São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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CELSO PINTO
Cauteloso otimismo na Ásia


Washington - As economias em desenvolvimento na Ásia -que cresceram, em média, 2,6% no ano passado- devem crescer 4,4% neste ano. Os cinco países mais afetados -Tailândia, Coréia, Indonésia, Malásia e Filipinas-, cujas economias sofreram uma forte queda de 6,9% em 98 (13,7% no caso indonésio), devem voltar a crescer 0,8% neste ano.
A Coréia, o caso mais espetacular de recuperação, deve sair de uma queda de 5,5%, em 98, para um crescimento de 2% neste ano. Sua Bolsa de Valores mais do que dobrou de valor desde o início do ano passado.
A inflação nos cinco países mais afetados, que subiu 21% em 98, deve crescer apenas 10% neste ano. Os efeitos perversos da desvalorização estão virtualmente absorvidos.
A sucessão de boas notícias estão no "Asian Development Outlook" (Perspectivas do Desenvolvimento Asiático), divulgado ontem, em Washington, pelo Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD). Elas vêm acompanhadas, contudo, de uma série de advertências.
Na verdade, longe de ver a recuperação asiática como a consequência de um processo de ajuste acabado, alguns economistas temem que esteja havendo precipitação por parte do mercado financeiro. O receio é que a rapidez do retorno dos capitais e a valorização dos mercados financeiros gerem complacência por parte dos países asiáticos.
O vide-presidente do BAD, Peter Sullivan, lembrou ontem que, no caso da Coréia, houve progressos na reestruturação do setor bancário, mas resultados "desapontadores" no caso das grandes corporações, os "chaebols". O coreano Jungsoo Lee, economista-chefe do banco, foi mais longe.
Ele acha que o retorno dos investidores internacionais talvez tenha sido estimulado pelos resultados positivos na reforma do setor bancário. Mesmo que a reforma do setor empresarial não tenha acontecido, criou-se a expectativa de que ela acontecerá. O risco é que, se ela não ocorrer, deve haver uma reversão de fluxos. "Sem uma reforma do setor privado, o crescimento não será sustentável", prevê.
Um seminário sobre o mesmo tema, na semana passada, em Washington, chegou a conclusões semelhantes. O receio é que, com a forte entrada de capitais, perca-se a chance de fazer reformas mais profundas e que voltem os problemas. Chegou-se a discutir a necessidade de impor controles sobre a entrada de capitais de curto prazo, como uma forma de evitar a repetição de antigos problemas.
O subdiretor-gerente do FMI, Stanley Fischer, presente no seminário, disse que a instituição pouco pode fazer de concreto. O dilema do FMI, em casos como esse, é complicado. Se começar a fazer advertências públicas sobre a falta de consistência do processo, pode acabar gerando uma nova crise, altamente indesejável. Se se omitir, pode ser acusado, depois, de incompetência.
Além da Coréia, também as Filipinas devem crescer 2,4% neste ano. Tailândia e Malásia podem começar a crescer no final do ano, e a Indonésia deve ficar estagnada, ainda envolta em incertezas políticas.
A China deve manter o crescimento em torno de 7%, e Sullivan não acredita que haverá desvalorização da moeda chinesa.
Um crescimento sustentável depende, ainda, de uma recuperação das exportações, o que ainda não aconteceu. Apesar da reforma no setor bancário, o nível de inadimplência continuou a crescer, para algo entre 20% e 35% do total, na Malásia, Tailândia e Indonésia. No Brasil, esse índice tem andado em torno de 9%.
Em suma, é possível que o pior já tenha passado na Ásia, como sugeriu Sullivan, o que é bom para a economia mundial e para o Brasil. No entanto, persistem incertezas e fragilidades.

Malan e o FMI
O FMI tem um diretor-gerente, Michel Camdessus, um "primeiro" subdiretor-gerente, Stanley Fischer, e dois "segundos" diretores-gerentes, o japonês Shigemitsu Sugiaki e o africano, da Costa do Marfim, Alassane Ouattara. Essa estrutura foi criada em 1994, por Camdessus. Antes disso, havia apenas o diretor-gerente e um subdiretor-gerente.
O contrato de Ouattara com o FMI vence em julho e ele já deu sinais claros de que não deve renová-lo. A vaga, no desenho feito por Camdessus, deve ir para um país emergente, não necessariamente africano.
A disputa já começou, e o México, por exemplo, quer o posto. O Brasil, contudo, é um candidato forte, se entrar firme na briga. Os rumores, em rodas bem informadas das instituições multilaterais em Washington, são de que Pedro Malan poderia ser um bom candidato para o cargo, se quiser.


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