São Paulo, segunda, 20 de abril de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento de Luta pela Terra foi criado na Bahia, já atua em 17 Estados e formou acampamentos no sul e no sudeste do Pará
MLT condena invasões e atrai dissidentes do MST

ESTANISLAU MARIA
da Agência Folha, em Curionópolis

"Radicalmente contrário a invasões", como definem seus líderes, o MLT (Movimento de Luta pela Terra) já formou acampamentos no sul e sudeste do Pará e, aos poucos, vem atraindo dissidentes do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
"Não fazemos oposição ao MST, nem pretendemos disputar a adesão dos sem-terra. Também queremos a reforma agrária, mas divergimos nos métodos", disse João Nonato Pereira de Matos, 33, um dos coordenadores estaduais do MLT. O próprio Matos militou no MST e sobreviveu ao massacre de Eldorado do Carajás (1996).
Criado há dez anos na Bahia, o MLT, segundo Matos, já atua em 17 Estados e montou acampamentos em Rio Maria (920 km ao sul de Belém) e Curionópolis (630 km ao sul de Belém), vizinha a Eldorado.
Em Curionópolis, estão acampadas 4.500 famílias, entre desempregados da cidade, do campo e ex-garimpeiros de Serra Pelada.
Na aparência, o acampamento é igual aos do MST: barracos de madeira cobertos de palha ou plástico, miséria e falta generalizada de infra-estrutura.
"Mas somos contra invasões até de áreas improdutivas", disse Matos. Segundo ele, o MLT prefere negociar antes. Atualmente, estão acampados em áreas públicas mediante acordos com as prefeituras.
Nos futuros assentamentos, o movimento pretende criar agrovilas para os assentados morarem. Eles trabalhariam nos lotes ao redor, divididos por família.
Segundo as lideranças, o movimento trabalha em conjunto com a Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e com os sindicatos de trabalhadores rurais -e é ligado ao PC do B.
Os ex-militantes do MST que estão hoje no MLT preferem evitar dizer os motivos da saída e se limitam à questão das invasões. É o caso do coordenador de grupo Hernani Querino, 27.
"Somos filhos do MST. Não há porque criar polêmicas", disse Querino, ex-garimpeiro e também sobrevivente do massacre.
Na condição de não serem identificados, outros militantes reclamaram de desrespeito às regras internas do MST pelas próprias lideranças, radicalismo e violência nas invasões. O maior desrespeito seria o consumo de álcool.
"Sair é uma opção dos companheiros. Mas não há violência. Violenta é situação econômica e fundiária do país", declarou o coordenador do MST em Marabá, Gilmar de Oliveira. "A bebida é proibida nos acampamentos. Mas nos assentamentos pode, desde que o companheiro não se exceda e não crie confusão", afirmou o líder do assentamento 17 de Abril (do MST), Márcio Lima.
As regras internas do MLT proíbem, entre outras coisas, álcool, drogas, criticas públicas ao movimento e "ter atitudes imorais", sob pena de expulsão. Os líderes não souberam definir as "atitudes imorais", mas responderam que uma militante poderia ser expulsa caso posasse nua, como a ex-sem-terra Débora Rodrigues.



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