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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento de Luta pela Terra foi criado na Bahia, já atua em 17 Estados e formou acampamentos no sul e no sudeste do Pará
MLT condena invasões e atrai dissidentes do MST
ESTANISLAU MARIA
da Agência Folha, em Curionópolis
"Radicalmente contrário a invasões", como definem seus líderes,
o MLT (Movimento de Luta pela
Terra) já formou acampamentos
no sul e sudeste do Pará e, aos
poucos, vem atraindo dissidentes
do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"Não fazemos oposição ao MST,
nem pretendemos disputar a adesão dos sem-terra. Também queremos a reforma agrária, mas divergimos nos métodos", disse
João Nonato Pereira de Matos, 33,
um dos coordenadores estaduais
do MLT. O próprio Matos militou
no MST e sobreviveu ao massacre
de Eldorado do Carajás (1996).
Criado há dez anos na Bahia, o
MLT, segundo Matos, já atua em
17 Estados e montou acampamentos em Rio Maria (920 km ao sul de
Belém) e Curionópolis (630 km ao
sul de Belém), vizinha a Eldorado.
Em Curionópolis, estão acampadas 4.500 famílias, entre desempregados da cidade, do campo e
ex-garimpeiros de Serra Pelada.
Na aparência, o acampamento é
igual aos do MST: barracos de madeira cobertos de palha ou plástico, miséria e falta generalizada de
infra-estrutura.
"Mas somos contra invasões até
de áreas improdutivas", disse Matos. Segundo ele, o MLT prefere
negociar antes. Atualmente, estão
acampados em áreas públicas mediante acordos com as prefeituras.
Nos futuros assentamentos, o
movimento pretende criar agrovilas para os assentados morarem.
Eles trabalhariam nos lotes ao redor, divididos por família.
Segundo as lideranças, o movimento trabalha em conjunto com
a Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e com os
sindicatos de trabalhadores rurais
-e é ligado ao PC do B.
Os ex-militantes do MST que estão hoje no MLT preferem evitar
dizer os motivos da saída e se limitam à questão das invasões. É o caso do coordenador de grupo Hernani Querino, 27.
"Somos filhos do MST. Não há
porque criar polêmicas", disse
Querino, ex-garimpeiro e também
sobrevivente do massacre.
Na condição de não serem identificados, outros militantes reclamaram de desrespeito às regras internas do MST pelas próprias lideranças, radicalismo e violência nas
invasões. O maior desrespeito seria o consumo de álcool.
"Sair é uma opção dos companheiros. Mas não há violência.
Violenta é situação econômica e
fundiária do país", declarou o
coordenador do MST em Marabá,
Gilmar de Oliveira. "A bebida é
proibida nos acampamentos. Mas
nos assentamentos pode, desde
que o companheiro não se exceda
e não crie confusão", afirmou o líder do assentamento 17 de Abril
(do MST), Márcio Lima.
As regras internas do MLT proíbem, entre outras coisas, álcool,
drogas, criticas públicas ao movimento e "ter atitudes imorais",
sob pena de expulsão. Os líderes
não souberam definir as "atitudes
imorais", mas responderam que
uma militante poderia ser expulsa
caso posasse nua, como a
ex-sem-terra Débora Rodrigues.
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