticas que estão em moda e
que o sr. pratica, que a melhor
maneira de criar um Estado para todos é, simplesmente, eliminar o Estado.
Resposta - Sempre tem que
haver Estado. Sou totalmente
contra as teorias neoliberais.
Não creio que o mercado deva
ser o que decida o futuro. Tem
que haver Estado, principalmente em países como o nosso.
Temos um sistema no qual as
gerações futuras pagam pelo
bem-estar das anteriores.
Pergunta - Em definitivo, neoliberalismo.
Resposta - Não é isso. Blair ou
Jospin são neoliberais? É preciso
reconhecer que o mercado existe, que é importante como instrumento de distribuição de recursos, mas que não é tudo. O
que não pode é um Estado que
intervenha irracionalmente,
que crie condições de desigualdade crescente em nome da
igualdade. Creio que nas sociedades do futuro haverá mais espaços públicos e menos espaços
burocratizados. Isso não é neoliberalismo.
Pergunta - O sr. se situa, então, no mesmo espaço ideológico de Blair e Jospin?
Resposta - E eles também me
situam nesse espaço. Sim, claro.
Blair o disse expressamente. Como (Antonio) Guterres em Portugal. Pensam o mesmo que
penso, grosso modo. Na França,
a situação é um pouco diferente.
Talvez o socialismo francês seja
um pouco mais vinculado às
idéias do Estado.
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