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CELSO PINTO
Cauteloso otimismo na Ásia
Washington - As economias em
desenvolvimento na Ásia -que
cresceram, em média, 2,6% no
ano passado- devem crescer
4,4% neste ano. Os cinco países
mais afetados -Tailândia, Coréia, Indonésia, Malásia e Filipinas-, cujas economias sofreram
uma forte queda de 6,9% em 98
(13,7% no caso indonésio), devem
voltar a crescer 0,8% neste ano.
A Coréia, o caso mais espetacular de recuperação, deve sair de
uma queda de 5,5%, em 98, para
um crescimento de 2% neste ano.
Sua Bolsa de Valores mais do que
dobrou de valor desde o início do
ano passado.
A inflação nos cinco países mais
afetados, que subiu 21% em 98,
deve crescer apenas 10% neste
ano. Os efeitos perversos da desvalorização estão virtualmente
absorvidos.
A sucessão de boas notícias estão no "Asian Development Outlook" (Perspectivas do Desenvolvimento Asiático), divulgado ontem, em Washington, pelo Banco
Asiático de Desenvolvimento
(BAD). Elas vêm acompanhadas,
contudo, de uma série de advertências.
Na verdade, longe de ver a recuperação asiática como a consequência de um processo de ajuste
acabado, alguns economistas temem que esteja havendo precipitação por parte do mercado financeiro. O receio é que a rapidez
do retorno dos capitais e a valorização dos mercados financeiros
gerem complacência por parte dos
países asiáticos.
O vide-presidente do BAD, Peter
Sullivan, lembrou ontem que, no
caso da Coréia, houve progressos
na reestruturação do setor bancário, mas resultados "desapontadores" no caso das grandes corporações, os "chaebols". O coreano
Jungsoo Lee, economista-chefe do
banco, foi mais longe.
Ele acha que o retorno dos investidores internacionais talvez
tenha sido estimulado pelos resultados positivos na reforma do setor bancário. Mesmo que a reforma do setor empresarial não tenha acontecido, criou-se a expectativa de que ela acontecerá. O
risco é que, se ela não ocorrer, deve haver uma reversão de fluxos.
"Sem uma reforma do setor privado, o crescimento não será sustentável", prevê.
Um seminário sobre o mesmo
tema, na semana passada, em
Washington, chegou a conclusões
semelhantes. O receio é que, com a
forte entrada de capitais, perca-se
a chance de fazer reformas mais
profundas e que voltem os problemas. Chegou-se a discutir a necessidade de impor controles sobre a
entrada de capitais de curto prazo, como uma forma de evitar a
repetição de antigos problemas.
O subdiretor-gerente do FMI,
Stanley Fischer, presente no seminário, disse que a instituição pouco pode fazer de concreto. O dilema do FMI, em casos como esse, é
complicado. Se começar a fazer
advertências públicas sobre a falta de consistência do processo, pode acabar gerando uma nova crise, altamente indesejável. Se se
omitir, pode ser acusado, depois,
de incompetência.
Além da Coréia, também as Filipinas devem crescer 2,4% neste
ano. Tailândia e Malásia podem
começar a crescer no final do ano,
e a Indonésia deve ficar estagnada, ainda envolta em incertezas
políticas.
A China deve manter o crescimento em torno de 7%, e Sullivan
não acredita que haverá desvalorização da moeda chinesa.
Um crescimento sustentável depende, ainda, de uma recuperação das exportações, o que ainda
não aconteceu. Apesar da reforma no setor bancário, o nível de
inadimplência continuou a crescer, para algo entre 20% e 35% do
total, na Malásia, Tailândia e Indonésia. No Brasil, esse índice tem
andado em torno de 9%.
Em suma, é possível que o pior já
tenha passado na Ásia, como sugeriu Sullivan, o que é bom para a
economia mundial e para o Brasil. No entanto, persistem incertezas e fragilidades.
Malan e o FMI
O FMI tem um diretor-gerente,
Michel Camdessus, um "primeiro" subdiretor-gerente, Stanley
Fischer, e dois "segundos" diretores-gerentes, o japonês Shigemitsu Sugiaki e o africano, da Costa
do Marfim, Alassane Ouattara.
Essa estrutura foi criada em 1994,
por Camdessus. Antes disso, havia
apenas o diretor-gerente e um
subdiretor-gerente.
O contrato de Ouattara com o
FMI vence em julho e ele já deu sinais claros de que não deve renová-lo. A vaga, no desenho feito
por Camdessus, deve ir para um
país emergente, não necessariamente africano.
A disputa já começou, e o México, por exemplo, quer o posto. O
Brasil, contudo, é um candidato
forte, se entrar firme na briga. Os
rumores, em rodas bem informadas das instituições multilaterais
em Washington, são de que Pedro
Malan poderia ser um bom candidato para o cargo, se quiser.
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