São Paulo, segunda, 20 de abril de 1998

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GUERRILHA
Militar fez afirmação em revista da Força Aérea americana; Aeronáutica diz que não há comprovação
FAB usou Napalm no Araguaia, diz coronel

LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local

Em artigo escrito para a revista "Airpower Journal", da Força Aérea dos EUA, o coronel do Exército Álvaro de Souza Pinheiro, lotado no Estado-Maior das Forças Armadas, afirmou que a Força Aérea Brasileira (FAB) bombardeou com Napalm a serra das Andorinhas (PA) durante o combate à guerrilha do Araguaia (72 a 75).
O Napalm é o combustível resultante da mistura de gasolina com uma resina espessante da palmeira que lhe dá o nome. Queima muito mais lentamente e adere ao alvo destinado. Seu uso - pela crueldade das consequências que provoca - é condenado por organismos internacionais.
O artigo, publicado na edição do segundo trimestre de 95, é o primeiro de um oficial da ativa sobre a guerrilha do Araguaia. Até hoje as Forças Armadas mantêm silêncio oficial sobre o tema.
Pinheiro foi procurado para falar do assunto por meio do Centro de Comunicação Social do Exército. Ele informou que não falaria sobre o caso. A Folha insistiu, mas a resposta não mudou.
Segundo a assessoria, o coronel disse que escreveu o artigo em "caráter pessoal", baseado em pesquisa que fez sobre o tema. Ele não participou dos combates no Araguaia. A Folha apurou que, no momento, ele é candidato a uma promoção ao generalato.
O Centro de Comunicação Social do Exército não respondeu sete perguntas formuladas pela Folha- entre elas uma posição a respeito da afirmação sobre o bombardeio com Napalm.
Consultado, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica respondeu: "Não temos como comprovar se houve ou não o uso de Napalm. Foi feita uma pesquisa e não encontramos nada que comprove essa afirmação". Os dois centros de comunicação consideraram que artigo foi escrito "em caráter pessoal".
O título do artigo em português é "Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o presente e o futuro". O trecho referente ao bombardeio de Napalm aparece no capítulo "A experiência dos anos 70", quando o coronel aborda "uma série de equívocos" das Forças Armadas na primeira campanha contra os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil.
Lê-se: "Uma das primeiras operações efetuadas na área foi uma ação de vasculhamento na única serra existente na região, a serra das Andorinhas, que se caracterizava por não ter cobertura vegetal. Após ser bombardeada com Napalm pela Força Aérea, a serra foi objeto de uma vigorosa ação de cerco e busca efetuada por um grande efetivo. E o resultado foi nulo porque os guerrilheiros nunca lá estiveram".
O artigo- cuja íntegra pode ser encontrada na versão brasileira do "Airpower Journal" na Internet (http://www.cdsar.af. mil/apj-p/ppinheiro.html) - foi escrito durante estágio de aperfeiçoamento profissional nos EUA.
Depois de trecho inicial sobre os primórdios da conquista da Amazônia, Pinheiro se detém na experiência do combate à guerrilha do Araguaia, que considerava "o mais perigoso foco de guerrilha rural no Território Nacional". Na sequência, em capítulo denominado "O presente", conta e analisa o confronto entre as Forças Armadas e os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) - a "Operação Traíra", ocorrida em 1991.
No capítulo final, "O futuro", o coronel avalia os riscos de interesses do Brasil na Amazônia. Lê-se: "(...) fica muito claro que qualquer perspectiva otimista, a curto prazo, é absolutamente irreal. A atual intensidade da presença da narcoguerrilha na Colômbia, no Peru e na Bolívia é de tal ordem que não nos é permitido visualizar um "final feliz', nem a médio prazo, apesar dos extraordinários esforços que vêm sendo desenvolvidos por estes respectivos governos".
Ele comenta movimentos de sem-terra: "Esses conflitos (provocados por reivindicações), que poderão ter ou não conotação ideológica, podem exigir o emprego de força federal, ainda que eventualmente, no combate contra "forças adversas', num contexto de defesa interna (...)".



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